No verão de 2017, eu estava me formando em Harvard e me mudando para os Estados Unidos para me juntar a dois amigos meus de 22 anos – outros brasileiros – que haviam acabado de fundar sua segunda empresa – a Brex. Naquela época, éramos apenas nós três trabalhando em um quartinho na casa do Henrique. Só cabiam duas mesas – então o Henrique trabalhava do sofá.
Três anos depois, a Brex tem mais de 500 funcionários, um dos crescimentos mais rápidos na história do vale, e uma avaliação de US$ 2,6 bilhões. “Como vocês cresceram tanto tão rápido?” é uma pergunta que recebemos frequentemente. E embora existam muitas respostas certas para essa pergunta, há uma que vem à mente sempre: o nosso time executivo.
O Henrique e o Pedro estavam fundando uma fintech pela segunda vez. Eles começaram o Pagar.Me no Brasil quando tinham dezesseis anos. A empresa foi posteriormente adquirida pela Stone – que abriu seu capital em 2018. Tanto o Henrique como o Pedro aprenderam a programar sozinhos desde muito jovens, ambos tinham um background técnico muito forte. O Pedro construiu todo o código inicial da Brex do zero sozinho. Henrique parou de programar à medida que a primeira empresa estava crescendo, mas desenvolveu uma capacidade incomparável de vender qualquer coisa para qualquer pessoa.
O sistema de pagamentos nos Estados Unidos, no entanto, era um animal totalmente novo – e muito mais assustador. Para navegá-lo precisaríamos trazer gente com experiência na indústria de Tech especificamente voltada para finanças e compliance. Então a busca pelos primeiros membros do time começou.
Precisávamos encontrar pessoas que já tivessem feito antes muito do que estávamos tentando fazer. Várias entrevistas e incontáveis horas depois, finalmente encontramos nosso CFO e nosso Chefe de Compliance. Michael era o Chief Revenue Office da “Fintech Titan” SoFi e geria todo o seu P&L. Ele foi peça chave durante os anos de escalada dessa companhia. Já o Vince foi o segundo advogado do Stripe. Lá, ele contribuiu na construção e crescimento de uma organização de compliance bem robusta – um passo crucial para chegar no Stripe de $ 35B que conhecemos hoje.
Michael e Vince eram personalidades opostas de uma história semelhante: dois executivos talentosos que construíram e escalaram uma organização importante dentro de uma Fintech de muito sucesso. Esperávamos que fossem fundamentais para levar a Brex do ponto ‘A’ (início) ao ponto ‘B’ (escala) – o mais rápido e assertivamente possível. E isso é exatamente o que eles fizeram.
À medida que crescíamos, a fórmula se repetia. Contratamos o ex-chefe de engenharia do Stripe para liderar toda a nossa equipe técnica. O ex-chefe de vendas da Zenefits – uma empresa que enfrentou grandes desafios com seu próprio hipercrescimento. Contratamos o chefe de gente da Uber e mais recentemente a Chefe de Marketing do Spotify. Por ja ter construído uma organização similar antes em outra empresa que se tornou bem sucedida, essas pessoas já sabiam exatamente que erros evitar, quem contratar em seguida, e – em resumo – qual o melhor e mais rápido caminho para o crescimento.
Trazer esse calibre de talentos a bordo ficou menos difícil conforme crescemos e o nome Brex se tornou mais conhecido. Também sempre estivemos cientes de que cada um desses executivos poderia representar a diferença entre a nossa empresa “chegar lá” ou não. O conselho que damos aos fundadores que desejam fazer o mesmo é estar disposto a dar a compensação necessária para conseguir uma contratação crítica a bordo. Aproveite também sua rede de investidores e assessores para captar recomendações e convencer esses executivos. É importante ressaltar também que – especialmente nos estágios iniciais da empresa – contratar um time forte é uma tarefa que exige muito tempo (e atenção).
Sabemos, no entanto, que esse perfil é mais comum de ser encontrado em ecossistemas de tecnologia mais maduros. Em países como o Brasil ou cidades dos EUA fora dos centros de tecnologia tradicionais, esses são muito mais difíceis de encontrar – embora isso esteja mudando lenta, mas seguramente à medida que as startups amadurecem. Essa escassez torna essas descobertas muito mais valiosas e sua dedicação ao assunto, muito mais importante.
Apesar do contexto, o trabalho a distância cria oportunidades
Assim como muitas startups em todo o mundo, a pandemia nos levou a tomar um passo importante. Abandonamos as fronteiras físicas do escritório para criar um ambiente de trabalho limitado apenas pelo vasto alcance da internet, a língua inglesa e ao fuso horário. Apesar do contexto difícil que promoveu essa mudança, os ganhos que essa transformação viabiliza para startups em todo o mundo, em especial as Brasileiras, são inestimáveis.
Os talentos e conhecimentos dos Executivos de Startup Vale do Silício nunca estiveram tão acessíveis quanto agora. Incentivar a contratação ou até mesmo o simples contato, através de palestras virtuais, por exemplo, promove uma troca interessante de experiências e conhecimentos. Caso tenham recursos, também é um momento propício para startups contratarem Executivos com esse perfil ímpar, difícil de encontrar em outros lugares que não o Vale.
Por Larissa Maranhão Rocha, primeira contratada da startup Brex, um dos maiores cases de sucesso do Vale do Silício