Da psicanalista, Leila Cristina
Desde o início da pandemia a maioria das pessoas ficou em casa de quarentena e, consequentemente, como uma forma de continuar a trabalhar passou para o home office, de início muito rejeitado, mas com o tempo aceito e se tornando uma opção para muitas pessoas, ficando claro que com a pandemia da Covid 19 a rotina de trabalho de muitos profissionais liberais e empresas, inclusive de escolas e universidades mudaria.
Este fato trouxe muito sofrimento, palavra que recebeu diferentes significados ao longo da história. Seja como consequência do pecado judaico-cristão (passando pela bruxaria medieval), ou mesmo como castigo imputado pelos Deuses da Antiga Grécia, a humanidade sempre buscou um significado para o sofrimento. Na sua origem, a palavra “sofrimento” deriva do grego pathos, apontando para aquilo que afeta o homem.
Agora estamos vivendo um novo tempo, de retorno ao trabalho presencial onde muitos terão que enfrentar certos desconfortos como o trânsito para ir e voltar ao trabalho, a dificuldade de administrar a rotina da casa e dos filhos e o principal: o medo. Existe até uma sigla para explicar esse medo: FORTO que significa “Fear of Returning to Office” (Medo de voltar ao escritório).
Sabemos que um dos efeitos colaterais da pandemia foi o aumento significativo dos transtornos mentais como a ansiedade no trabalho e em casa, depressão, solidão em função do isolamento, luto pela perda de parentes ou amigos, dificuldades financeiras, medo de perder o emprego, insegurança, medo de se contaminar ou contaminar um ente querido, de morrer ou que alguém próximo morresse, incertezas quanto ao futuro e até de reencontrar as pessoas.
Esse medo veio seguido de sintomas como: aceleração dos batimentos cardíacos, insônia, nervosismo, grande aumento no consumo de álcool e tranquilizantes e preocupações excessivas.
Em 1895 Freud ao descrever a neurose de angústia deu a essa um novo status. Ele desenvolveu sucessivamente pelo menos duas teorias sobre esse tema, assim como um recorte desse abundante vocabulário do medo (sinônimos: pavor, temor, terror, pânico, susto, fobia, horror, amedrontamento, apavoramento, aterramento, aversão, ojeriza, repugnância, receio, apreensão, preocupação, ansiedade, inquietação, aflição, desassossego, inquietude, angústia, consumição).
Em 1926 Freud propôs uma segunda teoria da angústia: ele inverte sua proposição inicial e diz: “não é o recalcamento que faz a angústia, mas sim a angústia é que faz o recalcamento”. Porque a angústia sobrevém inicialmente diante de um perigo extremo e ameaçador.
A contribuição da psicanálise para o campo da saúde do trabalhador é nos permitir abordar as diversas formações sintomáticas sem origem orgânica, com base em uma lógica da singularidade de cada sujeito, considerando os significantes que marcam a história de vida de cada trabalhador. A psicanálise não promete o fim da angústia. Ela permite viver com a angústia que é a marca da nossa condição, da nossa finitude e da nossa paradoxal liberdade.
Como aliviar os sintomas? Cada pessoa irá reagir de uma maneira, mas ter uma visão positiva do retorno ao trabalho presencial pode ajudar.
Adoção de hábitos de vida saudáveis, como alimentação equilibrada e exercícios físicos regulares. O exercício físico gera efeitos, altera a química cerebral, com produção de dopamina, endorfina e é um grande ajudante para a pessoa que está nessa situação.