Reputação: na ausência do foro privilegiado, cuide bem da sua
A cantora pop Taylor Swift anunciou recentemente o lançamento de seu próximo álbum, intitulado Reputation – em tradução livre, “Reputação”. É claro que a primeira música lançada aborda diretamente os acontecimentos recentes que lançaram uma sombra na reputação construída pela cantora nos últimos anos, o que nos faz pensar sobre a importância da reputação em nossas vidas.
Artistas como Taylor Swift e vários outros estão acostumados a cuidar de sua reputação, pois, no seu caso, trata-se de um valor explicitamente ligado à carreira que escolheram. Artistas com uma reputação ruim, por mais que sejam talentosos, acabam perdendo fãs, seguidores e contratos. A imagem é um dos ativos mais importantes para o mundo pop. Sem isso, é impossível manter-se ativo, e o ostracismo é o caminho mais provável.
O mesmo se passa com outras celebridades como esportistas famosos, sempre alvos de histórias falsas ou verdadeiras que podem detonar suas chances de conseguir contratos polpudos. Durante a Olímpiada do Rio de Janeiro (2016), o atleta norte-americano de natação Ryan Lochte se envolveu em problemas na cidade e tentou culpar as autoridades brasileiras. Depois de desmascarado em sua mentira, ao voltar para seu país, teve que arcar com enormes prejuízos para sua carreira.
Os políticos brasileiros com sua reputação dia a dia mais enlameada, contam não apenas com profissionais de marketing caríssimos para cuidar de sua imagem, mas têm o que nós mortais não temos: o famoso foro privilegiado. O mecanismo jurídico que os protege das últimas consequências que as máculas em sua reputação poderiam causar – a prisão.
Fora do mundo das celebridades e da política, no entanto, a realidade é outra, pois contamos basicamente conosco para formar, proteger ou mudar nossa reputação. A maioria de nós não conta com uma equipe de profissionais dedicados a proteger nossa reputação o tempo todo, como Taylor Swift, muito menos com o foro privilegiado dos políticos. Por isso, é muito importante entendermos o que é reputação, sua importância e como cuidar dela.
Afinal, o que é reputação?
Segundo uma das maiores autoridades sobre a psicologia da Personalidade, Dr. Robert Hogan, podemos falar sobre personalidade sob duas perspectivas: a identidade que é a visão do ator – a história que contamos aos outros sobre nós mesmos ou “o eu que eu acho que sou”, e a visão do observador sobre nossos comportamentos e atitudes, que formam nossa reputação – “o eu como os outros nos descrevem”.
Ainda segundo Dr. Hogan, a espécie humana compartilha em qualquer cultura ou tempo, duas motivações básicas: sermos aceitos nos grupos em que vivemos e nos destacarmos em suas hierarquias. Qual seria a visão sobre personalidade que têm mais impacto sobre aquelas motivações essenciais de nossa espécie?
O que achamos ou a história que contamos sobre nós mesmos pode servir para nossas introspecções solitárias, para sessões de psicanálise ou para nos gabarmos diante de amigos ou paqueras. No entanto, no final do dia, ou na hora da avaliação de desempenho, é a percepção que os outros têm sobre nós que determinará nosso sucesso ou fracasso na satisfação daquelas duas necessidades básicas para nossas vidas.
Por que a reputação é seu ativo mais importante
Em um de seus artigos, o psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic, CEO da Hogan Assessments, afirmou que líderes e funcionários em geral, considerados de alto desempenho, tendem a ter mais consciência de sua reputação. Conclusão semelhante resultou de pesquisa da Korn-Ferry, que indicou que a busca do autoconhecimento é uma das mais importantes características das pessoas consideradas “Altos Potenciais” em suas empresas.
Infelizmente, a correlação entre nossa identidade e nossa reputação é bem inferior ao que gostaríamos. Nem sempre os outros veem todas nossas grandes qualidades e até veem defeitos que não vemos ou não queremos ver em nós mesmos. Quando há um descolamento entre o que acho de mim e o que o resto do mundo acha, é que temos dificuldade para fazer ajustes em nossa imagem ou reputação.
A defasagem entre nossa identidade e nossa reputação só pode ser minimizada se buscarmos conhecer genuinamente como somos percebidos pelos outros. Você já parou para pensar sobre como as pessoas enxergam você dentro e fora do ambiente de trabalho? A maioria das pessoas adora ouvir sobre suas qualidades, mas minimiza ou ignora seus pontos fracos, e isso pode ser um grande obstáculo para seu desenvolvimento.
“Nossos cérebros são equipados com um mecanismo padrão para filtrar fatos desagradáveis e exagerar até os menores elogios: somos nossa melhor máquina de propaganda, mas apenas porque somos nossa principal audiência”, afirma o CEO da Hogan Assessments. De acordo com o psicólogo, isso explica porque somos tão relutantes em buscar e aceitar feedbacks de pessoas que nos criticam.
Por isso, a maioria das pessoas desconhece sua própria reputação, especialmente porque não dá muita importância para o que os outros pensam sobre elas. Mesmo que você seja extremamente talentoso, fantasiar uma reputação ou simplesmente ignorar o que outras pessoas pensam de você pode trazer sérias consequências. O autoconhecimento estratégico é a chave que nos permite obter insights valiosos sobre como nossos comportamentos, atitudes e hábitos são percebidos pelos outros. As percepções e opiniões de todos — da “tia do cafezinho” ao chefe que cuida de nossa avaliação anual — contribuem com uma parte do mosaico que compõe nossa personalidade ou reputação.
Como posso saber o que as pessoas pensam de mim?
Nós vivemos nos dias de hoje em um mundo intensa e intimamente conectado. A exposição nas mídias sociais — LinkedIn, Facebook, Twitter, Instagram, etc — não deixa de ser opcional, porém entre o ostracismo digital e arriscar-se a ameaças da nossa privacidade, a última é escolhida com mais frequência. Com nossa imagem online e offline cada vez mais escancarada, recebemos feedbacks a todo instante por meio de “curtidas”, emojis e recomendações sobre nossas competências. Queiramos ou não, nossa imagem digital impacta diretamente nossa reputação real perante recrutadores e futuros colegas e chefes.
Um exemplo simples disso é o Saharah, outro aplicativo da moda em que os usuários criam um perfil para receber feedbacks anônimos sobre sua personalidade e já ganhou a fama de ser um meio para críticas e fofocas. Também no mundo corporativo, surgem aplicativos, como o Feedback House, que visam facilitar e intensificar a troca de feedbacks profissionais contínuos entre chefes e subordinados e entre colegas. Não há dúvida, o feedback construtivo é a fonte de energia que alimenta o ajuste de nossa reputação.
No ambiente de trabalho, no entanto, não precisamos de tecnologias para entender e cuidar de nossa reputação. Para buscar o autoconhecimento, basta procurar e estar aberto aos feedbacks de mentores, líderes, colegas e subordinados, se ocuparmos um cargo de liderança, absorvendo não apenas as boas notícias, mas também as mais desagradáveis. Estas são as que têm o maior potencial de estagnar ou impulsionar nosso crescimento na carreira, dependendo de nossa atitude.
E você, já decidiu o que vai tocar no álbum de sua reputação?
Por Roberto Santos, sócio-diretor da Ateliê RH
Imagem:Pixabay