O home office popularizou-se como modalidade de trabalho no Brasil e no mundo. As empresas tiveram que se adaptar de maneira muito rápida e os brasileiros gostariam de permanecer no teletrabalho. É o que aponta a pesquisa ‘Satisfação e Desempenho na Migração para o Home Office’*, feita com 1.300 respondentes, abrangendo profissionais com alta qualificação e renda elevada.
Para 70% dos brasileiros entrevistados, há o desejo de continuar a trabalhar em casa e, segundo especialistas, as razões se justificam pelo fato de os participantes estarem trabalhando em um contexto de desemprego, por se sentirem mais seguros em relação à própria saúde e por terem mais tempo, pois não precisam se deslocar.
Entretanto, uma das dúvidas que surgem está relacionada à produtividade, principalmente no que se refere à criatividade. Será possível mantê-la trabalhando em casa em tempos de pandemia?
Em primeiro lugar, é preciso compreender o conceito de criatividade. Muitos a associam ao dom, à dádiva ou à sorte. Existe uma influência direta desses atributos, mas já é bem aceita a ideia de que criatividade é competência e, por isso, pode ser desenvolvida e que recursos, cultura e processo a impulsionam.
Para Cesar Akira Yokomizo, coordenador pedagógico e professor dos cursos de pós-graduação em Gestão de Negócios e Gestão Estratégica da Inovação do Senac São Paulo, a criatividade é potencialmente mais poderosa na construção de novas soluções quando desenvolvida coletivamente. “Existem relatos de alguém com metade de uma ideia e outro alguém com a outra metade da ideia: sem que as partes interajam, a ideia simplesmente não se completa e nada se constrói. Portanto, mesmo em tempos de isolamento social e com o trabalho remoto, manter-se conectado e interagir ainda é o melhor caminho para a criatividade. Criar esses encontros, ainda que virtuais, é papel dos líderes e tais sessões serão ainda mais produtivas conforme foco e método que forem empregados”, afirma Cesar Akira.
Desafios do novo cotidiano
Neste cenário repleto de incertezas, líderes e liderados estão sobrecarregados de atividades operacionais e sendo pressionados por resultados. Como consequência, profissionais estão, cada vez mais, estressados e esgotados, estados que não combinam com imaginação, com novas soluções. Desapegar-se do cotidiano, experimentar novas formas, permitir-se errar favorecem o processo criativo.
Segundo o professor do Senac São Paulo, as lideranças devem estabelecer mecanismos para tirar os colaboradores desse estado de esgotamento, ainda que de forma pontual. “Por exemplo, com minha equipe de trabalho, estabelecemos que, às sextas-feiras à tarde, será nosso momento de criatividade e inovação. Além de ser um momento riquíssimo de construção coletiva, tem servido como excelente oportunidade de descompressão: as pessoas saem mais ‘leves’ para o final de semana e se sentem úteis ao contribuir para o desenvolvimento de uma solução”, acrescenta.
A questão dos processos também deve estar no radar, pois é improvável que um mesmo processo, executado da mesma maneira, gere resultados diferentes. Quando o senso crítico encontra o ambiente favorável, resultados incríveis podem ser esperados. Quando profissionais competentes, caracterizados pelo incômodo permanente, estão sob a tutela de um líder que promova um ambiente receptivo para que novas ideias sejam postas em prática, experimentadas e implantadas, a criatividade e a inovação podem florescer. Portanto, criatividade aplicada é sempre uma questão de pessoas certas, no lugar certo, no momento certo e, principalmente, interagindo de forma certa.
Por fim, importante esclarecer que criatividade e produtividade não são conceitos antagônicos, mas complementares. Equipes mais criativas e inovadoras são naturalmente mais eficazes por um motivo muito simples: criatividade e inovação levam às soluções que aumentam a produtividade. “Quando as lideranças conseguirem verdadeiramente praticar essa relação complementar, não haverá mais a disputa entre criatividade e produtividade, mas alocação de recursos para criatividade e, como consequência, a equipe terá mais eficiência”, finaliza Cesar Akira.
* Fonte:
https://jornal.usp.br/ciencias/estudo-mostra-70-das-pessoas-gostariam-de-continuar-no-home-office/