O setor de planos odontológicos passa por muitos desafios. Alguns deles foram comentados durante a apresentação do consultor Fernando Botelho, da Tendências Consultoria, durante a 11ª edição do Simpósio Internacional de Planos Odontológicos (SINPLO), em que comentou o cenário econômico, a queda da inflação, o mercado de trabalho, a taxa de juros, o câmbio e as reservas, entre outros assuntos.
“O tema do evento (Oportunidades em Tempos de Crise) está alinhado ao momento de instabilidade social e econômica que estamos presenciando e que tem trazido dificuldades não só para os operadores de saúde suplementar como para todo o empresariado”, comentou o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), Geraldo de Almeida Lima. “E neste cenário, necessitamos antecipar tendências para, se necessário, reestruturar nosso negócio”, completou.
A começar pelas diferenças entre os planos odontológicos e os médicos, a mais importante é que o tíquete médio dos planos odontológicos é mais acessível e, além dos riscos serem menores, o usuário adere ao plano no período do tratamento. Porém, a operadora cumpre as mesmas exigências de obrigações regulatórias, o que gera pressão em custos administrativos e de comercialização, que consomem 37% do faturamento. “O regulador deveria ser mais sensível a essas diferenças”, comenta o consultor Fernando Botelho.
Enquanto o cenário não muda, o consultor sugere alternativas como prontuário eletrônico dos pacientes, ranking de prestadores de clínicas e consultórios odontológicos, transparência na formulação do rol de procedimentos e maior publicidade a indicadores dos planos. Além disso, é necessário a discussão da adoção de modelos de remuneração das clínicas e consultórios baseados em DRG (Diagnosis-Related Groups), de remuneração de prestadores baseados em pay for performance e de pagamento de “franquia” por pacientes.
O consultor da Tendências também ressalta a importância de facilitar arranjos que favoreçam cooperação entre planos que operem em diferentes praças, instrumentos que facilitem a troca entre os planos de saúde pelas famílias, redução de barreiras residuais à entrada de competidores, compartilhamento de serviços, regulação prudencial proporcional aos riscos envolvidos e multas e sanções proporcionais ao tíquete dos planos. “Para um crescimento sustentável, precisa resolver problemas estruturais”, comenta Botelho, baseando-se nas questões tributárias, gargalos na infraestrutura, mobilidade urbana e custo previdenciário.
Os dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para o 1º trimestre de 2016 já dão sinais de que houve desaceleração na contratação dos planos de saúde e, principalmente, na saída de beneficiários tanto dos planos médicos quanto dos odontológicos (redução de 1,25% comparado aos números de dezembro de 2015), em grande parte causada pelo aumento da taxa de desemprego.
A curto prazo temos a possibilidade de mudança de governo, que pode melhorar o ambiente econômico com mudança de comando e sinalização de agenda econômica mais reformista e pró-investimentos. Entretanto, desafios são significativos, especialmente em relação ao turbulento quadro político e à situação fiscal crítica. “O ano de 2016 está comprometido, mas a economia deve voltar a crescer de forma moderada em 2017 e 2018”, comenta Botelho.
No entanto, a médio e longo prazos, reformas são fundamentais. Já que o Brasil possui limitações estruturais cada vez mais evidentes. A crise atual tem sido importante para ilustrar as questões que devem ser enfrentadas inevitavelmente, como baixa produtividade, gargalos na infraestrutura e custo da previdência. Na ausência de grandes mudanças estruturais, o crescimento potencial estimado gira em torno de 2,2%.
Em relação ao PIB, o consultor lembra que o desempenho da economia em 2016 está comprometido pela deterioração adicional ocorrida nos últimos meses e pelo tempo demandado até a definição do quadro político. A confirmação da mudança de governo deve gerar melhora de ambiente a partir do segundo semestre, favorecendo estabilização da atividade.
Tal fato, em conjunto com maior ociosidade de fatores e base frágil, abre a possibilidade de retomada moderada do crescimento em 2017 e 2018. E com essa dinâmica da retomada contida nas projeções de PIB aponta uma recuperação bastante lenta, em um cenário mais conservador. “Assim como o que aconteceu em países em guerra, a queda do PIB em 6%, com uma população que cresce 0,8%”, comenta Botelho.
Em relação ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego medida pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) atingiu 9,5% no trimestre encerrado em janeiro (de 6,8% há um ano). “Segundo nossos cálculos, a taxa de desempregados deve atingir dois dígitos já em fevereiro, com expectativa de 10,4%”, comenta Botelho. Para dezembro de 2016, projetamos taxa de desocupação de 11,7%, fechando 2016 com desocupação média de 10,9%. “Este crescimento deve se concentrar na indústria”.
Após atingir dois dígitos em 2015, a inflação mantém trajetória de gradual desaceleração ao longo deste ano. No caso dos preços ao consumidor, a mudança de bandeira tarifária em energia elétrica e a incipiente desaceleração dos preços de serviços favorecem baixa, limitada pela inércia ainda elevada. Já a taxa de câmbio e política fiscal agregam incertezas à dinâmica da inflação, estando relacionados ao contexto político.
Sobre a política monetária, o consultor comenta que o Copom (Comissão de Política Monetária), tem reiterado que não há espaço para corte de juros no curto prazo. Expectativas acima da meta, efeito inercial e situação fiscal são limitantes. Entretanto, com a economia bastante fragilizada, gradual recuo da inflação e eventual manutenção do câmbio mais baixo devem proporcionar redução da taxa Selic no segundo semestre.
A taxa de câmbio reflete de forma bastante clara o peso do fator político, cujo cenário de curto e médio prazos será condicionado pela permanência ou não do governo. Caso o impeachment se materialize, a taxa de câmbio deve cair no curto prazo para cerca de R$ 3,50 ou ligeiramente abaixo. Caso o impeachment não se materialize, a taxa de câmbio deve subir no curto prazo e ultrapassar novamente os R$ 4,00. “Neste cenário básico, a economia é estabilizada ao final deste ano e retoma lento crescimento a partir de 2017. Mercados reagem positivamente. Porém, a manutenção de riscos ao governo Temer amplia dúvidas sobre quadro pós-impeachment. O otimismo excessivo deve ser evitado.”
Dados de 2015:
- 3,8% de crescimento do número de beneficiários de planos exclusivamente odontológicos.
- 11,3% de taxa de cobertura de planos exclusivamente odontológicos na população.
- 22,5 bilhões de beneficiários de planos odontológicos.
- 2,6% de expectativa de crescimento esperado para 2016.