Passados dois anos de pandemia, o modelo híbrido de trabalho começa a se consolidar em boa parte das empresas. Pesquisas indicam que a combinação de atividades presenciais e remotas tem ganhado adeptos nas duas pontas: tanto por parte das lideranças quanto dos colaboradores, e os motivos já são amplamente conhecidos: menos tempo gasto com deslocamento pelas cidades, menos custos envolvidos, mais tempo livre e, consequentemente, mais qualidade de vida.
A possibilidade de trabalhar de qualquer lugar com acesso à internet abriu um mundo de oportunidades para quem conta com esse privilégio. Sou uma dessas pessoas e posso testemunhar os efeitos práticos dessa mudança de estilo de vida. Há cerca de um ano deixei São Paulo rumo ao litoral e hoje vivo alguns dias aqui e outros acolá, no escritório da Trilha Carreira. É inegável que a transição trouxe inúmeros benefícios de ordem pessoal, mas, recorrendo ao ditado, nem tudo são flores.
Após a adoção em larga escala do home office, um movimento que sempre esteve enraizado na cabeça de muita gente ganhou fôlego: são as “fantasias do anywhere office” – ou seja, algumas ilusões alimentadas por profissionais acerca das vantagens de poder trabalhar de qualquer lugar, por exemplo, da praia. À medida que as empresas passaram a flexibilizar o trabalho presencial, o que era um conceito vago virou realidade em poucos meses, e muitos embarcaram nessa tendência com um olhar romântico demais…
Morar na praia e trabalhar alguns dias em casa é bom, mas não significa viver com sombra e água fresca o tempo todo. Ao menos no meu caso, conto nos dedos as oportunidades que tive para dar um mergulho no mar em pleno expediente porque o grande volume de trabalho, as diversas reuniões online, e os compromissos do dia a dia não permitem tamanha flexibilidade. A verdade é que de segunda a sexta, o que muda é a paisagem ao redor e as possibilidades nos horários alternativos ao período comercial.
E vale sempre o alerta: trabalho remoto também pode ser estafante. Não são raros os relatos de pessoas que pisam demais no acelerador quando estão em casa, chegam a perder a noção do horário, e se sentem sobrecarregadas. Além disso, a ausência completa do escritório pode afetar a sociabilidade, atrapalhar a integração com as equipes e prejudicar a criatividade que bate durante um almoço ou no bate-papo do cafezinho. Por isso, sou adepto do modelo híbrido.
Aos aventureiros que buscam mudar de ares para ter mais qualidade de vida, o meu conselho é: tenha cuidado com as fantasias que cercam esta decisão. No caso do trabalho remoto, a mudança de cidade ou de país deve ser feita com planejamento e com a consciência de que quem está de mudança é o profissional, e não a empresa. O trabalho deve ser encarado com a mesma responsabilidade de sempre, seja na sala de reunião, no sofá de casa ou no quiosque da praia.
Opinião – Bruno Martins é CEO da Trilha Carreira Interativa.