Quando falamos na palavra saúde, é difícil não pensar que esta é apenas a ausência de doença. Por outro lado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde seria um estado completo de bem-estar, tanto mental quanto social, e não apenas a falta de problemas de saúde. Esta definição pode, por muitas vezes, ser um pouco utópica ou algo inatingível devido aos inúmeros fatores como envelhecimento, maus hábitos de vida, falta de tempo para atividades físicas ou, então, falta de capital.
Este cenário pode explicar o motivo pelo qual as empresas investem na gestão de saúde dos colaboradores e, muitas vezes, usam o benefício dos planos de saúde para atrair e reter funcionários. Uma boa e ampla assistência médica pode engajar o funcionário na empresa e um colaborador saudável e feliz, consequentemente, é mais produtivo. Mas, atualmente, o que seria uma estratégia positiva para as empresas está se transformando em grandes rombos no departamento financeiro.
Segundo a ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), 81% das empresas analisam os custos com planos de saúde como um desafio a ser resolvido. Uma vez que o benefício é o segundo maior custo do RH, perdendo apenas para a folha de pagamento. Assim, desenvolver um modelo sustentável de gestão de saúde tornou-se um desafio para os gestores de Recursos Humanos e empregadores.
O cuidado na saúde primária é um aliado para as empresas, pois aumenta a qualidade de vida do colaborador. A atenção primária proporciona assistência médica, bem-estar e reeducação dos hábitos de vida dos funcionários, desde realizar exames médicos somente quando necessário e realizar atividades físicas, até oferecer um auxílio às doenças psíquicas.
São quatros elementos que compõem o aumento na sinistralidade dos planos de saúde: internações, idas às emergências, consultas com especialistas e exames médicos. Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Aon em 2018, as principais doenças que geram custos médicos são: 72% doença cardiovascular, 69% câncer/crescimento de tumores, 54% pressão alta/hipertensão, 50% diabetes e 42% doenças de nariz, ouvidos e garganta/pulmonar/respiratória.
Com exceção de doenças crônicas, 80% dos problemas de saúde que atingem os colaboradores podem ser controlados ainda na fase inicial, quando são apenas sintomas. Por isso, investir no cuidado na saúde primária é uma grande estratégia para colaborar com a gestão de saúde na empresa.
Os cuidados na saúde primária também estão nos planos do governo brasileiro. Em outubro de 2018, o Ministério da Saúde assinou a Declaração de Astana, no Cazaquistão, com mais 195 países e assumiu o compromisso de promover e priorizar o cuidado com a saúde primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Em maio de 2019, o órgão anunciou um investimento de R$ 2 bilhões para qualificar os serviços de atendimento na saúde primária, além da criação de uma Secretaria especializada no assunto.
As equipes voltadas para a atenção primária são compostas por enfermeiros e médicos especializados na medicina de família e comunidade. Esses profissionais são capacitados para atender os problemas de saúde mais recorrentes nos pacientes e os acompanham ao longo da vida. Quando alguém necessita de um especialista ou exames médicos mais aprofundados, o médico de família torna-se uma interface e acompanha todo o processo. Com esta gestão de saúde, de imediato é possível reduzir idas à emergência e as consultas com especialistas. As internações, por sua vez, são projetos de médio a longo prazo, pois é necessário fazer a divisão dos colaboradores por níveis de riscos e acompanhá-los e empoderá-los para que haja um cuidado adequado com sua saúde.
Portanto, a atenção na saúde primária pode ser uma estratégia para reduzir o sinistro dos planos de saúde, com uma gestão colaborativa e sustentável tanto para o colaborador quanto para o empregador. O foco das equipes médicas hoje é integrativo (analisam a pessoa como um todo) e é essencial para entender os primeiros sinais de uma doença e evitar que ela venha a se agravar. Também é necessário reeducar os colaboradores oferecendo assistências médicas – planos de saúde e equipes especializadas focadas na saúde primária -, desenvolver estratégias que ofereçam bem-estar como estímulo às atividades físicas, informativos sobre saúde e incentivo à alimentação saudável.
Matheus Silva, CEO da Cuidas, startup que conecta empresas com médicos e enfermeiros para atendimentos no próprio local de trabalho.