Como conciliar o crescimento financeiro com o bem-estar em um ambiente corporativo: uma reflexão sobre o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Por Graziele Piva, Colunista Mundo RH e Fundadora da Youniq RH
Em um ambiente empresarial cada vez mais voltado para resultados, a busca pelo lucro pode, muitas vezes, vir acompanhada de desgaste físico e emocional. A questão central que surge é: seria possível conciliar a busca por crescimento financeiro com o bem-estar? No livro “A Exaustão no Topo da Montanha: uma Jornada de Reconexão com Outros Ritmos de Vida e com o que é Essencial” de Alexandre Coimbra Amaral, encontramos uma proposta de reflexão profunda sobre o ritmo frenético que muitos de nós vivemos e o impacto disso em nossas escolhas diárias.
Investir na felicidade pode, surpreendentemente, trazer retornos valiosos. Quando damos prioridade ao nosso bem-estar, estamos contribuindo não só para nós mesmos, mas também para o ambiente ao nosso redor e para a mudança da nossa sociedade. Um dos caminhos para isso é viver com mais presença e consciência no agora. Revisitar a forma como conduzimos nossa rotina de trabalho e as nossas posturas profissionais é um passo essencial para equilibrar essa balança.
É muito importante darmos o melhor no trabalho, porém sem perder de vista outras áreas fundamentais da vida, como a família, a saúde e o lazer. Concentrar toda a nossa energia em uma única área traz desequilíbrios, que podem se manifestar em problemas de saúde mental e física. Ainda assim, somos frequentemente tentados a ir além do limite, motivados pelo desejo de reconhecimento e promoções, sem medir o preço dessas escolhas. Mas a notícia ruim é que um dia a conta chega e ela costuma ser alta.
No Brasil, ocupamos um lugar preocupante no ranking global de Burnout. Em 2022, o país foi o segundo com mais casos diagnosticados, além de liderar (infelizmente) as estatísticas de ansiedade e depressão na América Latina. Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: como resgatar o entusiasmo pelo trabalho e restaurar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional?
A pressão por resultados rápidos e o ritmo acelerado que vivemos apagam, aos poucos, o prazer de trabalhar. A herança de modelos de liderança autoritários, advindos de nossa história colonial e escravocrata, perpetuam uma estrutura de comando vertical e agressiva. Mas como seria o ambiente de trabalho se a liderança fosse mais gentil e colaborativa?
A transformação organizacional começa com essa pergunta e se fortalece com uma nova cultura de protagonismo, onde todos são incentivados a fazer parte dessa mudança, por menor que ela possa ser. É fundamental criarmos ambientes corporativos mais colaborativos, onde a empatia e a cooperação sejam valores centrais. Embora falemos tanto de avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, muitas vezes evitamos discussões cruciais (e temos até vergonha muitas vezes de levantar a bandeira) sobre saúde mental, trabalho remoto e redução da jornada de trabalho para quatro dias. Por que isso ainda é um tabu?
Ao mesmo tempo, vemos uma crescente insatisfação no ambiente corporativo, além do crescente número de afastamentos. Movimentos, como por exemplo, o quiet quitting, em que os colaboradores se desligam silenciosamente de suas responsabilidades, refletem essa exaustão e descrença. Isso sinaliza que já passou da hora de as empresas investirem em programas diferentes, que promovam qualidade de vida, suporte psicológico e um ambiente de trabalho positivo.
Investir no bem-estar não é apenas uma estratégia humanitária, mas também uma aposta segura no sucesso financeiro. Estudos mostram que colaboradores satisfeitos são até 12% mais produtivos, além de sofrerem 50% menos acidentes de trabalho. Eles também tendem a ser mais criativos e inovadores, o que impacta diretamente nos resultados das empresas.
Por outro lado, o desengajamento dos funcionários custa caro para a economia global, impactando em até 9% do crescimento econômico mundial. Para que o trabalho tenha um significado real, não basta uma remuneração justa. É preciso também cultivar ambientes de trabalho onde as relações interpessoais sejam saudáveis e onde o colaborador sinta que sua identidade e contribuição são valorizadas.
O descanso, a capacidade de delegar e a comunicação de limites claros são práticas essenciais para manter o equilíbrio. Essas atitudes demonstram autoconhecimento e maturidade, e, longe de significarem fraqueza, são as chaves para um sucesso verdadeiramente sustentável.
Você já fez sua pausa hoje?