A importância de entender origens e desafios das pessoas na nossa empresa
Colunista Mundo RH, Kelly Coelho é head de RH, Comunicação, Segurança do Trabalho e Facilities da SuperVia
Assim como temos a nossa família nuclear, temos também a família do trabalho. Não é romantização, é um ideal que se procura para que haja bem-estar no ambiente corporativo. Na nossa família, teoricamente todos temos a mesma origem e sabemos as particularidades de cada um, o que facilita a convivência, mesmo quando há divergência de pensamentos e de estilos de vida. No trabalho, a diversidade é muito maior. Por isso, a gente precisa ter o capricho de procurar mais as origens, as particularidades do quadro de funcionários.
A história de cada um conta quem aquele indivíduo é dentro do trabalho. Mesmo sob as regras da empresa, tendo a mesma formação acadêmica de outros do seu setor, ele é único. Enxergar isso faz com que ele se sinta confiante e valorizado. Por exemplo, se o colaborador tem uma origem mais humilde, o que podemos aprender com ele? E quais as suas dificuldades diárias que devem ser levadas em conta em avaliações, divisão de tarefas etc.? Não é para proteger – ele próprio não gostaria disso –, mas para saber adequar pessoas diferentes para trabalhos igualmente importantes.
Os líderes e gestores precisam estar atentos para não permitir “brincadeiras” que soem como preconceito, que mexam com o emocional e a autoestima de pessoas que às vezes são marcadas, negativamente, por terem uma determinada origem. Esse “tratamento diferente” dado por colegas está em um comportamento arraigado na sociedade em geral, o que se reflete dentro das empresas. Outro fator que, inconscientemente, muitas vezes prejudica o “diferente” é a forma como se desenvolve o processo seletivo. Apostar na diversidade e na ampliação da área geográfica na hora de escolher candidatos é uma atitude bem-vinda.
Tema já amplamente abordado, pelo olhar da agenda ESG, é a promoção de uma empresa diversa para promover um rico “caldo cultural” no seu ambiente. Até na natureza vemos isso: as florestas mais fortes e saudáveis tendem a ser as que têm maior biodiversidade. Segundo a Declaração Universal da Diversidade Cultural, proclamada pela Unesco, “Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, é essencial garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais plurais, variadas e dinâmicas, bem como sua disposição de viver juntos. Políticas para a inclusão e participação de todos os cidadãos são garantias de paz, coesão social e vitalidade da sociedade civil.”
De casa para a vida
O endereço do colaborador não pode ser apenas mais um dado na sua ficha. Ali está um indicativo de sua rotina: tempo de deslocamento, se está vulnerável a situações de perigo, se o benefício oferecido pela empresa realmente cobre suas despesas etc.
Muitas vezes isso não é levado em conta, mas aquele determinado funcionário vive no ambiente do público-alvo da empresa – que talvez pouco sabe sobre seus consumidores, ou gasta fortunas encomendando pesquisas, que são importantes, mas que deveriam se juntar a informações trazidas por quem lá vive. Quando pai, mãe, filhos ou irmãos se tornam uma voz na sua empresa para apresentar tal realidade, há a aproximação de seus dois mundos mais importantes: família e trabalho.
Novos tempos
Quando o mundo já parecia acostumado com o sistema híbrido de trabalho, ou o home office completo, uma corrente volta a afirmar que todos deveriam voltar ao trabalho 100% presencial. Mas nada nessa vida é preto ou branco: é preciso analisar caso a caso para decidir até que ponto é benéfico para empregador e empregado uma rotina mais ou menos flexível.
Com a cabeça voltada para essa nova realidade, é importante refletir, de forma humanizada, sobre a possibilidade de deixar essas pessoas oferecerem sua mão-de-obra sem precisar enfrentar muitas horas de deslocamento – se for viável dentro de sua área de atuação. Quem é responsável, faz bem o seu trabalho de qualquer lugar. E quem é responsável e tem qualidade de vida, sempre dará o seu melhor em qualquer tarefa.