Conciliar culturas, legislações e lideranças à distância é parte da rotina de uma CFO global — um desafio que exige adaptação constante, visão estratégica e liderança inclusiva.
Por Mariana Lazaro, CFO da SumUp para as Américas
A gestão financeira em uma empresa global traz consigo desafios complexos, especialmente quando se trata de conciliar regulamentações e práticas distintas em diferentes regiões.
Embora algumas áreas das Finanças, como Planejamento e Análise Financeira, apresentem práticas comuns, a realidade é que cada país possui suas particularidades. Questões como a emissão de licenças específicas, legislação tributária e operações no mercado de capitais exigem uma abordagem flexível e adaptável.
A estrutura organizacional pode seguir um modelo unificado, mas a cultura local é um fator crucial na gestão de equipes ao redor do mundo. As diferenças culturais influenciam diretamente a forma como as pessoas se comunicam, colaboram e tomam decisões. Enquanto os americanos tendem a ser mais pragmáticos e diretos, os chilenos, por exemplo, podem ser mais argumentativos, buscando um entendimento profundo por meio da discussão. Reconhecer e valorizar essas diferenças é essencial para construir equipes de alto desempenho.
Um desafio relevante para gestores financeiros com atuação em vários mercados é o gerenciamento remoto de pessoas. A impossibilidade de estar fisicamente presente e conhecer a fundo cada membro da equipe traz complexidade às relações. No entanto, com as ferramentas adequadas e um time de confiança, é possível superar essas barreiras e construir um relacionamento profissional sólido, que permite melhor leitura das pessoas e das situações.
Por outro lado, liderar equipes em diferentes países proporciona uma exposição multicultural extremamente rica. Esse contato constante com diferentes realidades gera aprendizado valioso, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Ao interagir com pessoas de culturas diversas, ampliamos nossa perspectiva, aprimoramos nossa comunicação e aprendemos a construir pontes entre diferentes hábitos e formas de viver. Essa capacidade de adaptação e compreensão mútua é essencial para o sucesso em um ambiente globalizado.
Entre os países em que atuamos, o Brasil vem se consolidando como um hub estratégico, servindo como centro de operações para os Estados Unidos. Isso se deve à relevância da operação brasileira para a SumUp nas Américas e às qualidades dos profissionais que temos aqui. Cada vez mais, vemos brasileiros em cargos de liderança, refletindo o reconhecimento do talento e da capacidade de inovação presentes no país.
Outro fator que contribui para a consolidação do Brasil como referência regional é o dinamismo do nosso setor de pagamentos digitais, impulsionado por um Banco Central moderno e inovador. O mercado brasileiro antecipa tendências que ainda chegarão ao restante do mundo, como as transferências gratuitas e instantâneas (caso do Pix) e maquininhas multifuncionais que vão além das simples transações com cartão.
Uma barreira que ainda precisa ser superada diz respeito à questão de gênero. Ainda há poucas mulheres em cargos de liderança no setor financeiro. Mesmo com características valiosas para uma liderança eficaz — como intuição, percepção aguçada e visão holística — apenas cerca de 34% das posições C-Level no mercado financeiro são ocupadas por mulheres, segundo pesquisa da consultoria de RH Fesa Group.
Ou seja, apenas um terço das lideranças executivas é exercido por mulheres, mesmo que a preparação e o empoderamento feminino para assumir responsabilidades estratégicas sejam fatores cruciais para o sucesso das organizações.
No fim das contas, a jornada de uma CFO liderando múltiplos países é desafiadora, mas repleta de oportunidades. Independentemente das complexidades e particularidades envolvidas na liderança multicultural, o ganho profissional é imenso. Gerenciar equipes diversas é, sim, complexo — mas todos os benefícios atrelados a essa experiência são profundamente enriquecedores.