A transição de carreira é um processo delicado e pode envolver grande instabilidade financeira
Colunista Mundo RH – Kelly Coelho é gerente-executiva de RH, Comunicação, Segurança do Trabalho e Facilities da SuperVia
Mudar de carreira é mais comum do que se pode imaginar. Muitas pessoas entram no mercado de trabalho na primeira oportunidade que lhes foi dada e, por vezes, a vaga é fora da área de interesse. Com o passar do tempo, embora tenha sido uma chance importante no momento da contratação, aquele emprego ou atividade começam a gerar insatisfação.
Há ainda outros fatores que podem fazer com que o profissional não se sinta adequado ao seu cargo atual e busque por novos ares. Muitos deles têm relação com as condições salariais, a falta de expectativa de ascensão, a desvalorização da atividade no mercado, a aposentadoria e até uma escolha precoce e inadequada da profissão. Outra hipótese é aquela em que o trabalhador foi demitido, tem dificuldades em encontrar outro emprego na área em que atuava e agora passa a enxergar essa mudança como a única solução possível. Nesse caso, não há espaço para planejar os novos rumos.
Mas no caso do profissional que tem tempo para pensar de forma mais tranquila sobre a transição de carreira, é importante que ele perceba os próprios desejos e comece a buscar aquilo que poderá render mais conforto financeiro ou maior estabilidade. E não importa se essa transição é motivada pela falta de oportunidades, eventuais frustrações, busca por novos interesses ou mais qualidade de vida – o fundamental é sempre encontrar a realização profissional e o equilíbrio entre carreira e esfera pessoal.
A transição de carreira é um processo delicado e pode envolver grande instabilidade financeira. Por isso, é cada vez mais estratégico que se faça um minucioso planejamento para evitar dificuldades. Se a mudança envolver, por exemplo, a necessidade de uma nova formação em período integral, é importante ter meios de manter os custos da vida cotidiana sem contar mais com o salário no final do mês.
Outro ponto que deve entrar no planejamento é aquele em que uma mudança completa de profissão irá certamente levar a um recomeço em cargos muito mais júniores que aquele da antiga carreira. Por isso, o segundo passo importante depois da decisão é mapear os seus gastos mensais correntes e todas as despesas extras que poderão ser necessárias, como algum caso de doença na família ou a chegada de um novo filho não planejado. Sendo assim, é fundamental manter uma reserva capaz de suprir esses custos por um determinado período e entender quanta energia precisará ser investida no processo de formação da poupança antes de mudar de fato o rumo da vida profissional.
Além da organização financeira, também é preciso se preparar psicologicamente e tecnicamente, já que a escolha de uma nova área de atuação está diretamente ligada aos motivos que o levaram à busca por essa mudança. A transição foi motivada pela insatisfação com as tarefas atuais? Então, a primeira coisa a se fazer é identificar que áreas e/ou carreiras vão trazer rotinas que levem à felicidade porque em qualquer nova atividade certamente haverá processos que se repetirão de forma contínua, ou seja, haverá novas rotinas.
Saber exatamente para onde se deseja migrar é um passo importante para uma transição bem-sucedida. E nesse processo, o autoconhecimento será a peça chave. Seja para identificar o que leva à infelicidade atual, seja para entender quais são as novas prioridades e desejos profissionais.
Se o desejo de mudar o rumo for a falta de novas oportunidades dentro da área em que se atua, a mudança pode começar por uma boa pesquisa de mercado para identificar onde seria possível aproveitar a formação e experiência já adquirida. O mercado de trabalho vive em constante transformação e com essas mudanças surgem áreas que se mostram como grandes oportunidades. Sejam elas financeiras, com salários mais convidativos e benefícios atraentes, ou de interesse, com funções e atividades mais alinhadas aos desejos de muitos indivíduos. Mas áreas completamente novas exigem muita dedicação para se entender que novo mundo é esse.
Outra possibilidade é de o profissional, ainda na atividade atual, acabar conhecendo uma nova área e sentir vontade de se enveredar por ela. Nesta situação, a escolha da nova carreira já estará mentalmente pronta e a transição será apenas o desenrolar de um processo mentalmente consolidado.
Por fim, há aqueles casos dos profissionais que se aproximam ou já estão na terceira idade e que se encontram aptos a se aposentar, mas ainda enxergam nessa fase não fim de carreira, e sim, a oportunidade de um novo começo, mesmo que seja para o complemento da renda. Nesse caso estão ainda aqueles que querem voltar a trabalhar simplesmente porque não conseguiram se acostumar à nova vida. Para esses grupos, o melhor é que a reflexão sobre o que se quer depois da aposentadoria comece bem antes para que o profissional possa antecipar uma nova formação ou um forte processo de reciclagem para se manter na mesma área.
O profissional que busca se reposicionar no mercado e encontrar satisfação com a escolha tende a ser muito mais produtivo e a entregar melhores resultados para a sua nova empresa. A motivação para a nova carreira acaba gerando estímulos que ampliam as entregas. Ou seja, a organização passa a contar com um talento muito mais capacitado e engajado.
Para quem considera a transição de carreira uma possibilidade de cura para as insatisfações, é preciso tomar cuidado para que a mudança não seja uma maneira de tentar fugir de problemas, que estarão presentes em qualquer área. Se o clima na empresa não está bom ou o projeto no qual o profissional está atuando não o motiva, talvez procurar outra companhia para trabalhar ou conversar com o gestor sejam soluções mais de acordo com a necessidade.
Do lado oposto, é importante ter cuidado para evitar que a resistência às mudanças impeça o profissional de sair de uma rotina de insatisfações e buscar um novo rumo. Para quem tem medo dos riscos, mas sente o desejo da mudança, pode apostar em uma transição gradual, buscando alterações pontuais dentro do próprio ambiente corporativo onde se encontra, para saber se a nova rota está mais alinhada com a estrada que pretende seguir.
Quem começou a pensar sobre uma transição de carreira certamente desenvolveu muito mais autoconhecimento do que aquele que tinha no início da sua vida profissional. Pensar sobre seus desejos e capacidades já é um recomeço e vai fazer da vida uma experiência mais empolgante.