Terapeuta indica três exercícios para quem percebe que precisa alinhar suas atividades profissionais com quem realmente é, definir como e onde quer chegar agregando valor
Em anos recentes, a autoconsciência tem sido celebrada como uma ferramenta de grande importância para gestores e líderes, permitindo que o profissional compreenda claramente suas capacidades e defina os passos necessários para atingir seus objetivos. Ou seja, é por meio de uma autoconsciência fiel à realidade que a pessoa compreende seus pontos fortes e fracos, sentimentos, pensamentos e valores – bem como o quanto e de que forma eles afetam as pessoas ao seu redor.
Estudo divulgado pela Harvard Business Review revela que, ao se enxergar com clareza, o indivíduo pode tomar decisões mais acertadas, construir relacionamentos mais fortes e impulsionar a carreira. Chama atenção que a autoconsciência seja uma qualidade verdadeiramente rara. A pesquisa demonstrou que apenas entre 10% e 15% das pessoas avaliadas realmente atendiam aos critérios da autoconsciência.
Através de uma metanálise, o trabalho em questão avaliou resultados de quase 800 estudos científicos existentes para compreender como pesquisadores anteriores definiram a autoconsciência, identificando as limitações dessas investigações. Ao compreender o comportamento de milhares de pessoas de diversas nacionalidades e áreas de atuação, foi possível explorar a relação entre autoconsciência e satisfação no trabalho, empatia, felicidade e estresse.
Dois aspectos de autoconsciência despontam como essenciais para a formação do indivíduo: a autoconsciência interna e a externa. De acordo com a terapeuta holística Inês Telma, autora do livro “As dez partes do ser – Descomplicando a vida”, a autoconsciência interna representa a clareza com que a pessoa enxerga seus próprios valores, aspirações, adequação ao ambiente familiar e de trabalho, reações (pensamentos, sentimentos, comportamentos), seus pontos fortes e fracos, e como suas atitudes geram impacto na vida dos outros.
“Esse tipo de autoconsciência está associado à satisfação com os acontecimentos e o ritmo da vida, ao desempenho no trabalho e à qualidade dos relacionamentos, ao controle pessoal e social, bem como à felicidade ou alegria de viver. O ponto crítico é que esse nível de autoconsciência também está relacionado à ansiedade, estresse e depressão”, diz a especialista comportamental.
Já a autoconsciência externa, segundo Inês, está relacionada à capacidade de o indivíduo compreender como as outras pessoas o veem, considerando os mesmos fatores citados. “Quanto menor a diferença entre como uma pessoa se vê, em relação a como as outras pessoas a veem, maior será o nível de autoconsciência”. Para a terapeuta, o líder que se vê da mesma forma com que seus funcionários o veem tende a desenvolver um relacionamento melhor com eles, a se sentir mais satisfeito com os resultados da equipe simplesmente porque essa sintonia, em geral, torna a relação mais eficaz. Ou seja, líderes e gestores devem trabalhar constantemente para se enxergar com clareza e obter um feedback honesto sobre como os outros os veem. “As pessoas altamente autoconscientes são aquelas ativamente focadas em equilibrar a balança”.
Inês Telma diz que um bom exercício para se fazer, além de assumir pontos fortes e fracos diante de uma vida de acontecimentos que marcam as pessoas e definem, muitas vezes, como elas agem em relação a determinadas circunstâncias, é trabalhar com espaços de tempo limitados. “Quando perguntamos a uma pessoa o que ela quer para sua vida, geralmente a resposta é vaga. Ou seja, quase sempre o indivíduo responde que quer ser feliz, bem-sucedido no trabalho e na vida, ter amor e saúde. Mas e no próximo período, que pode ser de uma semana, um mês, um ano, cinco anos? O que a pessoa planeja, por exemplo, para 2024?”.
Segundo a terapeuta, quanto maior o entendimento que a pessoa tem de si mesma, mais fácil é definir e cumprir objetivos de curto, médio e longo prazos, permitindo um crescimento real. Sendo assim, Inês propõe três exercícios para aumentar a autoconsciência:
1. Definir o que não se quer mais, de jeito algum. “Uma forma prática de saber o que se quer da vida de hoje em diante é mergulhar fundo nos pensamentos e memórias, definindo o que não se quer mais. Ou seja, aquilo que não será mais admitido a partir de agora. Isso diz respeito a pessoas, situações, ações, comportamentos, palavras etc. Em resumo, o que dói na alma é o que o indivíduo deveria afastar de sua vida, sempre que possível e com inteligência emocional”.
2. Definir, por etapas, onde se quer depositar energia. “Muita gente diz, em nossas jornadas, que deseja mudar tudo em sua vida: forma física, alimentação, carreira, relacionamento pessoal etc. Ciente de que lutar várias batalhas ao mesmo tempo dificulta a vitória, vale a pena escolher onde ser quer depositar energia por um determinado tempo e se concentrar nas ações necessárias para alcançar o resultado esperado. Quando o objetivo é múltiplo e vasto, é praticamente certo de não se chegar em lugar algum”.
3. Sair do piloto automático. “Há sempre quem esteja descontente com os rumos que a vida está tomando, mas se sinta incapaz de fazer alguma coisa além de lamentar e reclamar. É fundamental sair do piloto automático, do modo observador, já que todos são protagonistas de suas próprias vidas. É preciso sair do modo passivo-negativo e sintonizar no modo ativo-positivo. Refletir regularmente sobre os sentimentos em relação à determinada circunstância é um exercício muito benéfico, na medida em que se identifica o que precisa ser transformado, se estabelece caminhos a seguir e se põe em prática novas atitudes em busca de novos resultados. Essa autogestão é fundamental para ampliar a autoconsciência”.
Segundo Inês Telma, velhos hábitos costumam estar enraizados nos cérebros das pessoas. Para mudar, é preciso encontrar novos caminhos neurais, criar outros hábitos. Neste caso, o ideal é começar reconhecendo atitudes que precisam ser abandonadas, considerando alternativas. Em seguida, se dedicar ao trabalho árduo de resistir ao que pode ser mais familiar ou fácil, aceitando o desafio de mudar. “Mudança exige compromisso. Ninguém muda o entorno se não mudar antes a si mesmo. Ninguém influencia uma equipe de trabalho se não estiver genuinamente alinhado com a energia e os objetivos do grupo”.