De acordo com Marina Mezzetti, por meio de estratégias é possível lidar com sintomas e transformar o último mês do ano em um período de equilíbrio e planejamento consciente.
Dezembro chegou e, com ele, a sensação de urgência em resolver tudo o que ainda está pendente antes que o ano termine. Para muitas pessoas, essa pressão extra é conhecida como “síndrome do final de ano” ou “dezembrite”. Esse fenômeno, que pode gerar um turbilhão emocional, é especialmente comum entre líderes e profissionais de diferentes áreas. Mas afinal, o que é dezembrite e como podemos lidar com ela?
Segundo um estudo da Universidade de Scranton, na Pensilvânia, apenas 8% das pessoas conseguem atingir seus objetivos antes que o ano termine. Isso significa que, na prática, 92% das resoluções ficam apenas no papel. Por que isso acontece? E, mais importante, como podemos reverter esse cenário? A resposta está no seu cérebro.
O termo “dezembrite” descreve o estado mental que toma conta de muitas pessoas no fim do ano, quando a sensação de que “precisamos fazer tudo antes de janeiro” se torna avassaladora. Nessa época, é comum a ansiedade por revisar o ano que passou, planejar o futuro e ainda manter a disposição para as confraternizações e compromissos sociais. Para líderes, esse estresse pode ser ainda mais intenso, já que precisam lidar com a cobrança por decisões passadas, a pressão por metas futuras e a responsabilidade de fechar o ciclo com suas equipes.
De acordo com um estudo da Dominican University, as pessoas que escrevem suas metas têm 42% mais chance de alcançá-las. Além disso, quebrar grandes objetivos em etapas aumenta a chance de sucesso em até 76%. No entanto, segundo o estudo, somente 20% das metas são baseadas em auto-realização pessoal e propósito, enquanto a maioria está ligada a objetivos externos, como dinheiro ou status. Isso explica por que tantas resoluções fracassam: não estão alinhadas com nossos valores internos e o que realmente nos motiva.
A boa notícia, no entanto, é que o conceito de dezembrite não precisa ser encarado como uma sentença. De acordo com a especialista em neurociência Marina Mezzetti, nosso cérebro não só amplifica essa sensação de urgência, mas também oferece ferramentas para reverter esse quadro e transformar dezembro em um mês mais equilibrado.
Segundo a especialista, o fenômeno da dezembrite pode ser explicado por alguns padrões do nosso cérebro. As principais razões para esse estado de ansiedade de fim de ano são:
- Viés de negatividade: O cérebro tem uma tendência natural a focar nas falhas em vez de celebrar as conquistas. Esse viés faz com que nos sintamos constantemente insatisfeitos, como se não tivéssemos feito o suficiente.
- Ciclo de cortisol: O estresse acumulado ao longo do ano se intensifica em dezembro. Isso ocorre porque o nível de cortisol, hormônio do estresse, aumenta, afetando a capacidade do cérebro de tomar decisões racionais e criando um ciclo vicioso de tensão e ansiedade.
- Necessidade de validação social: A pressão externa, como as festas de fim de ano, as redes sociais e a expectativa sobre resultados empresariais, contribui para a sensação de que precisamos “provar” nosso valor antes que o ano termine.
No ambiente corporativo Para líderes e profissionais, a dezembrite pode se manifestar de várias maneiras, afetando diretamente o desempenho e o bem-estar no ambiente corporativo. De acordo com Marina, entre os principais sinais estão:
- Autocrítica excessiva: A tendência de se focar nas decisões erradas ou nos objetivos não cumpridos, em vez de reconhecer as conquistas e progressos do ano.
- Ansiedade de planejamento: A tentativa de criar uma estratégia perfeita para o próximo ano, o que pode paralisar a tomada de decisões práticas e a execução de planos.
- Sobrecarga emocional: A dificuldade de equilibrar a pressão para cuidar da própria saúde mental enquanto se apoia a equipe no fechamento de ciclos e entrega de resultados.
Como superar a dezembrite: Cinco passos práticos
Se você se identificou com os sintomas de dezembrite, a boa notícia é que existem formas de aliviar essa pressão e transformar dezembro em um mês de mais equilíbrio. Marina propõe cinco estratégias baseadas na neurociência para ajudá-lo a superar esse estado:
- Redefina o conceito de fechamento: O fim do ano não precisa ser um fechamento de tudo, mas um marco simbólico. Pergunte-se: O que realmente precisa ser finalizado agora? Estabeleça prioridades realistas e deixe o restante para janeiro, evitando sobrecarga desnecessária.
- Faça um balanço consciente: Ao invés de se focar apenas nas falhas, escreva três listas: minhas conquistas, meus aprendizados, e o que posso melhorar. Esse exercício ajuda a ativar o córtex pré-frontal, responsável por pensar de forma lógica e racional, e reduz a ativação da amígdala, que causa o estresse.
- Estabeleça metas baseadas em valores: Planeje 2025 com foco em como você quer se sentir. Quando as metas estão alinhadas aos seus valores internos – como bem-estar, propósito ou equilíbrio – as chances de sucesso aumentam significativamente, pois elas são mais motivadoras e sustentáveis.
- Pratique “micropausas conscientes: Durante o dia, reserve 3 minutos para respirar profundamente e focar no presente. Isso reduz os níveis de cortisol, ajuda a acalmar a mente e melhora a capacidade de tomar decisões de forma mais clara e eficaz.
- Comunique-se com clareza: Para líderes, dezembro é o momento ideal para oferecer feedbacks empáticos e realizar um planejamento colaborativo com a equipe. Envolver todos nas metas para o próximo ano diminui a ansiedade coletiva e fortalece o senso de pertencimento e engajamento.
Por fim, a especialista destaca que superar a dezembrite envolve um exercício de autocompaixão e estratégias práticas para focar no que realmente importa. “Ao reprogramar o cérebro para reconhecer o que foi conquistado e redefinir expectativas, é possível transformar o fim do ano em um momento de leveza e renovação. Esse processo não só ajuda a encerrar 2024 com mais equilíbrio, como também prepara o terreno para um 2025 mais consciente e produtivo. O fim de um ciclo não é o fim de tudo, mas sim o começo de algo novo. Ao invés de se perder na ansiedade de “não ter feito o suficiente”, é hora de celebrar o que foi alcançado, aprender com os erros e reprogramar a mente para um futuro mais alinhado e tranquilo”, conclui.