Segunda edição do levantamento realizado pelo IT Forum apontou perfil, motivação e desafios do grupo no ambiente de trabalho.
O IT Forum, em parceria com Eu Capacito, Futuros Possíveis e LANDTech, realizaram neste ano a segunda edição do estudo “Diagnóstico Comportamental dos Profissionais de TI” que trouxe à tona dados importantes sobre diversidade, motivadores e desafios enfrentados por profissionais negros no mercado de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil. Ao todo foram entrevistadas 360 pessoas, revelando o cenário de desigualdade racial que ainda marca o setor e impacta a satisfação e o engajamento desses colaboradores.
Entre os respondentes, apenas 4% se declaram negros, 20% pardos e 73% brancos. A baixa representatividade reflete um ambiente com pouca diversidade étnica, o que levanta preocupações sobre a inclusão no setor de tecnologia. “O estudo evidencia uma dura realidade: a sub-representação de profissionais negros na área de TI. Mesmo que o setor seja um dos mais dinâmicos e inovadores, ainda enfrenta desafios estruturais para promover a diversidade e a inclusão. A disparidade racial expressa nos dados mostra como a falta de representatividade pode afetar não só a equidade, mas também o desenvolvimento do setor.”, afirma Bruna Bomfim, gerente de estudos do IT Forum.
A pesquisa também mostra uma diferença significativa na satisfação e no engajamento entre os grupos étnicos. Cerca de dois terços dos profissionais negros afirmam que não estão felizes no trabalho, enquanto mais de 50% dos profissionais brancos e pardos relatam níveis mais elevados de felicidade e engajamento. Esse contraste pode estar relacionado ao ambiente de trabalho, onde a falta de diversidade e representatividade afeta diretamente o bem-estar dos profissionais.
Por outro lado, independentemente do grupo, cargos e salários são vistos como os menores motivadores entre os profissionais. Porém, para os respondentes negros, o reconhecimento surge como um fator de maior destaque, o que demonstra uma busca mais intensa por valorização profissional – ainda insuficiente no mercado.
“Quando dois terços dos profissionais negros afirmam não estar satisfeitos no trabalho, isso reflete um ambiente onde esses colaboradores muitas vezes não se sentem acolhidos ou valorizados, indicando uma busca por validação e pertencimento que ainda não está sendo atendida pelo mercado. Isso vai além de cargos e salários, apontando para a necessidade de uma cultura organizacional que realmente valorize o potencial e a contribuição desses profissionais.”, explica Bruna.
C-Level
A falta de representatividade nas posições de liderança é outro ponto crítico. Negros ocupam apenas 4% dos cargos de diretoria, enquanto brancos ocupam 83% e pardos 11%.
Nesse cenário, uma parcela significativa dos profissionais negros enxerga o empreendedorismo como uma saída: 1 em cada 3 entrevistados demonstrou interesse em abrir o próprio negócio, o que pode ser reflexo do desejo de escapar de um ambiente corporativo onde as oportunidades de crescimento e reconhecimento ainda são limitadas.
“Quando apenas 4% dos cargos de diretoria são ocupados por negros, é natural que muitos enxerguem no empreendedorismo uma alternativa para superar as barreiras que encontram no ambiente corporativo. Esse interesse pelo próprio negócio reflete não apenas uma busca por autonomia, mas também o desejo de construir espaços onde possam se desenvolver sem limitações impostas pela falta de representatividade.”, completa Bruna Bomfim.
Já entre os principais fatores que levam os profissionais de TI a trocar de empresa, a baixa diversidade foi mencionada por 8% dos respondentes. Embora esse percentual pareça baixo, ele aponta que há uma demanda crescente por ambientes de trabalho mais inclusivos e variados. Empresas que não consideram a diversidade como um ponto essencial podem enfrentar dificuldades em reter talentos.
Para Paulo Moraes, diretor-geral da LANDtech e cofundador do Talenses Group, a pesquisa evidencia a realidade desafiadora enfrentada pelos profissionais negros e pardos no setor. “Os dados revelam uma disparidade histórica e estrutural que precisa ser combatida de forma urgente. O levantamento é um reflexo de um mercado que ainda não conseguiu se adaptar completamente à necessidade de inclusão e valorização das diferenças, que são fundamentais para a criação de ambientes inovadores e produtivos. Incentivar a equidade, oferecer oportunidades de crescimento e garantir reconhecimento para todos os talentos são passos fundamentais para mudar esse cenário e construir um setor de TI mais forte e representativo para o futuro”, afirma.