Uma em cada quatro mulheres já perdeu o emprego por ser mãe; especialistas comentam desafios e soluções para a dupla jornada
Apesar da mão de obra feminina representar mais de 54% da força de trabalho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maternidade continua sendo uma escolha quase antagônica à vida profissional. Celebrado neste domingo (12), o Dia das Mães cada vez mais se torna uma data de reivindicações entre mulheres que já têm filhos ou se preparam para a maternidade.
Oito em cada dez mulheres afirmam receber menos que homens exercendo as mesmas funções, conforme o estudo Oldiversity®, do Grupo Croma. Elas também tendem a ser mais penalizadas no trabalho quando se tornam mães. Em média, mães brasileiras são 37% mais afetadas do que pais em termos de probabilidade de estarem trabalhando nos dez anos seguintes ao nascimento do primeiro filho. O dado é do “Child Penalty Atlas”, trabalho de pesquisadores da Universidade de Princeton e da London School of Economics.
A percepção parece ser unânime: 88% dos brasileiros consideram que mulheres com filhos experimentam mais desafios no mundo corporativo, mostram dados do Instituto Locomotiva e Question. Como prova disso, uma em cada quatro mulheres já perdeu o emprego por conta da maternidade, enquanto 27% não tiveram sucesso ao aplicar para uma vaga por serem mães, segundo levantamento divulgado pela operadora Tim em março deste ano.
Para Vanessa Pires, mãe e empreendedora à frente da socialtech Brada, a dupla jornada pode resultar em uma série de consequências negativas, incluindo a desigualdade de gênero, a estagnação na carreira e o esgotamento emocional: “Muitas de nós nos vemos obrigadas a fazer escolhas difíceis entre responsabilidades familiares e ambições profissionais, enfrentando um dilema que afeta diretamente a qualidade de vida e a realização pessoal”, afirma.
O que as empresas estão fazendo?
Para identificar políticas internas voltadas para funcionárias que são mães, o portal Empregos.com.br ouviu 388 empresas de médio e pequeno porte. A pesquisa revela que 18,5% disponibilizam licença maternidade de seis meses ou mais, enquanto o restante oferece os quatro meses previstos na CLT. Empresas que oferecem jornada e formato de trabalho flexíveis para gestantes e puérperas representam 62,1% da amostra.
A pesquisa também revela que apenas 16,2% das empresas realizam acompanhamento médico e/ou psicológico das colaboradoras no retorno ao trabalho. Em termos de infraestrutura para receber filhos de funcionárias, 7% fornecem fraldário, sala de recreação e afins, enquanto 93% não possuem nenhum tipo de ambiente dedicado aos pequenos.
CEO da empresa de saúde ocupacional 4Life Prime, Alex Araujo observa que o baixo percentual de oferta de acompanhamento psicológico está relacionado à estrutura das pequenas e médias empresas, as quais em muitos casos nem área de Recursos Humanos têm: “Além disso, a maioria dos gestores não reconhece o impacto do bem-estar mental na vida pessoal e profissional, especialmente para quem está voltando da licença maternidade e vivendo uma grande mudança de rotina”, diz.
Na contramão do cenário, a consultoria de tecnologia keeggo, por meio do programa “keemãe”, oferece licença maternidade estendida de 180 dias, auxílio-creche ou babá, acompanhamento psicológico e curso de gestante gratuito, independentemente de ter filhos biológicos ou adotados: “Ao implementar políticas afirmativas e oferecer suporte adequado, é possível criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo, onde as mães possam prosperar tanto em suas carreiras quanto em suas vidas familiares”, afirma a Diretora de Recursos Humanos, Amanda Diaz, também mãe.
De acordo com a especialista, algumas medidas são eficazes para lidar com esse desafio:
- Flexibilidade de horários: permitir que mães tenham flexibilidade para ajustar horários de trabalho, possibilitando assim melhor conciliação entre vida profissional e familiar;
- Licença maternidade estendida: oferecer licenças mais longas, além de programas de retorno ao trabalho gradual, para garantir uma transição suave de volta à vida profissional;
- Creches corporativas ou auxílio-creche: facilitar o acesso das mães a serviços de cuidado infantil, seja por meio de creches corporativas ou auxílio-creche, seja para proporcionar maior tranquilidade e suporte;
- Mentoria e desenvolvimento profissional: investir em programas de mentoria e desenvolvimento profissional específicos para as mães, visando promover crescimento e progressão na carreira.