Gerir pessoas, promover novos modelos organizacionais, promover a produtividade e ainda gerar melhoria constante nos processos através das pessoas. Essa era a descrição do cotidiano do setor de Recursos Humanos no mundo que conhecíamos e que ficou para trás há poucos meses diante da pandemia. Todos esses processos tiveram de ser readequados com as políticas de isolamento social e essa não é e nem será uma tarefa fácil, afinal nunca passamos por isso. Outros departamentos ainda terão que fazer grandes mudanças para dar suporte na atuação dos profissionais e gestores.
Atuo como facilitadora, conselheira organizacional e treinadora em grandes empresas já há muitos anos e pela primeira vez tivemos que nos preparar para um cenário completamente inesperado, impossível de se prever e que acontecesse de última hora, na pressa. Sem previsão de volta para o que conhecíamos como normalidade, se de fato essa volta vá acontecer. Ainda assim, esse caminho de volta precisa ser considerado, as jornadas dos clientes precisarão ser revistas, assim como sua nova experiência com a marca.
Assim, descrevo abaixo algumas mudanças que temos vivenciado e desenvolvido no departamento de Recursos Humanos nos últimos meses.
Mudança Repentina: as empresas tiveram que antecipar o que parecia um futuro distante em poucos dias. Todas essas alterações impactarão profundamente a jornada do cliente e muitas outras mudanças precisarão ser implementadas. A depender do que as companhias proporcionarem, seus próprios profissionais precisarão de novas competências, percepções e até mesmo de novas ferramentas. E o responsável por administrar essas mudanças e traduzi-las aos colaboradores o mais rápido possível será o RH.
Olhar Calibrado: Diante disso, percebemos que o RH precisa manter seu olhar muito aguçado e calibrado para esse movimento que os profissionais precisarão realizar. Acompanhar as mudanças e novos desenvolvimentos de outras áreas e mesmo no ambiente externo à empresa, que passa por mudanças e incertezas ainda mais constantes.
Ser Direcionador: Outra modificação importante e de que os Departamentos de Recursos Humanos já se deram conta é que não podem atuar apenas como elementos reativos. Diante desse processo de transformação, que também é digital, o RH precisa atuar como direcionador das novas estratégias e não apenas seguidor. Para isso é preciso se inteirar sobre todas as movimentações, projetos e iniciativas importantes para suportar toda essa mudança.
4- Facilitar maior união e sinergia de todas as áreas: Mais uma mudança que o RH precisa fazer é unir os líderes de todas as áreas para um grande levantamento de possíveis e futuras tendências, para intensificar com qualidade as modificações que têm ocorrido às pressas. Seguindo isso, o setor pode atuar na promoção de fóruns, debates e mesmo world café’s – processo conversacional estruturado para compartilhamento de conhecimento, no qual grupos de pessoas discutem um tópico em várias pequenas mesas como as de um café. As iniciativas precisam direcionar os diferentes setores a uma agenda comum de futuro, antecipando tendências para não atuarem apenas de maneira reativa.
5-Revisão e Reestruturação: Em relação às lideranças, será necessária uma grande revisão de suas atuações e escopos de trabalhos. Diversas empresas enfrentaram ou ainda enfrentarão diminuição de seu quadro de colaboradores, por isso o setor precisará desenvolver uma compreensão global mais alargadas das diferentes necessidades de outros setores e mesmo dos clientes. Os líderes precisarão de novas bases e experiências para entender melhor seus times, time, revisar e mapear as competências, ferramentas essenciais nas realocações e reestruturações das áreas.
Através dessas reestruturações surgem novas maneiras e mesmo percepções sobre as funções, revisões do time e dos indicadores. O RH precisará atuar como uma aliança estratégica para gestores com o board das empresas.
6-Acolhimento: Além de direcionar, facilitar e promover mudanças, o Rh também precisará oferecer acolhimento aos colaboradores. Serão necessárias estratégias para recuperar a confiança para que os colaboradores retomem posturas ativas e possam se colocar claramente sem receio de ser imprudente. Outro fator importante para o setor é atuar como um aliado dos demais profissionais; a criação ou manutenção dessa aliança será parte essencial da solução para que todos possam se adequar a esse novo normal.
Percebo que muitas vezes o RH é visto como um dificultador, burocratizador, e por isso insisto que o setor precisa cuidar desse aspecto mais do que nunca, aproveitando as mudanças que já vêm ocorrendo. É também dentro desse cenário onde a palavra mudança está mais em voga do que nunca, que será preciso estimular os colaboradores ao seu próprio desenvolvimento na carreira.
7. Promover projetos de vida: O que hoje chamamos de life long learning – o conceito de que nunca é cedo ou tarde demais para se aprender, filosofia que tem sido adaptada por uma vasta gama de organizações diferentes – a atualização profissional deve ser estimulada de maneira adequada, enquanto passo importante e individual de cada profissional chegar para alcançar seus objetivos pessoais e de vida. O RH também pode promover algum projeto, onde ele estimule as pessoas a olharem para esses próximos passos e não depender somente de um direcionador externo.
Finalmente, acredito que diante desse quadro de mudanças profundas, a principal mudança pela qual precisará passar o RH é o despertar para um olhar mais estratégico, ainda não valorizado por muitas instituições. Se antes não havia espaço para que esse departamento adotasse esta postura, agora mais do que nunca ela é necessária e pode ser interessante para chamar a atenção das demais áreas.
Allessandra Canuto é facilitadora, consteladora organizacional, consultora sênior e Conselheira Trendsinnovation.