Ações consistentes que tornem a temática uma conversa de todo dia são a única forma de fazer uma transformação cultural de verdade para chegar à inclusão real que reverbera esses valores não só na cultura interna, mas também na gestão do negócio como um todo
Por Glenda Moreira, líder de Diversidade, Equidade e Inclusão na Amazon, para o setor de Varejo, na América Latina
Nos últimos anos, a diversidade e a inclusão tornaram-se pautas urgentes e bastante discutidas na sociedade e, consequentemente, dentro das empresas. O desenvolvimento do tema é decorrente de uma nova mentalidade social e de transformações pelo desejo de uma vida mais justa e digna, junto da necessidade de equilíbrio entre saúde, lazer, trabalho e descanso, como fontes de saúde mental. Tudo isso apoiado por práticas de gestão que buscam representatividade e inclusão de pessoas dentro das organizações. Diante disso, todo o mercado precisou se reestruturar e o cuidado com o capital humano vem se transformando em um ponto estratégico, até mesmo de negócios, impactando diretamente no diferencial competitivo, nos resultados e na reputação das marcas do século XXI, temáticas já muito conhecidas e discutidas.
A partir disso, percebemos que as empresas vêm assumindo um papel cada vez mais proativo e importante como agentes de transformação social. Mas até quando? Hoje, o público consumidor exige e espera que a presença das companhias nas comunidades em que operam gerem um impacto real e uma influência positiva em toda a cadeia de valor, contribuindo para a construção de um mundo mais diverso, igualitário e inclusivo. Gerar oportunidades para todas as pessoas de maneira justa para criar autonomia faz com sejamos capazes de quebrar diversos ciclos de violência e de desigualdades.
Embora essa seja uma realidade indiscutível, recentemente, a pesquisa de Tendências de Gestão de Pessoas 2022, realizada pela consultoria global “Great Place to Work”, acendeu um sinal amarelo ao mostrar que, neste ano, a pauta de Diversidade e Inclusão é prioridade para apenas 17,9% dos 2.654 profissionais entrevistados da área de recursos humanos e de cargos de liderança. Em 2021, esse número era quase o dobro: 32%, um percentual ainda baixo, e que evidencia, claramente, a necessidade urgente de uma mudança real e efetiva na sociedade.
Entre os obstáculos citados no estudo, os principais foram o engajamento da liderança, seguido de processos de recrutamento e seleção mais inclusivos. Isso significa que o atual desafio para nós, profissionais de Diversidade, Equidade e Inclusão está em gerar valor de curto prazo para que nossas lideranças não sejam mais uma vez vítimas da equação “resultados vs oportunidades”. Uma pauta tão negligenciada por séculos não será resolvida em décadas, muito menos em anos ou meses… Por isso atuar de maneira estratégica e assertiva, com indicadores que mostrem sucesso e possibilidades reais de melhoria, se tornaram fundamental para os profissionais de DEI.
Ações consistentes que tornem a temática uma conversa de todo dia são a única forma de fazer uma transformação cultural de verdade para chegar à inclusão real que reverbera esses valores não só na cultura interna, mas também na gestão do negócio como um todo. Tudo feito de modo top down, através do engajamento da liderança, e bottom up, por meio da escuta e do envolvimento das equipes.
Na Amazon tratamos nossos princípios de liderança com seriedade, e vejo como a citação “Sucesso e escala trazem ampla responsabilidade” está diretamente conectada ao desafio de inclusão, diversidade e igualdade, porque precisamos montar um grande mosaico estratégico que faça sentido para os públicos internos e externos compreenderem e participarem de todo esse processo. Ser a melhor empresa para se trabalhar no mundo, um dos nossos objetivos corporativos globais, requer adotar também um olhar ao mesmo tempo empático e consistente no que diz respeito à representatividade e a um ambiente verdadeiramente inclusivo e acolhedor para todos e todas. Isso vai muito além do discurso, e exige novas posturas e muito esforço de todas as partes envolvidas.
Não existe uma receita do bolo ou uma fórmula mágica para isso, e a pauta deve ser um compromisso real para que a diversidade esteja permeada em tudo que as organizações fazem interna e externamente, durante todo o ano. Por isso, dedico boa parte do meu dia fazendo reuniões com lideranças e equipes, criando um trabalho de conscientização e, ao mesmo mostrando as possibilidades a partir de novas perspectivas. Quando as pessoas se sentem ouvidas, acolhidas e felizes, isso reverbera naturalmente na cadeia de produção, na inovação e em tudo que fazemos dentro e fora da companhia, e naturalmente, na realidade do nosso consumidor. Na Amazon Brasil, somos mais de 10 mil funcionários diretos e indiretos, e no mundo somos cerca de 1.5 milhões, representados por uma combinação infinita de perfis cheios de potencial e ávidos por oportunidades de desenvolvimento.
As pessoas querem ser quem são em sua plenitude. Se eu tivesse este mesmo olhar para o mundo antes, teria assumido mais cedo quem eu realmente sou com meu cabelo crespo, volumoso, minha feminilidade e meu caos interno. Teria com certeza sido mais feliz, pois é dessa forma que eu produzo mais. Foram anos alisando meus fios em busca de atender às expectativas do mundo, como se eu só pudesse ter sucesso e crescer na carreira se eu fosse de um determinado jeito.
Eu tinha pouca autoestima e autoconsciência de quem eu era na época, e isso cerceou muitas possibilidades. Mas de um jeito ou de outro eu me desenvolvi. Não acho que precisa ser com sofrimento, por isso trabalho para que os ambientes corporativos sejam mais acolhedores a versão real das pessoas. Hoje acredito que autenticidade é capaz de empoderar as pessoas para que elas se sintam reconhecidas e tenham a oportunidade de conquistar seu lugar ao sol.
Eu gosto muito de uma palavra japonesa: Ikigai. Ela traduz a filosofia por traz do sentimento de que vale a pena acordar e viver, porque você tem um caminho e um propósito. E trabalhando na área de Diversidade, Equidade e Inclusão, onde consigo unir a minha Profissão, com minha Paixão, Missão e Vocação, encontro meu propósito e minha motivação diária. Eu enxergo um grande espaço e abertura para seguimos adiante nessa luta de maneira intencional e proativa.
Recebo muitos feedbacks após reuniões, ou eventos, de pessoas com os olhos brilhando e felizes por presenciarem o impulsionamento da diversidade e da inclusão. Sei bem das dificuldades para colocar em prática ações e projetos com essa temática como parte dos negócios das empresas, mas temos tudo para ganhar ritmo e aumentar o engajamento das ações, ao mesmo tempo em que damos nossa contribuição para um mundo melhor, mais justo, inclusivo e diverso. O caminho é longo, mas é uma caminhada que vale muito a pena…