Será que ainda cabe falarmos em desafios do home office? Afinal, já estamos há meses trabalhando neste formato remoto. Pensando num mundo volátil como é o nosso, onde a gente tem que se adaptar rapidamente a tudo, a resposta seria não. Não existe mais desafio algum.
Mas algo ainda se discute pouco: a preferência dos profissionais. Cada vez mais, eles podem escolher onde e para quem trabalhar. O que passa a exigir que o RH se adapte caso queira manter e atrair os melhores talentos. E para contribuir nessa missão, estabelecer um modelo híbrido pode ser uma boa alternativa, com dias da semana no escritório e outros, em casa.
A pandemia abriu a cabeça dos gestores de Recursos Humanos, principalmente, para trazer mais possibilidades, sermos mais ecológicos e melhorar a qualidade de vida dos colaboradores, para que eles possam dedicar mais tempo aos estudos, à casa e à família como um todo.
Por isso, reforço: temos de falar de outra dimensão e não mais de desafio. Temos que destacar as novas possibilidades que se abrem. Segundo o estudo “Série Global Stakeholder – O Futuro do Trabalho, Agora”, realizado pela Salesforce, 52% dos profissionais estão dispostos a pedir demissão por um novo emprego totalmente remoto.
Inicialmente, o RH estava mais voltado ao employee experience, ou seja, a gerar uma boa experiência aos colaboradores dentro do escritório. Então, as empresas mais inovadoras tinham escritórios cools, com mesa de sinuca, pebolim, jogos, sofás, sem dress code, comidinhas gostosas, snacks, frutas. Ou seja, levávamos a casa das pessoas para dentro do escritório. Essa era a experiência.
Quando estamos em home office, o sentimento de estar em casa pode dificultar que as pessoas assumam também os seus compromissos profissionais. Então, devemos levar o escritório para a casa das pessoas. Além das cadeiras e mesas ergonômicas, ofertar-lhes algo que remeta ao ambiente profissional, para que ele se lembre e tenha consciência de que está trabalhando, mas da sua casa.
Outra questão que acho essencial tratarmos aqui é a produtividade. Ao contrário do que se temia no começo da pandemia, ela não caiu. O que aconteceu foi que o colaborador ajustou o seu horário. E as empresas também entenderam que cada pessoa tem um tempo de trabalho. Há funcionários que trabalham muito bem pela manhã e a produtividade vai caindo ao longo do dia. Já, outros produzem muito mais e melhor no final da tarde. Então, cada colaborador teve a oportunidade de ajustar em si como ele melhor desempenha suas funções. E está tudo bem.
Isso me remete diretamente a algo que precisa ser revisto, com ou sem pandemia: o controle da jornada de trabalho. Esse controle significa dar muitos passos para trás. Infelizmente, a nossa legislação obriga que controlemos o horário de trabalho das pessoas. Mas isso é irrelevante quando trabalhamos por entrega. Se aquele colaborador trabalha bem e produz melhor em determinado horário, por que restringi-lo?
A liderança precisa entender como cada um dos seus colaboradores trabalha. Como cada pessoa funciona e os estilos de comunicação e o que espera de retorno de entrega. Claro que, quando trabalhamos com profissionais em desenvolvimento, o acompanhamento precisa ser mais próximo, pois ele demanda isso. Precisa de orientação. Até mesmo de ajuda para se descobrir o ritmo dele no trabalho.
Como recrutadora, gosto muito de ampliar o leque e ter mais possibilidades de contratar profissionais de todos os lugares do Brasil e do mundo. E o trabalho remoto nos mostrou que isso é possível. Ter pessoas com opiniões, experiências e culturas distintas traz, de fato, a diversidade para dentro da empresa. Aqui na Lendico já contratamos pessoas de fora de São Paulo, estado sede da companhia, e foi muito especial não perder a oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis simplesmente por uma limitação geográfica. E teremos mais contratações pelo Brasil e, por que não, pelo mundo!
Também fazemos questão que os gestores e o RH estejam à frente do chamado onboarding na empresa, que nada mais é do que a recepção de novos colaboradores como prioridade número um. Contratamos muitos profissionais durante a pandemia e não podemos simplesmente “largá-los” sozinhos em suas casas. É o momento de trazê-los para perto da empresa, de estar junto, de treinar, interagir e manter a experiência de ser membro de um grande time.
Então, quando falamos de tratar o trabalho remoto em outra dimensão, a inserção de novos colaboradores mudou e requer uma atenção muito especial. Saber como ele está sendo inserido no processo, como está seu estado emocional, se ele precisa de suporte é essencial para oferecer o home office experience. Isso sempre foi importante, mas agora é cada vez mais.
Por Rode Ziembick, Chief People Officer da Lendico