Transformando o mercado financeiro através da liderança
Patrícia Furtado, Chief Financial Officer do BNY Mellon para América Latina.
É possível promover diversidade e inclusão no mercado financeiro
Depois de completar 30 anos de carreira e perto de celebrar uma década no BNY Mellon este ano, é impossível não refletir sobre a trajetória que construí no mercado financeiro. Ao longo desses anos, desenvolvi um propósito claro e apaixonante: empoderar mulheres e grupos de minorias, que muitas vezes são sub-representados em um ambiente predominantemente masculino.
Apesar das mulheres representarem 50% da base total de colaboradores do mercado financeiro, apenas 2 em cada 10 executivos do mercado financeiro são do gênero feminino. Esses dados da 36ª Pesquisa Financial Services Industry, da Mercer, são apenas uma amostra da realidade do mercado financeiro.
Navegar por questões de diversidade, inclusão e equidade no mundo das finanças não é apenas uma escolha, mas uma missão que abracei. Acredito que é possível, sim, conciliar a paixão pela própria profissão com a promoção de um propósito maior, onde cada ação nutre um ambiente mais justo para que todos tenham a oportunidade de prosperar independentemente de sua origem ou identidade, e nesse caso, o mercado financeiro é um ambiente que vale atenção, por ser historicamente um ambiente pouco diverso, principalmente quando falamos em posições de lideranças.
Noto que atualmente muitos profissionais buscam esse propósito em outras atividades, até mesmo abandonam uma carreira de sucesso, por não acharem uma forma de conciliar as duas coisas. 62% dos entrevistados de uma pesquisa, realizada pelo Indeed e Glassdoor em 2023 com trabalhadores norte-americanos, disseram que considerariam recusar uma oferta de emprego ou deixar uma empresa se soubessem que seu gerente não apoia iniciativas de diversidade. Esse movimento tem afetado também a entrada de jovens talentos no mercado financeiro, por isso a atração de jovens tem sido um dos focos da minha atuação.
Nesse contexto, considero fundamental a diversidade de formações e perfis que enriquecem o processo de tomada de decisões e posicionamento no mercado, fomentando a inovação e gerando resultados mais sólidos.
Essa visão, coincidentemente, se alinha às metodologias ágeis, que vem sendo adotadas cada vez mais nas empresas do mercado financeiro, pela própria característica do setor que exige uma adaptação e resposta rápida a um ambiente tão dinâmico. Nas equipes ágeis, a diversidade de experiências, habilidades e pontos de vista pode levar a soluções mais inovadoras e eficazes. Ao incorporar uma variedade de pontos de vista, incentivamos o trabalho em equipe, a auto-organização, a comunicação frequente e a entrega de valor. Além disso, esse é um caminho de via dupla, já que a abordagem ágil, com seu foco em comunicação aberta, feedback contínuo e colaboração próxima entre os membros da equipe, propicia um ambiente favorável para promover a diversidade e a inclusão.
Ao promover a diversidade, não estamos cumprindo apenas um papel ético, mas impulsionamos a inovação e o crescimento sustentável ao permitir que talentos diversos contribuam com suas perspectivas. Um estudo realizado em 2022 pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) aponta que para cada 10% de elevação da diversidade de gênero, acontece um salto de 5% na produtividade das empresas. Já no caso da diversidade étnico-racial, o salto é de quase 4%.
Em minha jornada, tive a oportunidade de circular por grupos de diversidade no papel de executive sponsor como num grupo dedicado ao público LGBTQIA+, que facilitou a consideração de outras realidades. E recentemente, me juntei a um outro que busca valorizar a diversidade cultural e promover um ambiente igualitário onde todos possam ter as mesmas oportunidades, independentemente de suas origens étnicas, socioeconômicas, culturais e religiosas.
Essas experiências são enriquecedoras, pois me permitiu sair da zona de conforto e entender a importância de ser uma aliada e conhecer a falta de representatividade em determinados contextos.
O meu comprometimento é criar um ambiente de trabalho inclusivo e equitativo focado na diversidade. Essa ampliação de responsabilidades, que inclui no meu dia a dia atividades com esse olhar, representa não apenas um desafio, mas uma oportunidade de continuar impactando positivamente a cultura da empresa onde atuo, mas também na sociedade, tornando-a mais inclusiva e justa.
Participar ativamente de grupos de diversidade e inclusão proporciona não apenas a oportunidade de influenciar a cultura da empresa, mas também de inspirar e mobilizar colegas. A conexão com a comunidade financeira por meio de eventos, parcerias e iniciativas educacionais é uma estratégia eficaz para impulsionar a conscientização e a transformação.
A diversidade deve ser encarada como uma jornada contínua. Não se trata apenas de números e métricas, mas do compromisso em criar um ambiente onde todos possam prosperar, independentemente de suas diferenças. A diversidade e inclusão no mercado financeiro não são apenas uma tendência, mas uma necessidade premente. Como profissionais, temos a responsabilidade de promover mudanças significativas e criar um ambiente que reflita verdadeiramente o mundo que nos cerca.