Para que o discurso da diversidade, equidade e inclusão não fique apenas no papel, precisamos arregaçar as mangas e deixar, sem medo, que a vulnerabilidade também entre em cena
Juliana Clemente é líder de Recursos Humanos na Amazon Logística, no Brasil.
No mundo corporativo, vulnerabilidade não é um termo muito associado à cultura de alta produtividade e velocidade à qual estamos expostos diariamente. Nesta rotina, ser vulnerável e não esconder suas fraquezas é praticar o maior ato de coragem e inteligência emocional que um profissional pode realizar. Quando você ainda se identifica como mulher, se despir de todos os “pré-conceitos” e medos pode ser mais desafiador e transformador.
Quando iniciei a minha jornada profissional como engenheira de alimentos, o setor era majoritariamente dominado por homens, como em todas as “engenharias”. E foi com o suporte de outra mulher que consegui o meu primeiro estágio em uma fábrica para aprender na prática o que significa a força da união feminina. E mais do que isso: entendi a importância do olhar empático com o qual procuro exercer a minha liderança hoje na Amazon.
Em todas as minhas equipes, busco sempre perfis diferentes e que possam se complementar. Isso é necessário para que possamos incluir todos os tipos de pessoas e enxergar o mundo além do nosso universo. Em uma empresa como a Amazon, que além de se preocupar com um ambiente de trabalho diverso, equitativo e inclusivo, também trabalha com determinação para conquistar e manter a confiança do cliente, precisamos apoiar e trazer outras perspectivas para atender melhor nossos consumidores e, também, construir um mundo melhor e com mais inclusão.
Para que o discurso da diversidade, equidade e inclusão não fique apenas no papel, precisamos arregaçar as mangas e deixar, sem medo, que a vulnerabilidade também entre em cena. Precisamos promover um espaço seguro para que todos e todas possam se sentir à vontade, uma vez que as dinâmicas e histórias pessoais têm impacto direto no rendimento de cada um. Pessoas de grupos minoritários, por exemplo, quando não encontram um ambiente acolhedor, tendem a apresentar maiores níveis de estresse e pressão e, por isso, um menor índice de rendimento e felicidade no trabalho.
Desde 1º de janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incorporou a síndrome de burnout, também conhecida como síndrome de esgotamento profissional, à lista de doenças ocupacionais, garantindo às pessoas diagnosticadas as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para as demais enfermidades causadas pelo trabalho. Essa decisão acontece em um momento em que saúde mental e, principalmente, a fuga do esgotamento profissional, que é considerado o mal do novo século, é um dos principais temas discutidos nas empresas mundo afora.
Segundo o estudo “Mulher no mercado de trabalho”, realizado pela organização Lean In, que impulsiona a equidade de gênero, em parceria com a empresa de consultoria empresarial, McKinsey, entre 2015 e 2021, 42% das mulheres declararam sofrer com estresse excessivo ou burnout. O número é 7% a mais do que o percentual masculino. E mais que o dobro das que estão em posições de liderança relatam que são interrompidas ou falam significativamente menos durante as reuniões, quando comparadas aos seus pares homens. Enquanto isso, cerca de três em cada dez líderes femininas sentem que sua opinião é sempre questionada, mesmo estando na sua área de expertise.
Para enfrentar estes desafios, organizei grupos de mulheres que compartilhavam situações similares. Ter um grupo que entendesse minhas necessidades, me apoiasse em momentos desafiadores profissionais e pessoais, compartilhasse minhas conquistas e trouxesse leveza ao meu dia a dia foi fundamental para o meu crescimento. Sem elas, eu não chegaria aonde estou. Hoje, entendo que pedir ajuda é fundamental. Portanto, temos que fomentar tais atitudes, para apoiar e moldar uma próxima geração de profissionais com uma mentalidade mais livre, ao mesmo tempo em que os inspiramos para gerar verdadeiros aliados na luta pela equidade de gênero.
Quando englobamos a equidade, estamos adotando também a diversidade e a inclusão, ou seja, não adianta desenhar benefícios apenas para mulheres se queremos que os homens também compartilhem papéis que ainda hoje, são feitos por mulheres. Hoje, posso viver e exercer isso de forma constante no meu trabalho, revisando constantemente nossas ações para que todos e todas da Amazon tenham oportunidades de carreira, benefícios e pacote de remuneração competitivo, o que gera autonomia financeira e poder de escolha.
Seguiremos sempre buscando melhorar, mas precisamos aceitar que somos seres imperfeitos, abraçando cada um do jeito que é e criando uma cultura de vulnerabilidade para trazermos o melhor das nossas equipes. Precisamos nos acostumar a gerar oportunidades para expor nossos sentimentos e expectativas a fim de construirmos um ambiente de trabalho que realmente apoie as pessoas em sua expressão máxima e acolha a diversidade de cada um em sua perfeita magnitude.