Diante da dificuldade em encontrar uma vaga, cresce o desalento de quem procura emprego: para mudar isso, empresas precisam mudar a lógica de seus processos de seleção
Os números de desemprego do primeiro trimestre de 2022 mostraram uma taxa de 8,4%, a menor para o período em oito anos. Mas, por trás deste número aparentemente positivo, há diversos dados que mostram a subutilização da mão de obra brasileira e o desalento das pessoas que procuram emprego há muito tempo. Por isso, empresas de educação e recolocação profissional sabem que há um grande trabalho a ser feito para recuperar a autoestima do trabalhador brasileiro.
As provas do desânimo de boa parte dos trabalhadores estão tanto nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto nos dados de entidades globais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Hoje, segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 4 milhões de desalentados, denominação para pessoas que desistiram de procurar emprego após inúmeras tentativas de encontrar uma vaga. Além disso, a subutilização da força de trabalho chega a 18,7% – são brasileiros que gostariam de produzir mais.
O problema afeta sobretudo os trabalhadores de renda mais baixa, que têm acesso a um leque menor de oportunidades de trabalho – reflexo direto das desigualdades do País. É uma questão alarmante e que pode afetar a vida profissional no longo prazo. Esse desânimo pode ser percebido mais fortemente no público mais jovem. Em janeiro, a OIT divulgou que 23% dos jovens brasileiros (quase 1 em cada 4) nem estudam nem trabalham.
Trata-se de um círculo vicioso que pode ser superado com uma mudança no método de seleção das empresas. Embora seja necessário entender o perfil de cada pessoa para identificar pontos a ser desenvolvidos, é importante também entender quais são as fortalezas de cada profissional.
Focar nos pontos fortes é fundamental – e não se trata de um otimismo exagerado. Essa estratégia permite identificar habilidades que podem ser reforçadas e desenvolvidas, ampliando a produtividade daquele indivíduo. Além disso, a técnica ajuda na definição de metas profissionais realistas e na construção da reputação em uma determinada área – o que pode levar a mais oportunidades de carreira no médio e longo prazo.
Assim, em vez de repetir os motivos pelos quais as pessoas não são capazes de evoluir na carreira, os recrutadores do futuro devem olhar o candidato sob um novo prisma, ajudando a combater o medo de assumir riscos por receio de não ser capaz de cumprir uma tarefa, pela noção de que uma carreira sólida não está ao alcance e pela dificuldade de lidar com o fracasso, o que leva à desistência da busca por oportunidades.
Quem sabe, ao adotar esse novo “approach”, as empresas brasileiras não apenas terão a chance de conseguir preencher com mais facilidade as vagas que têm em aberto, mas também poderão auxiliar no aumento da esperança do trabalhador em busca do sucesso.
Alexandre Max – CEO da Vivae, plataforma de cursos profissionalizantes e de busca de vagas da Vivo e da Ânima Educação