Pesquisa de Barbara Lespinasse aponta como o setor de Recursos Humanos pode gerar valor real em contextos de transformação acelerada e reforça o protagonismo do RH nas decisões de negócio.
Em um ambiente corporativo cada vez mais instável, onde mudanças tecnológicas, econômicas e sociais desafiam modelos tradicionais de gestão, o papel do RH está em plena reinvenção. E foi exatamente sobre essa transformação que se debruçou Barbara Lespinasse, executiva com mais de 15 anos de experiência em Recursos Humanos, segurança do trabalho, sustentabilidade, gestão da mudança e compliance.
Sua tese de doutorado, defendida na Universidade de São Paulo (USP), foi indicada como uma das melhores da instituição para concorrer ao Prêmio Tese de Destaque USP, e lança luz sobre um dos temas mais urgentes da atualidade: o valor estratégico do RH em um mundo VUCA.
A sigla VUCA — acrônimo em inglês para Volatilidade, Incerteza (Uncertainty), Complexidade e Ambiguidade — tem se consolidado como um dos conceitos mais discutidos no meio corporativo. Segundo Barbara, esse cenário de rupturas frequentes exige mais do que resiliência das organizações: demanda adaptação contínua, visão sistêmica e capacidade de resposta rápida às mudanças.
“Estamos vivendo uma ruptura sem precedentes nos modelos de gestão de pessoas. As estruturas tradicionais não respondem mais à realidade do negócio”, afirma a executiva.
Da vivência corporativa à produção acadêmica
Com uma trajetória marcada por cargos de liderança em grandes empresas, Barbara decidiu levar sua prática profissional para o campo da pesquisa acadêmica. O objetivo era claro: entender de forma mais profunda como o RH pode gerar valor em tempos de transformação acelerada, e quais capacidades organizacionais são necessárias para isso.
A resposta está na aplicação das chamadas capacidades dinâmicas, um conceito da literatura de gestão que envolve a habilidade das organizações de sentir, aprender, se transformar e se renovar continuamente. “Minha proposta foi justamente investigar de que forma o RH, ao desenvolver essas capacidades, pode assumir um papel estratégico nas empresas”, explica.
Três pilares de atuação para o RH em tempos de mudança
Baseada em entrevistas com líderes de RH e gestores de linha, a pesquisa identificou três grandes frentes em que o setor tem exercido protagonismo ao desenvolver essas capacidades dinâmicas:
Integração estratégica com o negócio – O RH atua como parceiro da alta liderança, antecipando tendências, influenciando decisões e apoiando o planejamento de longo prazo.
Apoio direto aos gestores – A área funciona como uma consultoria interna, oferecendo suporte personalizado para líderes e ajudando a alinhar comportamentos e metas à estratégia organizacional.
Redesenho de processos e estruturas – O RH promove ajustes ágeis nas práticas de gestão de pessoas, reconfigurando estruturas e fluxos com foco em eficiência e geração de valor.
“Essas três frentes mostram que o RH está deixando de ser um mero executor de políticas para se tornar um agente ativo de transformação. Em um mundo VUCA, o valor está na capacidade de adaptação constante”, reforça Barbara.
Impacto acadêmico e contribuição prática
Além de preencher uma lacuna na literatura internacional — onde as capacidades dinâmicas ainda são pouco exploradas sob a ótica do RH — a tese traz contribuições práticas para gestores que enfrentam ambientes turbulentos. Barbara destaca que a pesquisa oferece um modelo que pode ser replicado por empresas que desejam evoluir na maturidade da área de Gente e Gestão e se alinhar com as demandas de um mercado em constante mudança.
“A minha intenção sempre foi que essa pesquisa pudesse ser útil para quem está no dia a dia. O RH pode ser protagonista da inovação e da sustentabilidade organizacional — desde que tenha as ferramentas certas e a visão estratégica adequada.”
RH estrategista: um caminho sem volta
O reconhecimento da USP à tese de Barbara Lespinasse fortalece um movimento que já está em curso nas empresas mais inovadoras: o de enxergar o RH como estrategista, influenciador e adaptador organizacional. A transição para um modelo de gestão mais dinâmico, alinhado aos desafios do século 21, passa obrigatoriamente pelo fortalecimento da área de Recursos Humanos.
“Não basta mais implementar políticas. O RH precisa estar preparado para influenciar decisões, liderar mudanças e construir ambientes capazes de evoluir constantemente”, conclui Barbara.
No mundo volátil que se desenha, a experiência prática aliada à profundidade acadêmica pode ser a chave para desbloquear o verdadeiro potencial do RH — e fazer da área um dos principais motores de inovação e crescimento sustentável nas organizações.