Ser mulher e empreendedora no Brasil já é um grande desafio. Agora, imagine somar a isso a luta diária contra o racismo estrutural e a invisibilidade histórica das mulheres pretas em posições de destaque.
Karina Paraíso, paulistana, formada em TI (Senai) e em RH, com especialização em Psicologia Organizacional.
No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, refletimos sobre o impacto do racismo estrutural em todas as esferas da sociedade. Para mulheres pretas, empreender é um ato de resistência, sobrevivência e, acima de tudo, de construção de um legado.
Ser mulher e empreendedora já é difícil. Ser mulher, preta e empreendedora é carregar não apenas os próprios sonhos, mas também a responsabilidade de transformar um sistema que historicamente nos excluiu.
Em um cenário no qual as mulheres pretas representam uma parcela significativa da população brasileira, seu impacto no empreendedorismo não pode ser ignorado. Segundo o SEBRAE, mulheres negras lideram o crescimento no número de novos negócios, especialmente no setor de serviços. Apesar disso, o racismo ainda afeta profundamente o acesso ao crédito, a confiança do mercado e a valorização do trabalho. O Dia da Consciência Negra nos lembra que é urgente discutir essas desigualdades, não apenas como um problema social, mas como uma barreira ao progresso econômico do país.
Minha jornada como empreendedora preta é marcada por desafios e aprendizados que vão muito além da gestão de um negócio. Já sofri racismo e perdi clientes por ser quem sou. No início, essas situações me feriram profundamente, mas hoje são cicatrizes que contam uma história de resiliência e força.
No Donas do Online, minha empresa, busco transformar essa experiência em ação. Com um time 100% feminino, estabeleci a meta de que, até 2026, pelo menos 80% das mulheres da equipe sejam pretas. Essa não é apenas uma decisão estratégica, mas uma forma de abrir portas para talentos que muitas vezes são negligenciados por um mercado que ainda privilegia os mesmos padrões de sempre.
No contexto da Consciência Negra, empreender não é apenas sobre lucrar. É sobre representar. É sobre ocupar espaços que historicamente nos foram negados e torná-los acessíveis para as próximas gerações.
Ser mulher preta e empreendedora significa trabalhar o dobro para ser levada a sério, ser “mais” em tudo – mais competente, mais profissional, mais perfeita. É um fardo pesado, mas que carrego sabendo que cada conquista abre caminhos para outras mulheres pretas que sonham empreender sem essas amarras.
No empreendedorismo, isso significa investir em representatividade, criar programas de incentivo para mulheres pretas e abrir espaços de mentoria e aprendizado. Infelizmente, ainda é raro encontrar mulheres pretas em posições de liderança dispostas a mentorar outras empreendedoras pretas. Por isso, me comprometo, enquanto empresária, a ser essa referência para outras mulheres, compartilhando aprendizados e estratégias para crescer no mercado digital e além dele.
Neste mês da Consciência Negra, quero reforçar que cada mulher preta que empreende está escrevendo um capítulo essencial da história do Brasil. Estamos transformando sonhos em negócios, negócios em legados e legados em futuros mais justos e igualitários.