Projeto “E se eu fosse você?” permite aos colaboradores trocarem suas funções e departamentos
E se eu fosse você? E se você estivesse no meu lugar? O que você faria se fosse diretor? O que faria se estivesse em outro departamento? Será que o seu comentário estando de fora será igual a sua postura quando estiver exercendo a função da qual critica? Com tantas dúvidas só mesmo invertendo os papéis. E foi assim que nasceu o projeto “E se eu fosse você?”.
É sabido que todos nós possuímos subjetividade. Pensamos e agimos de maneiras semelhantes ou distintas dependendo do ambiente e tipo de situação. Acabamos, por vezes, criticando ou pelo mero “achismo”, dando ao serviço/trabalho do outro um viés de mais simples do que parece, ou que poderia ser feito de outra maneira.
O problema é que, quando entramos no ambiente do outro sem propriedade, não conseguimos entender todas as curvas, quantos caminhos são necessários para se chegar aqui ou ali, e acabamos, com um enorme juízo de valor, colaborando negativamente para o clima organizacional como um todo. E a pior coisa que pode existir dentro de uma empresa, independente do seu tamanho, é o ruído e o desgaste.
Foi buscando eliminar essa vertente que nasceu em nossa empresa o projeto de RH chamado “Se eu fosse você”. Fazemos uma alusão ao famoso filme cujos protagonistas eram Tony Ramos e Glória Pires. Na trama, por uma situação mágica, eles acabam mudando de sexo e vivendo uma vida completamente diferente. Porém nosso objetivo corporativo é mudar de atividade, sair da zona de conforto e, de certa forma, atuar na posição do outro. Assim, passamos a entender as dores, a conhecer os desafios, e por vezes, muitas vezes, a indicar analgésicos, não mais poluídos de crítica destrutiva, e sim construtiva, pois se passarmos a entender e a viver, vivenciar, talvez nossa ideia também mude.
O projeto foi desenhado para duas trocas: em um mês sorteamos três colaboradores para serem “diretores” por um dia. O sorteado escolhe qual diretoria quer exercer, e sem perder mais um minuto senta-se a mesa, e passa a vivenciar os problemas de cunho, em tese, mais estratégicos. Nesse momento é comum a desmistificação de que diretores não fazem nada bem como aquela sensação de que os profissionais sempre rendem menos do que os diretores esperam.
No papel de diretor, o colaborador se depara com a sofisticação de atividades, mas também percebe que sempre há coisas simples a serem feitas. Vivem “na pele” aquele sentimento de que “o caro não sobrevive sem o barato”, e que independentemente de onde o profissional se encontrar na sua carreira, sempre haverá tarefas mais complexas e mais simplistas.
Já no mês seguinte é a vez do job rotation acontecer entre os departamentos, buscando gerar sinergia, diminuir ruídos de comunicação, aumentar a colaboração, e fomentar ideias novas, das quais as pessoas de fora, podem enxergar melhor do que aquelas que estão dentro do ciclo do problema. O principal motivador deste projeto é a continuidade na estrutura motivacional de nossa equipe, que dentro de uma escala piramidal, acaba sendo o grande vilão das inconsistências, que quando mapeadas são diagnosticadas de três formas: processos, pessoas, ferramentas.
Pessoas desmotivadas tendem a não utilizar as ferramentas de forma correta, com tendência igual ao não cumprimento de processos e procedimentos, e o pior, sem nenhuma justificativa, apenas não cumprem, não fazem, não seguem padrões, e, por conseguinte acabam se afastando das melhores práticas.
Obviamente não esperamos que os resultados das políticas de RH acendam apenas com um único projeto, por isso temos diversas outras frentes de ação que, somadas, sem modéstia, nos colocam num patamar aproximado de grandes empresas e de políticas motivacionais robustas, resguardando, é claro, a proporcionalidade e o investimento que é possível darmos ao departamento, afinal somos 45 colaboradores no total, tendo 3 pessoas dedicadas ao RH interno.
Temos orgulho do que estamos fazendo e temos convicção de que estamos no caminho certo. Não podemos perder o foco e temos que sempre levar em consideração que, por mais que haja propósito ímpar, ainda assim teremos pessoas e empresas que verão as iniciativas como desnecessárias, porém é necessário continuar, insistir, persistir.
Por Sérvulo Mendonça é especialista em Compliance e diretor do Grupo Insigne-Audiplanus