Grandes empresas adotam bônus e remuneração variável para incentivar a presença no escritório, enquanto especialistas questionam a eficácia da estratégia no engajamento e retenção de talentos.
A disputa entre empresas e colaboradores sobre o modelo de trabalho ganhou um novo capítulo. Com muitas companhias insistindo no retorno ao escritório, agora a estratégia vai além da simples exigência: bônus e remuneração variável estão sendo atrelados à presença física. Grandes corporações como Deloitte, Google, TCS e Lloyds Banking Group já adotaram ou anunciaram políticas que recompensam financeiramente os funcionários que comparecem presencialmente com frequência.
A Deloitte, por exemplo, informou que a presença no escritório será um fator de peso nas avaliações de desempenho dos trabalhadores da área tributária, podendo impactar diretamente seus benefícios. A regra estipula a necessidade de pelo menos dois a três dias presenciais por semana. Já a Tata Consultancy Services (TCS) adotou um critério ainda mais rígido: funcionários que não comparecem ao escritório ao menos 60% do tempo perdem o pagamento variável, enquanto aqueles com presença superior a 85% garantem o bônus integral.
A tendência não se limita ao setor de tecnologia e finanças. O Lloyds Banking Group, segundo maior banco do Reino Unido, também anunciou que a frequência presencial será um fator determinante para a distribuição de bônus entre funcionários de nível sênior. No Google, o comparecimento ao escritório passou a influenciar diretamente as avaliações de desempenho, sinalizando que a presença física está se tornando um critério-chave para a progressão na empresa.
Estratégia reversa: pagar para ir ao escritório
Nem todas as empresas estão adotando uma abordagem coercitiva. A Cameo, plataforma de vídeos personalizados, decidiu fazer o oposto e oferecer um incentivo financeiro para atrair funcionários ao escritório. A empresa disponibilizou um adicional de US$ 10 mil anuais (cerca de R$ 58 mil) para aqueles que aceitarem trabalhar presencialmente quatro dias por semana.
Essa nova onda de políticas levanta debates sobre engajamento e retenção de talentos. Para Andre Purri, CEO da Alymente, atrelar benefícios à presença física não garante melhor desempenho. “Pagar pela presença física não garante nem resultados nem engajamento. Profissionais que não se identificam com esse modelo tendem a buscar novas oportunidades, com ou sem bônus”, argumenta.
Retorno ao escritório: tendência ou erro estratégico?
O debate sobre o retorno presencial se intensificou com decisões de gigantes como Amazon, JPMorgan e Goldman Sachs, que já exigem a volta integral ao escritório. Para muitas empresas, essa medida busca reforçar a cultura organizacional e aumentar a produtividade. No entanto, há questionamentos sobre sua real eficácia.
“Os programas de incentivos deveriam estar a serviço do cumprimento de metas de negócio, não apenas da presença física”, reforça Purri. O desafio, portanto, é equilibrar a necessidade de interação presencial com a flexibilidade que os profissionais modernos valorizam.
Diante dessa nova realidade, o que prevalecerá no futuro do trabalho? A estratégia de atrelar benefícios ao modelo presencial conquistará adesão ou provocará uma fuga de talentos para empresas mais flexíveis? O cenário segue em transformação, e as respostas só virão com o tempo.