Estes trabalhadores não querem ser vistos apenas como recursos de uma empresa, mas como pessoas, na sua individualidade, que ali produzem, que querem se desenvolver e que estejam alinhadas ao que a empresa entrega para a sociedade de forma positiva
Aleks Mesquita, CEO e Founder da Ama.elo Saúde Mental
O mundo passa por uma grande transformação no modelo de trabalho. Os
mais jovens, millenials (nascidos entre 1980 a 1994) e Geração Z
(1995 a 2010), não acreditam no conceito de ingressar numa empresa e
permanecer lá pelo resto de suas vidas, independente do que
aconteça. Sucesso na carreira, para eles, passa longe disso. São
gerações que acreditam muito mais no conceito de trabalho baseado
num propósito, em algo que faça com que se sintam motivados e
engajados, em algo que leve a um crescimento não só profissional,
mas também pessoal.
Estes trabalhadores não querem ser vistos apenas como recursos de uma
empresa, mas como pessoas, na sua individualidade, que ali produzem,
que querem se desenvolver e que estejam alinhadas ao que a empresa
entrega para a sociedade de forma positiva. Este comportamento, que
já se mostrava com força dez anos atrás, se potencializou após a
pandemia, quando muitas pessoas pararam para ressignificar sua vida,
trabalho, o que está acontecendo no mundo e o tempo que podem ter de
vida.
Resultado destas reflexões, uma grande onda de demissões
voluntárias atingiu o Brasil, depois de chegar com força nos Estados
Unidos e Europa. Foram 2,9 milhões entre os meses de janeiro a maio
deste ano, um aumento de 32,5% em relação ao mesmo período de 2021.
Essa modalidade representou 33,4% de todos os desligamentos
registrados nesses cinco meses (dados da gerência de Estudos
Econômicos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro –
Firjan).
São profissionais que não querem permanecer no emprego só por conta
do salário ou mesmo por benefícios que a empresa lutou bastante para
conseguir organizar e oferecer. E isso vem impactando fortemente as
organizações, tendo em vista que elas não têm mais tanta
facilidade para reter um bom talento.
Não que já tenha sido fácil, uma vez que já existia um grande
esforço dedicado para investir na capacitação, crescimento,
melhoria, fortalecimento da cultura organizacional junto aos talentos.
Mas mesmo assim as empresas enfrentam dificuldade para retê-los, caso
haja algum desalinhamento no propósito.
E um dos pontos que mais tem impactado atualmente é a segurança
psicológica. Em um ano de atuação da Amar.Elo Saúde Mental junto a
corporações do Brasil inteiro, já é possível constatar a
diferença que um ambiente emocionalmente sustentável faz no ganho de
capacidade e retenção de talentos. Se o colaborador percebe que
está inserido em um local que não é tóxico, onde tem a liberdade
de se desenvolver, de falar abertamente sobre quem ele é, como é e o
que sente, isso lhe deixará mais confortável, mais suscetível a
não buscar lá fora outras oportunidade.
É claro que a remuneração adequada e a possibilidade de crescimento
continuam fazendo parte deste tripé. Realizado em 2021 com 3.770
ouvintes, o estudo Marca Empregadora da Randstad, consultoria global
de RH, a progressão na carreira foi o fator mais importante para 77%
dos trabalhadores brasileiros na hora de escolher um emprego; e
salários, benefícios e um ambiente de trabalho agradável aparecem
colados na segunda posição do ranking geral, com 74%.
Ou seja, um ambiente que ofereça segurança para viver de forma
tranquila, sem assédio emocional, permitirá mais entregas
espontâneas. Como bem se sabe, as gerações mais novas estão
atentas ao discurso atrelado à prática, então chegarão mais longe
as instituições que de fato proporcionem sustentabilidade emocional
por meio do acesso à saúde mental de seus colaboradores.