Por Lilian Giorgi, diretora sênior de Recursos Humanos da Alvarez & Marsal Brasil
No Brasil, por lei, companhias que tenham mais de 100 colaboradores em seu quadro devem reservar um percentual das vagas de emprego para pessoas com deficiência (PcD). No entanto, o que se tem visto no mercado é uma realidade completamente diferente. Não no que diz respeito à oferta, mas pela não ocupação dos postos de trabalho por parte deste público especificamente. Ao mesmo tempo em que o número de brasileiros ocupados vai se recuperando de modo tímido, internamente, as empresas observam uma certa dificuldade para o preenchimento integral das vagas para PcD.
Na Alvarez & Marsal, por exemplo, estamos com 30 vagas abertas (link para inscrições: https://lnkd.in/drBYwCnb). No entanto, assim como tantas outras empresas espalhadas pelo Brasil, ainda sentimos uma certa dificuldade para o preenchimento total. De modo geral, é evidente que em algum momento o elo entre o candidato e a vaga está se perdendo. A conexão está sendo quebrada e precisamos entender de maneira aprofundada o que está acontecendo.
Na atual conjuntura, não acredito que tenhamos brasileiros desinteressados em trabalhar. Não faria sentido. Por isso, insisto em uma melhor compreensão deste cenário. Não será de uma hora para a outra. Teremos que monitorar toda a situação. Afinal, a demanda não é de hoje. E mesmo assim, ainda é pouco debatida.
Ainda este mês, o IBGE irá divulgar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) referente ao segundo trimestre de 2022. Não deveremos ter surpresas, mas certamente iremos constatar uma baixa participação do público PcD no mercado de trabalho. Os números vêm crescendo, contudo, estamos longe dos índices ideais. Estima-se que em todo o país, quase 800 mil vagas para PcD sejam ofertadas atualmente.
O contraste pode ser visto através da Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2021), que mostrou que apenas 1% desses profissionais ocupam essas vagas. Em outros levantamentos, a depender dos fatores que foram considerados, vamos observar que um pouco menos da metade desses postos estão sendo ocupados. Assim, é preciso avaliar cada recorte.
Os novos dados, positivos ou negativos, em baixa ou em alta, virão em um ótimo momento, servindo inclusive de embasamento para o julgamento que acontece em agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) irá avaliar o pedido de um grupo de empresários que defendem a redução ou até mesmo a extinção das cotas para postos de trabalho para PcD e jovens aprendizes. Uma aprovação como esta seria um desserviço para o Brasil. Seria um retrocesso gigantesco. Não dá para olhar a situação de braços cruzados. É preciso levantar esta bandeira, sem partido, sem politicagem. Apenas com o amor e respeito que qualquer pessoa merece.
Pensar em programas específicos que estimulem a ocupação é fundamental. Para avançarmos, não apenas como pessoas, mas como grandes corporações, é necessário que as empresas assumam o seu papel junto à sociedade, rumo a um futuro melhor e mais igualitário. Diagnosticar para solucionar. É a minha visão.