Não existe fórmula mágica para o que somos os primeiros a desbravar
Paula Gallo é chief human resources officer da Conexa, maior player de saúde mental da América Latina
Pela primeira vez que se tem notícia no mundo, passamos pelo momento disruptivo em que diferentes gerações – baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964), geração X (1965-1980), Geração Y ou Millennials (1981-1996) e Geração Z (1997-2010) – trabalham na mesma época e, ocasionalmente, no mesmo ambiente corporativo. Essa conexão intergeracional nos traz a possibilidade de absorver o que há de melhor em cada grupo de faixa etária, e o que os mais jovens têm a ensinar.
Nesse contexto, a primeira “safra” da geração Z completou a maioridade mais recentemente e deve predominar no mundo corporativo nos próximos anos, representando 32% da população mundial, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Na Conexa, maior player de saúde digital da América Latina, onde atuo como chief human resources officer, essa geração representa 65% do total de colaboradores.
A geração digital, nascida a partir de 1994, tem a característica de priorizar a felicidade e adotar, como premissa, um estilo de vida saudável e os cuidados com a saúde, além da preocupação ativa com o meio ambiente e alta capacidade cognitiva em lidar com novas tecnologias. Com menos tempo de exposição ao mundo analógico, estão intimamente ligados às novas tecnologias e têm intimidade com as redes sociais, mas se dividem em dois grupos: os millenials que usam as redes para se manter conectados com amigos e familiares, e a geração Z, cuja boa parte é mais resistente ao uso das redes sociais pelo risco de adoecimento mental.
Há, entretanto, entre os digitais, uma necessidade de aprovação vinda dos likes e comentários, além do medo da cultura do cancelamento. E é entre essa força de trabalho mais jovem que vemos mais insegurança em relação ao desempenho profissional, o que demanda uma grande necessidade e frequência de feedbacks positivos para se sentirem seguros. Acontece que, no dia a dia profissional, essa dinâmica se torna insustentável e a constância do feedback pode não vir.
A chave para ajudá-los nesse entendimento, por mais que pareça óbvia, é aprender a gerenciar expectativas. No livro “Você aguenta ser feliz?”, de Arthur Guerra e Nizan Guanaes, que terminei de ler recentemente, os autores discutem como doenças como ansiedade e depressão impactam a saúde mental e propõem encarar esses problemas com base no tripé: prática de atividade física, alimentação saudável e bons hábitos de saúde (como não fumar e beber em excesso, dormir bem e manter controle emocional).
Esse tema é retroalimentado: a ansiedade está ligada à necessidade de aprovação que gera mais ansiedade. O tema é tão urgente que a Organização Mundial da Saúde, contabiliza que o Brasil tem o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo, com quase 19 milhões de diagnósticos. O tema lidera também o ranking de pesquisa do “Report Anual da Saúde Mental dos Brasileiros”, extraído da plataforma Psicologia Viva, integrante da Conexa, com 20,1% de busca.
Ainda como reflexo do comportamento das redes sociais está a busca pelo resultado imediato, o que também impacta o ansioso. Na carreira, por exemplo, os mais jovens querem alcançar altas posições, mas em curto espaço de tempo, sem as devidas curvas de aprendizado e de preparação que envolve ser líder. Com a pandemia da Covid-19, o cenário ficou ainda mais caótico.
Isso representa um grande desafio para a área de gente e cultura de todas as empresas e impõe a compreensão desse cenário, que é mundial. Exige, ainda, ampliar a discussão entre as lideranças de RH e o C-level, de forma a aproveitar o melhor de cada geração, entendendo que a diversidade etária é extremamente rica, seja para contemplar as reais necessidades de cada stakeholder ou para entender que precisamos acompanhar a evolução da nossa sociedade.
Como eu sempre digo aqui, não existe fórmula mágica para o que somos os primeiros a desbravar. Temos reforçado bastante sobre “viver a nossa jornada” sem tanta ansiedade de querer saber ou antecipar o destino, afinal de contas estamos todos escrevendo parte de um capitulo relevante sobre os novos tempos que estamos vivendo.