O cenário tornou o tema home office natural, imprescindível e necessário
Colunista – Maurício Pedro, gerente do atendimento corporativo do Senac São Paulo
Uma reflexão que está na agenda dos CEOs, dos departamentos de recursos humanos e dos executivos, de modo geral, é o retorno do modelo presencial de trabalho. Dentro desse contexto, há de se considerar aspectos importantes sobre as atividades presenciais em comparação ao home office e a retenção de talentos.
O primeiro deles diz respeito às questões das empresas e de suas necessidades, ou seja, é preciso compreender o quanto o funcionamento da companhia, especificamente de determinadas áreas ou segmentos pode incorporar o trabalho híbrido e permitir que os funcionários realizem suas atividades em casa ou no local que escolherem.
Outro ponto a ser analisado trata da perspectiva do funcionário para entender o quanto as pessoas desejam, de fato, o home office. Essa análise é fundamental e precisa ser feita da maneira racional, deixando de lado perspectivas mais tradicionais com as quais muitas companhias estão acostumadas. Nem sempre um padrão pode ser bom para todos. E, se há, espaço para compartilhar necessidades distintas, a chance de melhorar o engajamento e o clima será maior.
Sobre o futuro das empresas, é possível imaginar múltiplos caminhos. Aquelas que optarem pelo modelo totalmente remoto, devem ter bastante atenção. De modo geral, acho muito difícil que se possa abrir mão totalmente do contato entre os funcionários, pois corre-se o risco de perder o aprendizado coletivo, o senso de pertencimento e a manutenção da cultura organizacional – fatores que podem interferir na sobrevivência e na longevidade. Quando pensamos no aprendizado das pessoas, que interfere na melhoria de seus desempenhos, consideramos a aprendizagem informal com uma das principais formas de desenvolvimento. E, ela acontece pela troca com colegas de trabalho e pela observação. Então, quando miramos à frente, devemos ter em mente que estar no mesmo ambiente de trabalho pode alavancar o aprendizado, melhorar o engajamento e gerar novos aprendizados para todos.
Há instituições que já estão fazendo análises sobre o impacto do home office na cultura organizacional, bem como observando quais foram os aprendizados, principalmente em relação à atração e manutenção de talentos. A reavaliação dos benefícios, com vistas a tornar a empresa mais atrativa, e a valorização do quadro de funcionários são algumas das marcas de corporações que dialogam com a atualidade e buscam equilibrar desejos e necessidades dos funcionários com o que é possível oferecer.
Novas pautas endereçadas pelos RHs
Os departamentos de recursos humanos tiveram que fazer uma imersão muito grande e, como diz o ditado, “trocar o pneu com o carro em movimento”. Isso gerou muito conhecimento e sensibilidade para endereçar pautas que, antes da pandemia, não estavam em discussão, ou mesmo não havia espaço para o debate e implementação.
O cenário tornou o tema home office natural, imprescindível e necessário, mas não se limitou a isso. Assuntos que eram considerados tabu como doenças mentais, que já assolavam as empresas, puderam ser tratados com mais tranquilidade e transparência. Hoje há uma aceitação melhor, inclusive, por parte dos colaboradores de entenderem que é algo que pode acontecer com qualquer um e nesse sentido, se mostrar vulnerável não pode ser mais encarado como um problema.
Nós, seres humanos, temos algumas necessidades básicas e uma delas é que precisamos e queremos ser escutados. Isso faz com que os RHs necessitem dar atenção às demandas dos funcionários e estarem atentos para perceber o que está acontecendo, e pensar em maneiras de equalizar essas demandas à sua realidade. O retorno ao mundo presencial, mesmo que gradual, pede isso e ter esse movimento estabelecido pode ser uma grande condição para gerar um ambiente de engajamento e de motivação.
Nesse sentido, os RHs das empresas devem proporcionar algumas ações que ajudam a combater questões relacionadas aos problemas de saúde emocional. Devem preparar as lideranças para estarem abertas e atentas aos sentimentos, às atitudes e aos comportamentos. Trazer referências para falar do assunto, provocando reflexões para ampliar a compreensão do tema e como melhor lidar com ele.
Não há dúvida de que os líderes são os principais responsáveis por ajudar as empresas a abordarem os temas saúde emocional e mental. O que não faz com que se possa renunciar à ajuda profissional. Entretanto, eles precisam de preparo, treinamento e de orientação, atentando para problemas que não são tão objetivos e carecem de certa sensibilidade para serem devidamente trabalhados.
Por fim, estamos num momento da história em que devemos, sobretudo, observar e aprender antes de tomar grandes decisões de modo precipitado. Por outro lado, porém, há certa urgência nessas decisões e nem sempre temos como postergá-las. Esse é um paradoxo que pode diferenciar as empresas em relação à concorrência. Quanto mais atenta e sensível ao mundo exterior e o reflexo que causa no mundo interior, mais preparada a empresa estará. Precisamos olhar com cuidado o capital humano em todas as situações, seja no modelo cem por cento presencial, no modelo híbrido ou no modelo totalmente remoto. Mas, sobretudo, carecemos de olhares para o humano, para suas necessidades e como equilibrá-las com os objetivos e a missão da organização.