Colunista Mundo RH, Lilian Giorgi, sócia-diretora da Alvarez&Marsal para a América Latina
Sempre que me recordo do dia em que me tornei mãe, mais precisamente do momento em que o Pedro nasceu, vem à mente uma cena muito marcante para mim. Quando os médicos abriram a janela da sala do parto para que os familiares e amigos pudessem vê-lo, imediatamente todos os olhares apaixonados foram diretamente para ele. Apenas um olhar cruzou o meu, uma única pessoa olhou para mim: a minha mãe!
Naquele momento, entendi o amor que faz uma mãe estar sempre olhando pelos filhos, essa conexão eterna. Não existe maternidade sem transformação e, pra mim, foi instantânea naquele dia. A proximidade do Dia das Mães, neste domingo, me traz essa lembrança e uma reflexão sobre os conflitos desnecessários, mas existentes que vêm com essa nova vida.
Confesso que, como tantas mulheres, também me sinto cansada, apesar de uma rede de apoio maravilhosa. É um cansaço muito mais mental do que físico, uma necessidade que nós, mães, sentimos de nos manter firmes e sermos perfeitas em todos os papéis que nos são colocados. E são nesses momentos de exaustão que eu tento me reconectar com aquele olhar de mãe.
Para mim, a maternidade funcionou como uma alavanca de desenvolvimento pessoal e profissional: foi um convite para aprender a conciliar empatia, produtividade, liderança. Habilidades essas que eram desperdiçadas pelo mercado ao encarar a parentalidade dos funcionários como um problema para o negócio.
Crianças eram apartadas da vida profissional, mas ficaram evidentes ao longo pandemia. Elas apareciam nas reuniões onlines, eram ouvidas nas ligações, nos interrompiam em diversos momentos do dia e, assim, fomos aprendendo a lidar e a encontrar o caminho da priorização.
Sei que faço parte de um grupo ainda pequeno de mulheres líderes, mas é minha responsabilidade, como tal, segurar a porta aberta para que outras mães cresçam também sem ter que escolher filhos ou profissão. Quando levo os meus para espaços de trabalho, flexibilizo minha agenda para não faltar no evento da escola. Se necessário, saio mais cedo para levá-los às consultas médicas. Assim, outras mães percebem que está tudo bem ao fazer isso, se precisarem.
A Consolidação das Leis Trabalhistas garantiu, em 1943, o direito das mães se afastarem durante o período de amamentação e proibiu a demissão de mulheres grávidas. Porém, mesmo sendo assegurada por uma lei federal, a licença-maternidade não é realidade de todas as mulheres que trabalham. De acordo com o último levantamento do IBGE, o Brasil vive um recorde de postos de trabalho precarizados, sem nenhuma garantia de benefícios, como a própria licença-maternidade e assistência médica.
Além disso, a maioria das profissionais registradas, tem direito a se afastar por apenas quatro meses, embora o recomendado seja amamentar até os seis meses de vida da criança. Apenas 29% das empresas oferecem licença maternidade estendida de seis meses e apenas 13%, licença paternidade estendida de 20 dias. Somos, na A&M, essa minoria que enxerga como a maternidade traz uma pulsão de vida gigante.
Quem não quer contar com um membro de sua equipe mais engajado, ágil, disciplinado, generoso, cuidadoso e disposto a trabalhar em conjunto? Essas são apenas algumas das competências que observo frequentemente afloradas após o nascimento de um filho. Infelizmente, nem todo mundo vê, mas podemos mudar.
É fundamental que haja mais flexibilidade e compreensão para que nós possamos conciliar esses dois papéis, de mãe e executiva, de maneira equilibrada e satisfatória. Porque não basta contratar mulheres, é preciso garantir que elas se mantenham e cresçam nesses postos, tendo a maternidade como uma opção respeitada.
Ser mãe e profissional pode e deve ser uma união de sucesso. Mulheres que conciliam bem o lado pessoal e profissional costumam ter uma visão clara de onde querem chegar, a posição que desejam assumir, a companhia em que querem trabalhar e do modelo de trabalho que precisam para acomodar suas necessidades pessoais e profissionais. Assim, passam a ter posicionamento junto à liderança, ganham mais foco e aprendem a dizer não quando necessário. Reconhecer o seu próprio valor e ter orgulho de comunicar cada conquista e entrega relevante, ainda é, infelizmente, difícil para muitas.
Aproveite este mês e se olhe como uma mãe que zela e valoriza. Reconheça seu valor e a contribuição que você traz para o mundo. Seja um exemplo de autocuidado, inspirando aqueles ao seu redor a fazerem o mesmo. Juntas, continuaremos avançando na construção de um mundo mais justo e inclusivo.
P.S. Dedico este texto aos meus dois adolescentes: Pedro e Miguel, a minha mãe Maria Candida e também, para duas mulheres que fazem parte do meu time, que são inspiradoras, inteligentes e trabalhadoras: Mariana e Aytana, que logo mais estarão no trabalho mais importante de suas vidas: cuidando da Catarina e do Leo.