A pandemia teve um grande impacto sobre os avanços que tivemos em relação à atuação profissional das mulheres
Por Aurineide Bessa Silva, Gerente Regional de Operações de Transporte de Valores da TBForte
Falar em mercado de trabalho às vésperas de 2024 nos gera uma imagem mental diferente de alguns anos atrás. Hoje, é inadmissível pensar nesse ambiente sem considerar duas palavras: diversidade e inclusão. O Brasil conta uma população diversa e muitos grupos historicamente encontram mais barreiras para se inserir em um contexto social favorável. Dentre eles, as mulheres que ainda hoje se deparam com obstáculos para desempenhar funções que não sejam aquelas já associadas ao feminino. Isso nos faz pensar na terceira palavra necessária a essa discussão: equidade.
Devemos reconhecer os importantes avanços do País nas últimas quatro décadas em relação ao papel da mulher no mercado de trabalho. Ao longo do tempo, elas têm participado cada vez mais desse ambiente e conquistado posições de comando. Mas isso, infelizmente, ainda acontece a passos lentos e é uma realidade que precisa mudar.
Dos desafios enfrentados cotidianamente pelas mulheres, devemos considerar que as normas sociais e culturais sobre os papéis de gênero se somam à dificuldade em conciliar o trabalho fora de casa com os afazeres do lar. Esses desafios crescem substancialmente com o nascimento dos filhos, visto que as mulheres gastam, em média, mais horas do que os homens em tarefas domésticas e cuidados com crianças e idosos. Um estudo do Laboratório de Economia do Cuidado, da ONG Think Olga, mostrou que as 22 horas semanais (em média) dedicadas gratuitamente ao cuidado por meninas e mulheres no Brasil equivaleria a 11% do PIB nacional. A invisibilidade do trabalho de cuidado, que não é reconhecido e nem remunerado, é um fator que influencia negativamente na presença das mulheres no mercado de trabalho.
A pandemia teve um grande impacto sobre os avanços que tivemos em relação à atuação profissional das mulheres. Pesquisas realizadas pelo Banco Mundial apontam que, na América Latina e Caribe, as mulheres tinham 44% mais probabilidade de perder o emprego no início da crise. À medida que as pessoas começaram a reingressar no mercado de trabalho, as mulheres continuaram a perder seus empregos: 21% das mulheres empregadas antes da pandemia relataram ter passado por essa experiência. Além disso, com o isolamento social, as tarefas de cuidado recaíram ainda mais sobre a figura feminina, limitando o seu potencial econômico.
Os fatores sociais que, por vezes, afastam a presença feminina do mercado são importantes e, por isso, é crucial que as empresas sejam proativas em incentivar e atrair as mulheres, visando a promoção da equidade de gênero. Esse deve ser um trabalho em conjunto, que some esforços de todos.
Pela forma como a sociedade foi estruturada, a presença feminina em algumas profissões ainda é pequena. Na área da segurança, por exemplo, culturalmente, tendemos a associar a profissão à atuação masculina, mas acreditamos na mudança deste cenário. E um dos meus objetivos como líder neste segmento é justamente o de seguir abrindo caminhos para diversidade. Ampliando oportunidades para que mulheres possam atuar na área operacional, mostrando que, efetivamente, lugar de mulher é onde ela quiser.
Ano passado, desenvolvemos um Guia de Diversidade, feito para todos os colaboradores do grupo, com o propósito de ampliar a discussão sobre temas relacionados às diferenças e à inclusão. O guia é dividido em pilares que abrangem Raça e Etnia, Gênero e Sexualidade, Pessoas com Deficiência, Gerações, Diversidade Cultural e Religiões. Ele foi elaborado em conjunto com o Grupo de Diversidade da companhia, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, e direciona todas as ações do grupo. E nós reconhecemos que ainda há muito o que ser feito.
Essa não é uma luta apenas das mulheres e todos nós, enquanto sociedade, devemos nos envolver para alcançar uma mudança real e significativa, mesmo que a passos pequenos. Então, este é um convite de reflexão aos colegas executivos, gestores, empresas e aos próprios companheiros e familiares de mulheres para realizar e promover a colaboração e envolvimento para estimular o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. E isso não deve ser feito apenas no mês de março, quando são criadas ações para celebrar o Dia das Mulheres, mas todos os dias, anualmente.
Relembro aqui a entrada em vigor das regras definitivas do programa “Emprega + Mulheres”, que promove a inserção e a manutenção das mulheres no mercado de trabalho, por meio do estímulo à aprendizagem profissional e de medidas de apoio aos cuidados dos filhos pequenos, a chamada parentalidade na primeira infância. Em setembro de 2022, foi sancionada a Lei 14.457/2022 que cria o programa e altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Vale reforçar a importância de insistir na palavra “equidade”, que, diferente da igualdade, prevê que o tratamento em relação à determinada pessoa deve ser com base nas suas características e necessidades específicas, como já prevê o Estatuto da Pessoa com Deficiência. É uma forma de reconhecermos o papel essencial que a mulher desempenha na geração da vida, na amamentação, e as necessidades que esses fatos acarretam. A equidade faz com que seja possível um tratamento justo para a mulher no mercado de trabalho, sem que seja rotulada por limitações, mas que tenha suas qualidades reconhecidas como fortalezas que contribuem para a dinâmica do mercado e crescimento de negócios.
Se você ainda não começou a sua lista de metas para 2024, esse é o momento. Comece colocando a promoção da equidade de gênero no mercado de trabalho, dentro da sua empresa e da sua casa como prioridade. Com isso, estaremos nos preparando para vivenciar todas as transformações positivas que a força feminina pode proporcionar para o mercado e para o avanço da sociedade.