Tatiana Pimenta é empreendedora, palestrante e podcaster. CEO e fundadora da Vittude, host e idealizadora do podcast Terapeutizados
Desde 2020, muito tem se falado sobre o crescimento sustentável das organizações e como as estratégias de ESG podem incluir ações voltadas para a saúde mental. Este conceito ganhou ainda mais espaço com o avanço da pandemia, que mudou a perspectiva das empresas em relação ao tema no que diz respeito à esfera de cuidados necessários voltados para o bem-estar emocional dos colaboradores.
A sigla ESG (Environmental, Social and Governance) engloba os componentes que estão relacionados à estruturação de uma cultura e administração mais justas dentro das empresas. Ou seja: estamos falando sobre organizações comprometidas com uma atuação voltada para a sustentabilidade do negócio.
Entenda melhor o que significa cada sigla do ESG:
Environmental (ambiente)
Trata-se da conservação do meio ambiente, ou seja, ações voltadas para a redução das emissões de carbono, cuidados com a poluição do ar e da água, diminuição do desmatamento, dos resíduos e de consumo de recursos energéticos.
Social
Diz respeito às relações que a empresa tem com os indivíduos inseridos em seu ecossistema, como colaboradores, parceiros, clientes etc. Nesse âmbito, contempla as relações trabalhistas e de diversidade, além da satisfação dos consumidores e o engajamento e bem-estar dos funcionários.
Governance (Governança)
É a administração da empresa, ou seja, o sistema interno de práticas e procedimentos que são adotados para tomar decisões, governar, atender as necessidades dos stakeholders, definir a cultura corporativa etc.
O investimento em ESG e a atenção voltada para a saúde mental
O ESG faz parte de como as empresas fazem seus negócios e a preocupação com as esferas deste conceito está aumentando por vários motivos.
Há o ponto que, cada vez mais, os consumidores estão atentos à forma de atuação das organizações com as quais decidem se relacionar e consumir produtos e serviços. As preocupações ambientais, sociais e de governança são muito bem observadas por boa parte dos potenciais clientes.
Além disso, uma proposta sólida de ESG é fundamental para:
- aumentar o engajamento dos colaboradores;
- fortalecer e ampliar estratégias de Employer Branding;
- elevar a confiança daqueles que estão inseridos no ecossistema da empresa;
- tornar a organização mais conhecida pelos cuidados com o próximo, com as políticas globais e o planeta.
Não é à toa que, hoje, o valor global destinado à sustentabilidade já chega aos $30 trilhões.
Qual é a relação entre ESG e saúde mental?
A saúde mental não pode mais ser negligenciada no meio corporativo, afinal, se os colaboradores não estiverem psicologicamente saudáveis, a performance, engajamento e produtividade ficarão muito abaixo do esperado para que a organização prospere.
Para se manterem competitivas e com um crescimento sustentável, é essencial que repensem as suas relações com o planeta, seus clientes e, é claro, com os próprios funcionários também.
O “S” do ESG inclui os cuidados com a saúde mental não apenas com os colaboradores, mas com todos que estão próximos da empresa de alguma forma. No Brasil, mais de 60 milhões de pessoas sofrem com algum transtorno mental e as maiores taxas de ansiedade do mundo estão em nosso país — 9,3% dos brasileiros enfrentam a doença.
E não é novidade que os números só pioraram com a pandemia, pois os índices de depressão, ansiedade e síndrome de burnout aumentaram bastante entre 2020 e 2021. Segundo uma pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros afirmaram que a sua saúde mental piorou durante a pandemia.
E todos estes índices impactam (e muito) o dia a dia das empresas, afinal, o adoecimento psicológico gera turnover, absenteísmo, presenteísmo, queda da produtividade, causas trabalhistas e por aí vai.
Os números assustam, mas precisam ser ditos: a falta de tratamento de transtornos mentais ocasiona uma perda de produtividade que custa R$300 bi às empresas brasileiras.
Estratégias voltadas para a saúde mental nas empresas
Garantir qualidade de vida e bem-estar deve ser uma prioridade para as organizações. Este é o terceiro de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Agenda 2030 da ONU. O Brasil, por sua vez, tem entre as suas metas para a ODS 3 até 2030: reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, promover a saúde mental e o bem-estar, a saúde do trabalhador e da trabalhadora, e prevenir o suicídio.
Cada empresa deve analisar o seu contexto e, a partir de um diagnóstico de necessidades prioritárias, traçar uma estratégia voltada para o ESG, incluindo os cuidados com a saúde mental.
Entre as práticas que podem ser estimuladas pelas organizações, podemos citar:
- uma cultura de acolhimento, que vise oferecer bem-estar emocional para os colaboradores e fomente o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional;
- segurança e sustentabilidade nas instalações da empresa, tanto para os colaboradores, como clientes e consumidores;
- implementação de políticas educacionais e de convívio e assistência social para a comunidade de forma geral, assim como subsídios para programas educacionais e cursos, engajamento em projetos de incentivo e parcerias para cultivar o interesse de todos.
É hora de olhar para a saúde de maneira integral
Mais do que nunca, o olhar integrado para todas as dimensões da saúde humana é fundamental para o crescimento sustentável das empresas.
Com cada vez mais discussões sobre ESG e saúde mental sendo levantadas, a expectativa é que a perspectiva holística impacte a segurança, bem-estar, qualidade de vida e o desenvolvimento das empresas, promovendo mudanças positivas no relacionamento das organizações com seus colaboradores, consumidores, clientes e com o planeta como um todo. Afinal, empresas mais saudáveis tendem a crescer com muito mais sustentabilidade.