Especialista em Psiquiatria alerta para a necessidade de ações imediatas para prevenir uma epidemia de jogos patológicos no Brasil, destacando a importância de políticas públicas focadas em educação e conscientização.
O Brasil, que lidera mundialmente o acesso a plataformas de apostas on-line com 3,19 bilhões de acessos – equivalente a 22,78% do total global –, enfrenta um alerta sério de especialistas: o país pode estar à beira de uma epidemia de jogos patológicos. A previsão de regulamentação das apostas até 2025 acentua a preocupação, uma vez que o impacto dessa prática pode ser devastador, afetando a renda familiar e aumentando significativamente os casos de depressão e ansiedade.
Alfredo Simonetti, professor de Psiquiatria do Centro Universitário São Camilo, destaca que o vício em jogos de apostas, tanto on-line quanto presenciais, é uma grave desordem comportamental. Segundo ele, essa patologia é marcada pela incapacidade de resistir à compulsão de jogar, mesmo quando isso resulta em perdas financeiras, problemas nos relacionamentos e queda no desempenho profissional ou acadêmico.
Simonetti ressalta a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à educação e conscientização da população sobre os riscos desse vício. “É fundamental oferecer apoio e tratamento aos dependentes de jogos on-line, da mesma forma que fazemos com aqueles que apostam em cassinos ou em outras formas de apostas de alto risco, como no mercado financeiro”, afirma o professor.
O fenômeno, segundo ele, está ligado à liberação de adrenalina e dopamina no cérebro, substâncias que geram uma sensação de bem-estar e euforia. Simonetti aponta que fatores psicológicos e sociais, como a busca por reconhecimento e a necessidade de fugir de problemas cotidianos, também contribuem para o desenvolvimento do vício em jogos.
O professor chama atenção para os sintomas de abstinência enfrentados pelos dependentes quando tentam interromper o hábito, como má alimentação, sedentarismo, ansiedade e depressão. “Um dependente se revela quando organiza sua vida em torno do jogo”, alerta Simonetti, destacando que as consequências desse vício afetam todas as áreas da vida, desde as relações pessoais até a produtividade no trabalho e nos estudos.
Diante desse cenário, Simonetti defende que o sistema de Saúde deve se preparar para enfrentar essa nova realidade, propondo uma abordagem que envolva educação, prevenção e tratamento. “É essencial que os gestores da Saúde concentrem esforços na criação de uma estrutura capaz de minimizar os impactos negativos e promover o uso saudável dos jogos”, conclui.
Enquanto o Brasil discute a regulamentação das empresas de jogos de azar e apostas, incluindo as populares apostas esportivas e os caça-níqueis, o debate tem se focado principalmente em aspectos financeiros e fiscais, como a arrecadação de impostos. No entanto, pouco se tem discutido sobre a capacidade do país de lidar com o crescimento do vício em jogos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2018 e 2023, o número de pessoas atendidas pelo SUS por jogo patológico aumentou de 108 para 1,2 mil, embora especialistas alertem que esses números podem estar subnotificados.