De acordo com Lorena Villar, por meio de hábitos cotidianos, é possível dar um novo significado à cultura corporativa, gerando mais bem-estar, saúde mental e felicidade para os colaboradores.
Certamente, você já ouviu falar sobre o conceito de segurança psicológica. Trata-se da sensação de confiança, estabilidade emocional e proteção que as pessoas desenvolvem em relação aos relacionamentos e ao ambiente em que vivem. No contexto empresarial, a segurança psicológica refere-se à confiança que os colaboradores sentem para compartilhar ideias, apresentar projetos, esclarecer dúvidas ou expressar necessidades e insatisfações em relação a situações específicas, sem o medo de sofrer represálias, julgamentos ou rejeições por parte de colegas ou líderes.
Pesquisas da Gallup mostram que, nas empresas em que há um ambiente de segurança psicológica, a rotatividade de funcionários é reduzida em 27% e a produtividade aumenta em 12%. Os números vão ao encontro das conclusões de um estudo conduzido pela professora da Harvard Business School, Amy Edmondson, que revelou que a segurança psicológica está diretamente ligada ao desempenho eficaz das equipes.
Para a especialista em felicidade corporativa, Lorena Villar, esses dados reforçam a importância que a segurança psicológica tem na cultura das empresas, contribuindo para que ela se torne um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento dos negócios. “O verdadeiro diferencial das empresas que inovam e prosperam não reside apenas nas estratégias de mercado ou nas tecnologias de ponta que utilizam. O que realmente faz a diferença é o ambiente que criam para as equipes. Um espaço onde os colaboradores se sentem à vontade para correr riscos, expor ideias e até cometer erros sem medo de punições é essencial. Esse tipo de ambiente promove a saúde mental, o bem-estar e a felicidade, impactando diretamente o desempenho e a produtividade”, explica.
Segundo Lorena, a ausência de segurança psicológica no trabalho pode ser um fator para o surgimento de diversos sintomas, dentre eles: estresse crônico, ansiedade, burnout, distúrbios do sono e até depressão. “A insegurança transforma o cotidiano dos colaboradores em um cenário de sobrevivência, ao invés de um espaço de crescimento. Eles se veem mais preocupados em ‘não errar’ do que em se esforçar para inovar. Além disso, os erros, que deveriam ser vistos como oportunidades de aprendizado, tornam-se fonte de vergonha, resultando em estagnação”, pontua a especialista.
Lorena alerta que, muitas vezes, as políticas e os comportamentos tóxicos por parte das lideranças acontecem de forma inconsciente, minando a segurança psicológica das equipes. Entre as práticas mais prejudiciais destacadas por ela, estão:
- Micromanagement: Líderes que não dão autonomia, controlam cada detalhe e supervisionam constantemente o trabalho dos colaboradores geram uma atmosfera de desconfiança. “As pessoas tendem a se tornar passivas, com medo de tomar decisões, sempre à espera da validação da liderança”, explica Lorena.
- Falta de feedback construtivo: Segundo a especialista, quando o feedback é escasso ou apenas negativo, os colaboradores sentem que seus esforços não são vistos e reconhecidos.
- Cultura da punição: Lorena afirma que empresas que priorizam a punição, ao invés de aprender com os erros, instauram um clima de medo, fazendo com que os colaboradores evitem riscos, o que inibe a inovação.
Outro ponto crítico destacado por Lorena é a hierarquia rígida, onde decisões são tomadas apenas na alta administração, desvalorizando as ideias que surgem das bases da organização. “Essa rigidez gera um sentimento de impotência nos colaboradores, que param de contribuir com novas ideias”, comenta a especialista.
Como reverter essa situação?
Lorena explica que, embora possa parecer simples, a construção de segurança psicológica dentro das empresas não acontece da noite para o dia. Trata-se de um processo fundamentado em hábitos e sistemas profundamente enraizados na cultura corporativa. “Toda mudança exige esforço. No ambiente de trabalho, é crucial que todos estejam cientes de como as ações podem tornar o ambiente tóxico. Um dos maiores desafios é que, como mencionado acima, muitas vezes os líderes não percebem que suas atitudes estão contribuindo para esse clima”, afirma.
Diante disso, a especialista acredita que o primeiro passo para a mudança é reconhecer que existe um problema e ter o desejo legítimo de mudá-lo. “É necessário que líderes e colaboradores analisem francamente suas interações e reflitam se estão promovendo ou inibindo uma comunicação aberta. Sem essa conscientização inicial, qualquer tentativa de mudança será superficial”, explica.
Lorena enfatiza que a segurança psicológica é construída por meio de um conjunto de práticas consistentes, com líderes dispostos a conduzir pelo exemplo. Ela sugere o seguinte passo a passo:
- Promova vulnerabilidade e transparência: Os líderes devem ser os primeiros a demonstrar vulnerabilidade. “Quando um gestor admite não ter todas as respostas ou reconhece que cometeu um erro, cria um ambiente onde os outros se sentem à vontade para fazer o mesmo. A equipe percebe que não precisa se esconder atrás de uma fachada de perfeição. Quanto mais transparente a liderança for, mais fácil será para os outros compartilharem suas opiniões e ideias. Líderes que ouvem e compartilham suas dificuldades humanizam o ambiente e constroem laços de confiança”, explica a especialista.
- Estabeleça espaços formais para diálogo aberto: Para garantir um ambiente psicologicamente seguro, é fundamental criar oportunidades de diálogo onde todos os membros da equipe possam expressar ideias e preocupações sem medo de represálias.
- Forneça feedback construtivo e contínuo: O feedback deve ser contínuo, construtivo e orientado ao crescimento.
- Estimule a colaboração ao invés da competição: Promover a colaboração cria uma atmosfera mais segura e produtiva.