Mesmo diante da desconstrução de agendas éticas e sustentáveis, cabe às lideranças manterem viva a responsabilidade de construir um futuro com propósito.
Por Tiago Hayashida, gerente executivo de finanças e pessoas da CCEE
Um estudo recente da Gallup, o “Global Leadership Report: What Followers Want” – realizado com mais de 70 mil pessoas em 52 países e apresentado na Cúpula Mundial de Governos de 2025 – revela que 56% dos entrevistados desejam que a liderança propicie um ambiente onde exista esperança. Sim, esperança. Segundo a pesquisa, quando um líder atende a essa necessidade, o sofrimento é minimizado e o bem-estar, maximizado.
O desafio se torna ainda mais relevante e árduo em um contexto dominado pelo tratamento meramente ideológico – e pouco pragmático – de questões importantes para a sociedade, onde os fatos importam cada vez menos, e o que conta, de fato, é atrair a atenção.
Dan Ariely, professor norte-americano de psicologia e economia comportamental, explora esse fenômeno no excelente livro “Desinformação: o que faz pessoas racionais acreditarem em fake news, teorias da conspiração e outras coisas irracionais”. Por meio da análise de resultados de diversas pesquisas, ele demonstra como situações extremas de estresse – como foi o caso da pandemia – funcionam como gatilhos para o afloramento da irracionalidade.
Mas como transmitir essa esperança em um momento de desconstrução de práticas de proteção ambiental, ampliação da diversidade nas organizações e da dimensão ética na condução dos negócios? Como fomentar esperança em um ambiente no qual a análise crítica ficou em segundo plano?
Enquanto catástrofes se acumulam ao redor do globo, a SEC – órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos – anunciou o abandono das regras que obrigariam empresas listadas em bolsa a reportar suas emissões de gases de efeito estufa e os riscos da mudança climática para os negócios.
Apesar das evidências sobre os impactos positivos da diversidade nas organizações, como mostra a quarta edição do relatório “Diversity Matters”, da consultoria McKinsey – com dados de 1.265 empresas de 23 países em seis regiões –, políticas de inclusão vêm sendo atacadas e desmanteladas por governos e grandes corporações. Até mesmo a Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), lei anticorrupção norte-americana que pune empresas que praticam suborno no exterior, foi suspensa sob o argumento de que prejudica a competitividade.
Diante de tantas mudanças, como remar contra a maré?
A resposta não é simples. Mas lembro da edição de janeiro de 2025 do podcast “O Futuro vem do Futuro”, da MIT Sloan Review Brasil. No episódio, Silvio Meira – cientista-chefe da TDS Company e conselheiro de diversas empresas – fala sobre o “vale da desesperança” no qual se encontram as práticas ESG e faz uma afirmação importante: quem tem responsabilidade não deixará de fazer o que é certo, mesmo que seja um esforço solitário.
Apesar do cenário hostil, cabe à liderança das organizações decidir qual caminho seguir. As palavras de Silvio Meira não são apenas uma reflexão, mas uma convocação. Ele reforça o papel de empresas com propósito – que visam crescimento e retorno aos investidores, mas também tomam decisões conscientes dos impactos sociais e ambientais que provocam. Que pensam de forma responsável e intergeracional.
Enquanto algumas companhias desmontam suas práticas, outras reafirmam seus compromissos com a redução de emissões de carbono, diversidade e inclusão. Nem tudo está perdido. A construção de um ambiente onde exista esperança continua sendo possível. E ela começa nas decisões que tomamos agora.