Além do discurso: Ações concretas para um futuro corporativo inclusivo e diversificado
No contexto do Mês da Consciência Negra, estudos revelam um cenário preocupante nas organizações: a justiça racial e de gênero, que deveriam ser práticas inegociáveis, ainda não são realidades consolidadas. Esta constatação surge apesar dos avanços significativos, como a lei de cotas no ensino superior, que ampliou em 400% a presença de negros nas universidades brasileiras entre 2010 e 2019, segundo o IBGE.
Contudo, o racismo persistente no setor corporativo mantém as mulheres negras relegadas a posições inferiores. Elas representam apenas 1.6% dos cargos de liderança, conforme o Índice de Equidade Racial nas Empresas de 2023. Diante deste desafio, Carine Roos, CEO da Newa e especialista em Gênero pela LSE, destaca a importância de diagnósticos interseccionais envolvendo gênero, raça e classe para desenvolver estratégias eficazes.
Roos sugere ações pós-diagnóstico para transformar o ambiente corporativo:
- Vagas afirmativas e processos inclusivos: Apesar de representarem apenas 1% das ofertas de emprego no Brasil, segundo a Gupy (2022), as vagas afirmativas são essenciais. A especialista enfatiza a importância de alinhar as equipes de recrutamento e liderança com os diagnósticos realizados para garantir processos seletivos mais diversificados e eficazes.
- Mentorias personalizadas e planos de carreira acelerados: Empresas como Mercado Livre, Sanofi e Aegea adotaram programas de aceleração de carreira e metas financeiras para aumentar a liderança negra. As mentorias devem considerar individualidades e fomentar o crescimento profissional em diversos níveis hierárquicos.
- Monitoramento e compromisso da alta liderança: O sucesso dessas políticas exige monitoramento contínuo e um comprometimento da alta gestão com a educação contínua sobre temas como racismo estrutural e microagressões. A transformação cultural e corporativa depende desse comprometimento.
Essas medidas, segundo Roos, são cruciais para estabelecer um ambiente de equidade racial sustentável e prioritário em todos os aspectos da gestão empresarial.
Implementando a mudança: Estratégias efetivas para a equidade Racial
A implementação eficaz de estratégias para promover a justiça racial e de gênero nas empresas exige mais do que simplesmente identificar os problemas. Carine Roos enfatiza a necessidade de ações concretas e bem planejadas para garantir uma mudança real e duradoura.
Além das ações já mencionadas, a especialista aponta outras estratégias que podem ser adotadas pelas organizações:
- Treinamentos e sensibilização: Programas de treinamento regular para todos os funcionários, focados em diversidade e inclusão, são fundamentais. Estes treinamentos devem abordar questões de preconceito inconsciente, racismo estrutural e estratégias para criar um ambiente de trabalho inclusivo e respeitoso.
- Promoção da visibilidade e reconhecimento: É crucial que as empresas promovam a visibilidade de profissionais negros, especialmente mulheres, em todos os níveis da organização. Isso inclui reconhecimento público de suas contribuições e sucessos, proporcionando modelos positivos e incentivando a ascensão profissional.
- Políticas de feedback e acompanhamento: Implementar sistemas de feedback transparentes e construtivos, onde os colaboradores possam expressar suas preocupações e experiências relacionadas à inclusão racial e de gênero. Essas informações devem ser usadas para ajustar continuamente as políticas e práticas da empresa.
- Parcerias e colaborações externas: Estabelecer parcerias com organizações focadas em diversidade e inclusão pode trazer novas perspectivas e recursos para as empresas. Isso pode incluir colaborações com ONGs, instituições acadêmicas e grupos de defesa dos direitos das minorias.
- Avaliação e reajuste contínuos: As estratégias de inclusão devem ser dinâmicas, com avaliações regulares para garantir que estão atendendo às necessidades da organização e de seus colaboradores. Isso inclui a reavaliação de políticas e práticas à luz de mudanças sociais e feedback interno.
A implementação dessas estratégias demonstra o compromisso de uma organização com a equidade racial e de gênero, não apenas em palavras, mas em ações concretas e sustentáveis. A longo prazo, essas práticas podem contribuir significativamente para a criação de um ambiente de trabalho mais justo, inclusivo e produtivo.