Pesquisa avalia brasileiros pela 1ª vez e atesta que profissionais têm desafios de melhorar 8 entre 9 competências analisadas
Profissionais e departamentos de Recursos Humanos de empresas no Brasil foram avaliados abaixo da média mundial em uma pesquisa de percepção com diferentes níveis hierárquicos e stakeholders. Numa escala de 1 a 5, os brasileiros pontuaram 3.82 ante a média mundial de 4.11. Os resultados são da 7ª edição do HR Competency Study, aplicada no Brasil pelo ISE Business School, associada à escola de negócios espanhola IESE, em parceria com a consultoria americana The RBL Group e a Universidade de Michigan. Esta foi a primeira vez que profissionais brasileiros foram avaliados desde a estruturação da pesquisa em 1987.
O estudo abrangeu 30.227 mil pessoas em 1.509 organizações instaladas em diversos países de todos os continentes. Do total, a amostra brasileira compreendeu 895 pessoas de 16 companhias, sendo avaliados 125 profissionais da área de RH. Por ser uma avaliação 360º, o estudo possibilitou que os participantes não somente se autoavaliassem, mas também contassem com a avaliação de seus gestores, pares e colaboradores dentro do RH. A novidade foi a inclusão das outras áreas funcionais da organização no processo de avaliação. Tal fato possibilitou uma visão externa da atuação do profissional de RH e também do impacto da própria área de RH na performance do negócio.
Todos os participantes da pesquisa responderam a perguntas sobre nove domínios considerados essenciais para o integrante e as atividades de RH: 1) posicionamento estratégico, 2) credibilidade, 3) capacidade de lidar com paradoxos dentro da empresa, 4) capacidade de promover mudanças, 5) desenvolvimento do capital humano, 6) análise e interpretação de dados, 7) administração de benefícios e remuneração, 8) integração entre comunicação e tecnologias e 9) gestão de compliance.
Credibilidade
Segundo a pesquisa, a média brasileira obtida pela amostra foi inferior ao resto do mundo em oito dos nove domínios analisados. A exceção foi a competência relacionada à capacidade do profissional de RH em lidar com paradoxos dentro da empresa.
A competência que registra a maior diferença entre brasileiros e a média mundial é a credibilidade, ou seja, a eficiência para transmissão de confiança a pessoas-chave dentro das organizações. Nesta qualidade, os profissionais de RH pontuaram 3.69 contra 4.36 da média mundial.
Segundo o diretor do Departamento de Gestão de Pessoas do ISE Business School, professor Cesar Bullara (Ph.D.), a dificuldade dos brasileiros em transmitir credibilidade está associada à competência relativa ao posicionamento estratégico, na qual o desempenho do Brasil também ficou abaixo do esperado: “O RH que não consegue traduzir estratégias e planos abstratos em ações concretas para a empresa cria um distanciamento com os demais membros da organização. Aqui também podemos incluir a capacidade do RH de antecipar riscos, oportunidades e ameaças ao negócio. Para citar um exemplo, a tecnologia está afetando enormemente muitos setores da economia, como a indústria da mídia e de energia: novos modelos de negócio são necessários, e, com eles, novas formas de recrutar, avaliar e promover, novos estilos de liderança e novas trajetórias de carreira”.
Apesar da pontuação abaixo da média mundial, Cesar Bullara destaca que é alto o senso crítico dos integrantes de RH brasileiros em relação à performance do departamento. A pesquisa mostra que esses profissionais julgam as atividades do próprio setor onde trabalham como menos efetivas em comparação com a avaliação recebida dos colegas de outras áreas para as quais o RH presta serviços. Trata-se de uma autoavaliação com média de 3.86, contra a média de 4.02 atribuída pelos colegas. “A diferença de percepção demonstra que os profissionais de RH reconhecem os problemas e têm consciência do caminho a percorrer para melhorar a imagem”, pondera Bullara.
Complexidade
O pesquisador Mike Ulrich, codiretor do The RBL Group, destaca que houve uma evolução significativa dos conceitos percebidos como os mais importantes e significativos dentre as atribuições dos profissionais de RH desde o primeiro levantamento, há 29 anos. Em 1987, variáveis como credibilidade, cultura e estratégia eram pouco exploradas. “Em um mundo globalizado, cada vez mais mutável e competitivo, nunca foi tão necessário identificar o que profissionais de RH devem ser, saber e fazer para ajudar as empresas”, diz Ulrich.
Segundo o especialista, o integrante de Recursos Humanos ganhou mais atribuições nos últimos anos e deve conquistar novas competências para seguir evoluindo nas organizações. “O fato é consequência de estruturas mais complexas nas organizações, com organogramas cada vez menos rígidos”, diz Ulrich. “Adaptar-se a este cenário de transformações é o grande desafio do profissional de RH”.
Dados do estudo revelam que as atividades do departamento de RH que criam processos definidos e práticas integradas para a empresa são mais valorizadas por 75,6% dos gestores e 78,5% dos colaboradores. Para 77,4% dos clientes externos, a atribuição mais importante é a capacidade do profissional de controlar o fluxo de informações nas empresas. Segundo Mike Ulrich, além de estratégico, confiável e flexível para lidar com paradoxos, o profissional de RH deve adaptar suas atividades às necessidades da organização e de cada departamento.