Idade define competência ou estamos presos a estereótipos ultrapassados?
Da redação @Mundo RH
O tempo é, sem dúvida, o nosso mais precioso patrimônio. Porém, ao contrário de joias que ganham valor com os anos, na sociedade contemporânea, o tempo parece destituir o ser humano de seu valor, especialmente no mundo corporativo. No ambiente de trabalho, ser ‘experiente’ muitas vezes transmuta-se em ‘estar ultrapassado’. O etarismo, essa discriminatória arte de julgar pela idade, é uma praga silenciosa que nos faz questionar: até quando?
Não estamos falando apenas do mundo dos escritórios, mas do universo do entretenimento, da cultura e dos meios de comunicação. Em 2023, presenciamos um episódio que, de certa forma, evidenciou essa tendência: Renato Aragão, o eterno Didi, um ícone que, por décadas, dedicou-se ao “Criança Esperança“, não foi convidado para a edição do programa daquele ano. Um humorista que dedicou boa parte de sua carreira a essa nobre causa, de repente, deixado de lado.
A explicação oficial da emissora apontou para a renovação, para trazer novos ares ao programa. Justo. Renovação é essencial. Contudo, o que chama a atenção é o fato de que a ‘renovação’ muitas vezes se traduz em ‘rejuvenescimento’, como se a experiência e o carisma de figuras consolidadas não tivessem mais espaço no palco do presente. Como se o frescor da juventude fosse o único requisito para conectar-se com o público.
A questão que se impõe é: em que momento a sociedade começou a associar a ideia de progresso e inovação apenas à juventude? E como isso impacta no reconhecimento de figuras que, como Didi, dedicaram uma vida inteira a uma causa, a um programa, a uma empresa?
O humor de Didi pode não ser o preferido da nova geração, mas negar seu legado e sua relevância é uma miopia cultural. E essa miopia não é exclusiva da televisão. Todos os dias, pessoas são preteridas em processos seletivos, afastadas de projetos ou subestimadas em conversas casuais por conta da data de nascimento em sua carteira de identidade.
O etarismo, embora sutil, é uma forma de preconceito tão danosa quanto qualquer outra. Ela desconsidera a trajetória, os aprendizados e, o mais importante, a capacidade de contribuição de indivíduos que têm muito a oferecer. Renato Aragão, com sua ausência, trouxe à tona uma reflexão urgente: até quando vamos julgar as pessoas pela idade, e não pela essência?
A sociedade precisa acordar para esse debate. Precisamos reconhecer que a experiência, a sabedoria e a juventude coexistem e se complementam. O palco da vida é grande o suficiente para todos, independentemente do ano que figura em nossas certidões de nascimento.