Diante do dilema de escolher entre ética e competência, opte pela primeira. Inaptidão e ineficiência são questões que podem ser endereçadas, com capacitação e desenvolvimento. Já a falta de ética envolve questões de estruturação do caráter, um campo de difícil acesso.
Erros éticos são mais simples de consertar que pretensos “acertos” não éticos. Suponhamos uma matriz cujos eixos sejam ética e competência. Teríamos, então, quatro perfis de funcionários: o Competente Ético, o Competente Antiético, o Incompetente Ético e o Incompetente Antiético. Curiosamente, o que se vê é a tendência de promover o Competente Antiético, alçando-o às esferas mais altas da estrutura. Isso porque, aparentemente, ele dá resultado para a empresa. Será mesmo?
Em mais de 20 anos como adviser para assuntos envolvendo crimes empresariais, digo que esse pretenso resultado é uma falácia. O ideal é demitir o antiético, não importa quão competente ele seja. Seus resultados são aparentes e colocam em risco a organização. Essas pessoas são perigosíssimas para a saúde corporativa. Ética e competência, portanto, precisam andar juntas.
Como uma andorinha sozinha não faz verão, em geral o antiético cria uma estrutura criminosa dentro e fora da companhia. Internamente, ele alicia pessoas para colaborar efetivamente ou, no mínimo, fazer vistas grossas. Externamente, conta com parceiros e fornecedores, para os quais garante vantagens ou facilidades.
Tanto a seleção de funcionários quanto o cadastramento de empresas aptas a oferecer serviços devem ter extremo rigor. Ética e competência são fatores primordiais. É comum fraudadores habituais serem aceitos em organizações íntegras. Por quê? Simplesmente pela ausência de uma pesquisa acurada.
Assim como os evidentemente antiéticos devem ser demitidos, o mesmo vale para funcionários desagregadores. Igualmente danosos, esses também carecem do binômio ética e competência. O eventual bem que podem fazer é pouco diante do mal que distribuem corroendo as equipes. O melhor é incentivar condutas agregadoras, sem dar chance ao azar em relação àqueles que, para obter vantagens pessoais, apostam na dissensão.
Por Barry M. Wolfe – advogado internacional e criminologista. Nascido em Glasgow, na Escócia, é mestre em Direito Internacional pela Cambridge University. Formado em Direito e Criminologia pela Edinburgh University, tem pós-graduação em Direito Econômico pela Yale Law School. Desde 1986, Wolfe tem no Brasil sua principal base operacional.