Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres são 45% da população economicamente ativa no Brasil. O relatório demonstra também que as trabalhadoras dedicam mais tempo aos estudos em comparação aos homens, mas mesmo assim, a remuneração média recebida pelas brasileiras no mercado é inferior ao deles.
Dados da pesquisa Women in Business 2020, realizada pela Grant Thornton International apontam que as mulheres ocupam 34% dos cargos de liderança no mercado brasileiro. Comparado a 2019, houve um aumento de 9%, o que demonstra que as mulheres aos poucos estão conquistando seus espaços nas corporações.
Para Mariana Deperon, sócia-fundadora da Travessia – Estratégia em Inclusão, as mulheres não possuem os mesmos direitos e oportunidades que os homens e as que vivenciam a síndrome da impostora têm a tendência à autossabotagem e falta autoestima, o que dificulta ainda mais a ascensão profissional. “Quando você crê que não é suficiente, se autossabota, você mina a sua autoconfiança e, por consequência, a confiança que as pessoas têm no seu trabalho. Se você não confia no seu taco, quem vai confiar?, questiona.
Para que as mulheres não vivenciem mais a síndrome, a especialista explica que é preciso trabalhar o autoconhecimento, a autoestima, a inteligência emocional e ter mais consciência sobre as questões culturais e sociais relacionadas à desigualdade de gênero. “Entender como o sistema funciona sem dúvidas é uma forma das mulheres se fortalecerem para poder enfrentar as diferenças”, continua Mariana.
A síndrome da impostora é o nome dado a sentimentos que muitas mulheres vivenciam ao longo da vida profissional ou acadêmica, relacionado à crença de que não são boas ou inteligentes o suficiente, o que faz com que desmereçam suas conquistas atribuindo o sucesso a fatores externos, como sorte, acaso ou engano.
Esse fenômeno foi identificado pela primeira vez por duas psicólogas americanas, Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, no fim da década de 1970 em meio a diversos trabalhos que conduziam com grupos de mulheres. Foi realizado um estudo importantíssimo para se entender mais o fenômeno da impostora e aprender as formas de se romper com pensamentos e comportamentos de fraude intelectual. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Dominicana da Califórnia cerca de 70% das pessoas se sentem “uma fraude” no ambiente de trabalho alguma vez na vida.
A especialista explica que todos podem passar pela síndrome do impostor, mas tanto o trabalho das psicólogas norte-americanas quanto o livro que ela escreveu sobre o tema, intitulado ‘Eu, Impostora’? tem foco nas mulheres. “Escrevi o livro para contar um pouco sobre como me deparei com o estudo dessas psicólogas e como isso contribuiu para o meu despertar, em particular. Sou mulher e como muitas já tive diversos pensamentos de fraude intelectual, me sabotando algumas vezes. Por isso quis dividir um pouco dessa vivência com outras mulheres. Hoje meu olhar para as mulheres é de acolhimento e compreensão”, enfatiza Mariana.
Para ajudar as empresas e as mulheres no ambiente corporativo, Mariana conta que por meio de sua consultoria voltada à diversidade são criados programas efetivos para fortalecer o desenvolvimento das mulheres nas organizações, sempre de acordo com os melhores estudos, pesquisas e práticas. “Quando fazemos esses programas, abordamos a síndrome da impostora, e falamos sobre como podemos superá-la. Desenvolver mulheres, capacitar mulheres, e apoiar mulheres está dentro da missão da Travessia, especialmente da minha como fundadora”, complementa.
Em seu livro independente, ‘Eu, Impostora?’, Mariana orienta as mulheres a identificar a síndrome da impostora, se livrar dela e dá dicas de como alcançar sucesso profissional. “As mulheres precisam planejar a carreira perguntando-se: onde deseja chegar? Em quanto tempo? Como fará para conseguir isso? Além do conhecimento técnico, devem investir em sua autoestima, em seu protagonismo, e ter um/uma bom/boa mentor/a. É importante ter alguém com que possa discutir claramente sua carreira, profissionalismo, experiência e ética”, conclui.