Recrutadores precisam repensar abordagens para atrair e reter talentos da Geração Z, evitando frases que reforçam estigmas e valorizando o potencial e as expectativas desses jovens no mercado de trabalho.
A Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) já é o centro das discussões sobre o futuro do trabalho. No Brasil, segundo o IBGE, essa geração soma cerca de 48 milhões de pessoas, sendo que 63,8% já fazem parte do mercado de trabalho. Apesar disso, os jovens continuam sendo os mais afetados pelo desemprego, com uma taxa de 14,2%, de acordo com dados da FGV.
Boa parte desse cenário está ligada aos processos seletivos, que ainda carregam estigmas e práticas desatualizadas, dificultando a entrada dos jovens no mercado. Alecsandra Neri, gerente de operações do Instituto da Oportunidade Social (IOS), destaca frases que os jovens mais ouvem em entrevistas – e explica por que os recrutadores deveriam evitá-las.
1. “Você tem experiência?”
Esse é o clássico. Muitos jovens enfrentam essa pergunta até mesmo para vagas de entrada, que supostamente não exigem experiência prévia. No Brasil, onde 83,6% dos jovens estudam em escolas públicas e têm baixa renda, é ainda mais difícil acessar oportunidades de qualificação fora da escola.
O ideal é que os recrutadores foquem em habilidades comportamentais ou em experiências em projetos acadêmicos, voluntariado ou atividades extracurriculares. Isso valoriza o potencial do candidato sem penalizá-lo por circunstâncias fora de seu controle.
2. “Como você lida com pressão e entregas urgentes?”
Para quem está começando, essa pergunta soa mais como um alerta de que o ambiente será estressante e sobrecarregado. Uma pesquisa da Deloitte mostrou que 46% dos jovens da Gen Z vivem em constante estresse no trabalho.
Ao invés disso, os recrutadores podem destacar como a empresa oferece treinamentos e suporte para ajudar na gestão de tempo, mostrando que o ambiente é desafiador, mas acolhedor e estruturado.
3. “Precisamos de alguém que não tenha medo de arregaçar as mangas.”
Essa frase pode ser um sinal de que a empresa espera um esforço extra constante, algo que não agrada aos jovens da Geração Z. Segundo a Gallup, 60% deles preferem organizações que respeitam os limites do cargo e valorizam o equilíbrio.
O ideal é ser claro sobre as responsabilidades do cargo e garantir que o esforço extra seja uma exceção, não a regra.
4. “Aqui, vestimos a camisa da empresa.”
Essa expressão é vista por muitos jovens como uma desculpa para priorizar o trabalho em detrimento da vida pessoal. Uma pesquisa do IOS mostrou que 85% dos jovens da Geração Z valorizam horários fixos e 67% buscam empresas com plano de carreira bem estruturado.
Ao invés disso, os recrutadores podem destacar o comprometimento com resultados, mas reforçando que a empresa respeita o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
5. “O que você espera para os próximos anos?”
Para quem está começando, pensar no longo prazo pode ser intimidador e gerar expectativas irreais.
Uma abordagem melhor é perguntar sobre o que motiva o jovem agora e como ele vê a própria carreira no curto prazo. Mostrar que a empresa oferece feedbacks constantes e suporte ao desenvolvimento é algo muito valorizado.
6. “Um salário-mínimo já é suficiente.”
Embora muitos jovens aceitem começar com um salário básico, eles também estão atentos a oportunidades de crescimento. A pesquisa do IOS revela que 94% priorizam empresas que oferecem benefícios como plano de saúde e alimentação, além de projeções de melhoria salarial.
Recrutadores devem abordar a política salarial e os benefícios com transparência, destacando planos de carreira e valorização contínua do profissional.
Respeito e empatia fazem a diferença
“Os jovens da Geração Z são plurais e determinados a construir suas carreiras de forma diferente das gerações anteriores”, explica Alecsandra Neri, do IOS. “Eles enfrentam desafios únicos, especialmente aqueles de baixa renda e de escolas públicas. Por isso, cabe às empresas e recrutadores valorizar suas contribuições e criar ambientes que promovam crescimento, pertencimento e desenvolvimento.”
Ao mudar a abordagem nos processos seletivos, as empresas não apenas atraem talentos, mas também constroem equipes mais engajadas e preparadas para o futuro.