IA e o futuro do trabalho: Novos cargos e habilidades em alta.
Por Roberta Rosenborg, especialista em capacitação e desenvolvimento de liderança e CEO da F.Lead, consultoria de desenvolvimento profissional de RH
Há não muito tempo, a ideia de inteligência artificial (IA) e a automação do trabalho pareciam tópicos distantes, restritos aos enredos de filmes de ficção científica e às previsões do futuro. No entanto, hoje, nos encontramos não apenas à beira de uma nova era tecnológica, mas no centro dela. Afinal, a IA não está mais apenas batendo à nossa porta. Ela já se acomodou confortavelmente em nossas vidas e está transformando o ambiente corporativo de maneiras que antes mal podíamos imaginar.
A verdade é que não se trata mais apenas de saber se a IA terá impacto nos empregos, mas sim de quão profunda e rapidamente ela já está remodelando a vida profissional de todos nós e como lidar com ela. Estima-se que até o próximo ano a IA substituirá cerca de 85 milhões de empregos em todo o mundo, de acordo com o relatório “Futuro dos Empregos” do Fórum Econômico Mundial. Sejamos realistas, tal previsão de como a Inteligência Artificial pode prejudicar o mercado de trabalho pode ser um pouco perturbadora.
Mas aqui está a boa notícia: embora 85 milhões de empregos possam desaparecer até 2025 devido à IA, o mesmo relatório aponta que 97 milhões de novos empregos irão surgir. Navegar positivamente por essa revelação é essencial para aqueles que pretendem se adaptar às novas demandas do mercado de trabalho, que, sem dúvidas, está modificando a forma como trabalhamos e os tipos de empregos que as organizações irão exigir a curto e longo prazo.
Parece pertinente sinalizar que, para se adaptar às novas demandas do mercado de trabalho, é importante buscar conhecimento sobre as tendências e ferramentas de IA disponíveis. Entretanto, o que poucos se atentam é que tais inovações também estão nos guiando para funções que exigem competências exclusivamente humanas: criatividade, leitura de ambiente, empatia, capacidade de comunicação, visão de negócio e pensamento crítico.
Não à toa, à medida que as empresas se apoiam fortemente na transformação digital alimentada por tecnologias de automação e aprendizagem automática, também buscam criar cargos específicos dentro das empresas para melhorar a colaboração dos funcionários na implementação de tais soluções. É o caso do Diretor de Inteligência Artificial, por exemplo. O papel desse diretor é crucial para integrar a IA nas estratégias empresariais e garantir que ela gere valor tanto para o negócio quanto para os clientes. Mas vai além. Esse profissional precisa ter uma visão abrangente do negócio, consciência financeira, inteligência emocional, habilidades de comunicação e gestão de pessoas, além de um sólido conhecimento técnico.
Nesse sentido, se engana quem acredita que tal transição para um ambiente de trabalho impulsionado por IA deve ser restrita para a nova geração. A experiência adquirida ao longo dos anos pelos mais velhos pode ser combinada com novas habilidades tecnológicas, permitindo que esses trabalhadores desempenhem papéis estratégicos, essenciais para a implementação eficaz da IA nas empresas. É o que aponta um artigo da Harvard Business Review, que sugere que a combinação de experiência e novas habilidades pode ser uma vantagem competitiva para tais trabalhadores.
Além disso, a combinação de IA e a experiência dos trabalhadores mais velhos pode ser benéfica para a tomada de decisões empresariais. A Universidade de Oxford destaca que a capacidade dos trabalhadores mais experientes de entender contextos complexos para a tomada de decisões pode ser potencializada pela análise de dados avançada proporcionada pela Inteligência Artificial. Dessa forma, os trabalhadores mais velhos podem também se tornar líderes que impulsionam a inovação e a mudança cultural dentro das organizações de forma mais assertiva.
Portanto, arrisco dizer que a transformação que estamos testemunhando não se trata apenas de avanços tecnológicos. Na verdade, a IA abre caminho para oportunidades de trabalho únicas que exigem habilidades humanas complexas de comunicação assertiva. Mais do que nunca, gestores devem estar aptos a motivar suas equipes, compreender o impacto da automação e estar atentos às inovações, apresentando-as e absorvendo-as não como obstáculos, mas como catalisadoras para o aumento da produtividade.
Por meio da IA, uma infinidade de possibilidades profissionais se abre, atraindo perspectivas repletas de potencial por meio de requalificação e adaptação, até porque, obviamente, a evolução não favorece a estagnação. E é exatamente por isso que adotar a Inteligência Artificial não significa dizer adeus aos empregos, mas, sim, transformá-los para aumentar a eficiência e as oportunidades de inovação.
A inteligência artificial está remodelando, sim, o ambiente de trabalho e exigindo uma adaptação contínua dos profissionais e das organizações. De todo modo, para se manterem competitivas, as empresas precisam não apenas adotar tais tecnologias, mas também desenvolver uma cultura que valorize a inovação e a comunicação eficaz. Profissionais, por sua vez, devem buscar continuamente o aprimoramento de suas habilidades para prosperar neste novo cenário.
Até mesmo porque, embora a tecnologia seja o motor dessa transformação no trabalho, o verdadeiro diferencial competitivo está e sempre estará nas pessoas. É fundamental reconhecer que, no final das contas, a IA tem muito mais a ver com pessoas do que com a própria tecnologia. A habilidade humana para implementar, comunicar, colaborar, liderar e inovar continua sendo insubstituível para complementar e maximizar o potencial da Inteligência Artificial.
O cenário que se desenrola não é apenas sobre a tecnologia assumindo o controle. Ele reflete uma transformação complexa na força de trabalho. É aí que entram em ação os programas de treinamento direcionados – elaborados meticulosamente para que os profissionais possam identificar o que exatamente precisa ser aprimorado em suas habilidades para avançar profissionalmente.
Afinal, quando falamos do futuro do trabalho, não se trata de máquinas versus humanos, mas, sim, de humanos se aproveitando das vantagens das máquinas. A verdadeira essência da IA no ambiente corporativo reside na sua capacidade de potencializar as habilidades humanas. A comunicação, a colaboração, a liderança e a inovação são características inerentes às pessoas que a tecnologia ainda não substitui.
Em vez disso, a IA serve como uma ferramenta poderosa que, quando usada de maneira estratégica e ética, amplifica essas habilidades. Portanto, enquanto avançamos nesta nova era, o foco deve estar no desenvolvimento contínuo das habilidades humanas, que são essenciais para complementar e maximizar o potencial da IA. As empresas que entenderem essa dinâmica estarão mais bem posicionadas para prosperar em um mercado global em constante evolução.