Segundo levantamento da consultoria Mercer, 43% dos brasileiros buscam empregos com flexibilidade de horários e empresas que trabalham no modelo híbrido ou remoto
Henrique Driessen é arquiteto, fundador e, atualmente, CGO da Elephant Skin, empresa de criações para o mercado imobiliário com operações em 40 países
Os profissionais passaram a buscar empresas que oferecem mais flexibilidade de horários para fazer sua própria gestão do tempo e ter liberdade em relação ao desenvolvimento da própria carreira. É o que aponta o Estudo Global de Tendências de Talentos, feito pela Consultoria Mercer. A sétima edição da pesquisa entrevistou 11 mil executivos, líderes de RH e colaboradores de 16 países e 13 indústrias. Segundo o estudo, 43% dos brasileiros procuram por empresas que trabalham de modo remoto ou híbrido e que tenham um modelo organizacional baseado na flexibilidade. No mundo, a pesquisa apontou que o número é ainda maior: 60% buscam os horários de trabalho mais flexíveis.
Os grandes talentos do mercado estão deixando as organizações que exigem uma rotina cansativa e extensa de trabalho e passaram a procurar oportunidades com mais liberdade, autonomia e flexibilidade. A ideia é fazer a sua própria gestão do tempo, podendo decidir em quais horários irá se dedicar realmente ao trabalho e em que momento irá resolver problemas pessoais, cuidar da família, espairecer, viajar, descansar.
Portanto, não estamos falando de uma gestão do tempo em oito ou nove horas de trabalho, com determinação de horários. O ponto é gerir, em 24 horas, em quais momentos irá se dedicar à profissão e vida pessoal.
Essa é a nova tendência no mercado de trabalho. Hoje, os profissionais buscam oportunidades em empresas que confiam em seu potencial e permitem que eles façam sua própria gestão do tempo. São as empresas que precisam se preocupar em entregar um ambiente de trabalho saudável e com mais liberdade para atrair os verdadeiros talentos e, consequentemente, fazer a organização crescer.
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Esse tipo de gestão organizacional foi implementado desde a fundação da Elephant Skin, empresa global de criação para o mercado imobiliário que fundei em 2017. Já estamos atraindo diversos talentos no mercado de trabalho por conta do modelo de gestão e a cultura criada na empresa. Em apenas cinco anos, a companhia saiu de dois para mais de 100 colaboradores em 30 cidades do mundo e apresentou um crescimento exponencial. Somente em 2021, a expansão foi de 150%. O movimento está muito relacionado ao fato de os colaboradores poderem fazer seus próprios horários, tirar férias no momento em que desejarem, acordando apenas com o time. Não existem períodos específicos ou limite de tempo que a pessoa irá descansar. São eles quem decidem e realizam a sua própria gestão.
A essência é liberdade com responsabilidade. Cada time o que precisa entregar e tem a flexibilidade de desenvolver de acordo com a sua rotina e horário. Não existem quantidades de horas a serem cumpridas e vemos o quanto isso impacta no desempenho, resultados dos trabalhos e também no índice de felicidade dos nossos times.
Ter controle em relação aos momentos vividos na carreira profissional são requisitos importantes para os grandes talentos do mercado. Esses pontos levam os colaboradores a pensarem sobre a mudança de emprego ou a pedir demissão. Segundo um levantamento do Linkedin, cerca de 30% dos entrevistados afirmaram que deixaram o emprego por falta de políticas mais flexíveis no último ano e quase 40% consideraram essa possibilidade.
Isso significa que as pessoas buscam oportunidades em que possam ser livres para trabalhar, mas também ter a autonomia de cuidar da vida pessoal. A ideia é que elas se sintam donas dos próprios projetos e façam o trabalho no momento em que acharem oportuno.
Essa relação se fortalece quando percebemos que o índice de produtividade aumenta em organizações que trabalham nesse formato. Isso porque ao se sentir livre para realizar o trabalho a qualquer hora, o colaborador se organiza da melhor maneira para conciliar a vida pessoal e profissional. Essa relação de confiança faz com que eles se sintam realmente parte da empresa e acabam se dedicando ainda mais ao trabalho, sem perder os momentos felizes de lazer e distrair a mente.
Mas, em um mundo com explosões de casos de burnout e o sentimento de que deve estar sempre conectado, é preciso ficar atento à forma como gerencia esse tempo. Na Elephant Skin, criamos uma cultura diferente. Sempre lembramos nossos colaboradores que eles não devem estar o tempo todo disponíveis. O objetivo é que todos consigam organizar seu tempo para entregar os projetos muito bem feitos e dentro do prazo necessário.
Por isso, é importante que as próprias empresas invistam nas interações sociais entre as pessoas e nos momentos de jogar conversa fora para esquecer do trabalho. Na Elephant Skin,os times têm a liberdade de se organizarem e não trabalharem na sexta-feira, por exemplo. Isso não é uma regra, mas, é importante para que eles entendam que precisam descansar, trabalhar com o que gostam e serem felizes por aqui.
Outras ações que realizamos para que as pessoas se desliguem um pouco dos projetos, são pequenas reuniões de bate papo sobre qualquer assunto. A ideia é realmente que todos se conheçam melhor, joguem conversa fora e esqueçam das demandas. Para aproximar ainda mais a nossa plataforma de pessoas talentosas, decidimos abrir uma nova sede em Curitiba, no Paraná.
A sede está longe de ser construída para o trabalho. O objetivo é que funcione como um terceiro espaço, para reunir os times, conversar, fazer workshops, distrair a mente ou organizar eventos. Chamamos o espaço de Hubes, para que seja realmente um local onde as pessoas possam se conectar e inovar. Fizemos, inclusive, um pub no local para ser um espaço informal, de confraternização e interação.
A gestão do tempo com mais flexibilidade e autonomia representa o futuro do trabalho segundo líderes de RH ouvidos nas grandes pesquisas de mercado. Empresas que trabalham neste modelo apresentam expansão mais rápida e possuem times mais focados, felizes e com alta produtividade. De agora em diante, as companhias precisam pensar em modelos mais flexíveis de trabalho caso queiram atrair talentos.