Sem negligenciar a tristeza, a dificuldade e a seriedade do momento em que vivemos com essa pandemia global, Covid-19, temos que reconhecer que as transformações enquanto humanidade serão inevitáveis. O desafio de mudar nossos trabalhos de endereço e adotar o home office como saída trouxe uma reflexão incontestável: em home office o que importa é a entrega.]
Não há como negar que nesse período, o maior dos ensinamentos no mundo corporativo tem sido a inclusão de fato. O home office tem conseguido fazer de cada funcionário uma real e importante força de trabalho. Essa força tem sido muito mais relevante que qualquer deficiência, gênero, opção sexual, religião etc. Esse formato nos “igualou” como profissionais. Nos incluiu.
Quantos investimentos e esforços foram necessários para tentar convencer as empresas que o importante é o que o profissional entrega e não o que ele veste, e não o que ele enxerga ou escuta. E não se beija homem ou mulher. E não se a pele é branca ou preta. E, também não importa se para o Deus dele, ele ora ou dança.
As empresas gastaram dinheiro construindo manual de dress code para padronizar desde as vestimentas ao comportamento à mesa, gerando um julgamento que impactava diretamente sobre a performance profissional.
Em 2020, até o começo de março no Brasil, a maioria dos relacionamentos entre ‘empregado e empregador’, ainda utilizava o relógio para controlar a performance do profissional. Por quê todos têm que trabalhar no mesmo horário, causando mais complicações no trânsito entre outras tantas dificuldades? O padrão institucionalizado do ‘horário comercial’, com hora estipulada para entrada, refeições, cafés e saídas, desmantelou a qualidade de vida da maioria das pessoas que trabalha fora.
Eis que chega o COVID-19 e a ordem para que todos entrassem em quarentena e ficassem em casa, por sei lá quanto tempo e, em 15 dias, todos estavam! Que bom! É mesmo o certo a se fazer!
E diante disso, o mundo do trabalho precisou romper com a inflexibilidade do “horário padrão” para contribuir com os efeitos de proliferação desse vírus.
Curiosamente, as empresas que diziam não ter recursos financeiros para montar sequer uma estrutura para um profissional tetraplégico trabalhar em casa, nessa nova realidade tiveram que comprar 100, 200, 1000 notebooks, praticamente da noite para o dia.
Opa! Há uns meses, tentei incluir um profissional cego e a empresa não quis investir R﹩ 5 mil no software para utilizar o computador. Outro dia, alinhei uma vaga com um gestor que se disse aberto para todas as possibilidades, mas o prédio da empresa só tem escada, portanto não poderíamos envolver candidatos cadeirantes no processo.
O ameaçador vírus ‘despertou o ecossistema corporativo’ para uma verdade que, infelizmente, ainda não era prioridade na mentalidade das corporações: o direito à igualdade e à inclusão de fato.
Em meio ao caos, o mercado de trabalho parece estar ‘acordando’ para muitas realidades e demandas de diversidade. A crise humaniza, gera solidariedade, empatia e sentimento de interdependência.
Uma recém pesquisa da McCann Worldgroup, apontou que 47% da população global acredita que o mundo vai mudar após a pandemia do coronavírus. Um estudo feito pelo McCann Truth Central, do mesmo grupo, aponta que para 48% dos brasileiros a melhor coisa que as marcas podem fazer para auxiliar durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus é se preocupar com seus colaboradores. Esse índice é ainda maior em outros países latinos e mesmo globalmente: 71% no Chile, 66% no México, 62% na Colômbia e 61% na Argentina, sendo que a média global é de 59%.
Na sequência, as demais ações que aparecem como importantes são: produzir ventiladores e máscaras; reduzir preços e fazer promoções; ajudar as pessoas a distinguir informações verdadeiras; tornar-se parceiro de governos e, por fim, incentivar as pessoas a espalhar felicidade.
O mesmo levantamento também mostra que um terço da população mundial acredita que CEOs devem fazer sacrifícios pelos seus funcionários. É, parece mesmo que o mundo vai ser outro!
Tenho fé que no pós-pandemia, nenhum gestor terá mais coragem de dizer que não dá certo contratar um profissional com deficiência que precisa trabalhar em casa.
Tenho fé que no pós-pandemia, a qualidade do trabalho que a pessoa entrega, será o que de fato importa.
Tenho fé que no pós-pandemia, valorizaremos mais os encontros, nos preocupando – de fato – com a necessidade do outro.
Tenho fé que no pós-pandemia, compreenderemos mais as diferenças das pessoas, de forma legítima, valorosa e incentivadora.
Tenho fé que no pós-pandemia, entenderemos – de uma vez por todas – que tentar “igualar” as pessoas é desrespeitar as diferenças. Em diversidade, não temos que “normalizar” o que é diferente, temos que destacar, argumentar e compreender o diverso, mesmo que sua forma de ser, pensar e agir, seja conflitante com nossas crenças e verdades.
Por Carolina Ignarra, CEO e fundadora da Talento Incluir