Apesar de o conceito de home office ainda não ser habitual no Brasil, nos últimos meses – devido ao isolamento social causado pela pandemia de coronavírus – muitas empresas aderiram a este formato. Com mais produtividade, menos tempo gasto no trânsito e mais conforto, o trabalho remoto tem atraído cada vez mais empregados e empregadores.
Entretanto, conforme mostra os dados levantados pela Owl Labs que entrevistou 2 mil profissionais que atuam remotamente nos Estados Unidos, a diferença de salário entre gêneros é ainda maior neste formato. Segundo o estudo, homens que trabalham em casa em tempo integral têm 157% mais chances de ganhar um salário anual superior a US$ 100 mil do que as mulheres nas mesmas condições.
Para as brasileiras a diferença salarial atinge todas as áreas. De acordo com um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres ganham menos do que os homens em todas as ocupações selecionadas na pesquisa. Mesmo com uma queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país.
No trabalho remoto a situação não é diferente. De acordo com o portal de freelancers Workana, analisando a remuneração mensal de homens e mulheres freelancers, apenas 25% das mulheres ganham entre R$1.500 e R$3.000, enquanto 30% dos homens ganham em média este valor; e 16% dos homens ganham mais de R$4.000, enquanto apenas 8% das mulheres chegam a ganhar este valor mensalmente. O número é ainda mais impressionante quando levado em consideração que 52% das pessoas cadastradas no portal são mulheres.
As editoras do UniversoDelas acreditam que os dados são reflexos da herança machista e da entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho. Para eles, a luta das mulheres por condições igualitárias está longe de acabar, afinal, muitas empresas ainda possuem uma cultura ultrapassada e acreditam que elas terão menos disponibilidade para o trabalho por causa da casa e da família.
Apesar do cenário para o trabalho remoto não ser muito convidativo para as mulheres após a divulgação do estudo estadunidense, pesquisas apontam crescimento do home office no Brasil pós-pandemia. De acordo com André Micelli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência dos Negócios Digitais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autor do estudo intitulado “Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios”, o trabalho remoto já havia crescido dezesseis pontos percentuais entre 2017 e 2018 no país.
Para o pesquisador, após o período de isolamento, muitas empresas devem investir ainda mais neste formato já que puderam constatar uma maior produtividade dos trabalhadores. Essa melhora na produtividade tem explicações simples. O trabalhador evita o estresse no trânsito, não perde tempo no deslocamento e ainda consegue organizar melhor sua rotina conseguindo ter mais horas de lazer.