Em tempos de crise, as empresas frequentemente suspendem seus compromissos com causas de responsabilidade social, tais como apoiar trabalhadores com deficiência, para focar questões mais urgentes. Mas, para sair e se recuperar da atual pandemia global, as organizações precisarão dar início a esses esforços o mais rapidamente possível.
Isso porque as pessoas com deficiência na América Latina, estimadas em 85 milhões, representam um grande e rico banco de talentos, relativamente subaproveitado, para impulsionar o tipo de inovação que será necessário para competir na economia pós-covid. Trata-se de pessoas que, apesar da percepção de serem menos capazes, muitas vezes têm alto nível educacional e estão ávidas e prontas para fazer diferença. De fato, pesquisas mostram que as empresas costumam superar as concorrentes e conquistar mais benefícios financeiros tangíveis quando empregam profissionais com deficiência.
Ainda assim, muitas empresas têm a falsa impressão de que é muito caro empregar pessoas com necessidades especiais; de que terão que investir pesado em reformas no escritório e em melhorias tecnológicas só para recebê-las. No entanto, pesquisas indicam que a maioria dos empregados com deficiência não requer muito, quando requer, em termos de acomodação física. E, comprando computadores, impressoras e dispositivos móveis com a acessibilidade em mente, as empresas podem expandir o escopo de talentos que são capazes de atrair.
Fazer isso é mais fácil do que pode parecer, pois as tecnologias inclusivas avançaram muito em recursos visuais, auditivos, físicos e cognitivos que talvez fossem difíceis de imaginar alguns anos atrás.
Por exemplo, muitos computadores de mesa e laptops modernos são projetados para aproveitar tecnologias assistivas para deficiências visuais no sistema operacional Windows. Recursos como magnificação de tela, transcrição da fala e controles táteis de sensibilidade tornam muito possível que deficientes visuais, cuja experiência do mundo se dá muito por meio do tato e do som, desenvolvam seus trabalhos. Da mesma forma, algumas impressoras lançadas recentemente oferecem uma variedade de comandos por voz, indicações visuais aperfeiçoadas e capacidades de toque de tela para ajudar pessoas com baixa visão a fazer o que precisam com facilidade.
Em termos auditivos, muitos computadores e impressoras modernos também incluem alertas visuais, capacidades de vídeo com linguagem de sinais e controles físicos de volume para ajudar os profissionais com baixa audição. Esses recursos não só ajudam empregados com dificuldades auditivas duradouras, como também são úteis para as dezenas de milhões de profissionais que estão envelhecendo e sofrendo perda auditiva que compõem a força de trabalho latino-americana.
Para funcionários com dificuldades motoras, de força ou físicas, muitos laptops agora oferecem múltiplos modos, inclusive tablet ou tela sensível ao toque, que permitem a customização do dispositivo às necessidades de cada pessoa. Recursos de controle por voz em hardware e software também possibilitam que essas pessoas interajam perfeitamente com seus computadores sem a necessidade de um teclado ou mouse. A evolução dos programas de rastreamento ocular, por sua vez, torna possível controlar funções essenciais do computador com os olhos no lugar de um dispositivo periférico.
Questões cognitivas também começam a ser consideradas em computadores e impressoras. Por exemplo, muitos PCs e impressoras hoje são projetados para serem o mais fáceis de usar. Isso significa instruções com linguagem e pictografia escritas para o nível de desenvolvimento de escrita do 8º ano. Eles vêm com uma variedade de recursos de leitura em voz alta, bem como oportunidades de aprendizagem e descoberta a partir da realidade aumentada. E alguns são até mesmo otimizados para funcionar com assistentes de voz populares, como Cortana e Assistente Google.
Há muitas medidas que as organizações podem tomar a fim de facilitar o caminho para a contratação de pessoas com deficiência. O início de tudo é ter um compromisso claro de fazer isso, antes de mais nada – reconhecer que essa força de trabalho sub-representada oferece às empresas maior diversidade em termos de pontos fortes, estilos de liderança e modos de pensar. E é preciso entender que precisam ser apoiadas por investimentos modestos em configuração espacial e infraestrutura tecnológica.
As companhias também devem reconhecer que, como afirma a Organização Mundial da Saúde (OMS), “quase todo mundo terá uma deficiência temporária ou permanente em algum momento da vida, e quem sobreviver à velhice terá dificuldades funcionais crescentes”.
Portanto, cabe a todos nós examinar nossos índices de diversidade e inclusão e garantir que tenhamos programas efetivos implementados para integrar completamente as pessoas com deficiência em nossas forças de trabalho – agora e no futuro.
Por Marcos Razón, vice presidente e diretor da HP na América Latina