Dentre as diversas coisas que já mudaram com a pandemia da COVID-19, o que mais tem chamado atenção é a aceleração da transformação digital e a preocupação genuína com estratégias que beneficiem o ativo mais precioso de uma empresa: as pessoas.
Essa foi a principal percepção extraída do Ahgora Talks, evento online que reuniu CEOs e grandes líderes de empresas com foco em tecnologias para RH a fim de trazer insights sobre a revolução na forma de trabalhar a gestão de pessoas e como desenhar o “novo normal”.
De acordo com Lázaro Malta, CEO da Ahgora, especializada em tecnologia para gestão de pessoas e idealizadora do evento, a área de recursos humanos é a que mais vem passando por transformações nos últimos anos. “Mais do que o tradicional pacote de benefícios, as empresas têm investido na relação com os colaboradores como estratégia para produzir mais e melhor, contratar e reter talentos e disseminar sua cultura interna e externamente”, afirma.
Para ajudar as empresas nesta missão estão as HR Techs. Em resumo, elas desenvolvem tecnologias para desenvolver a área de Recursos Humanos. Para isso, apresentam diferentes soluções para aprimorar os processos de RH promovendo uma evolução na maneira como empresas e colaboradores se relacionam. Tudo para aumentar a eficiência e aperfeiçoar a gestão, com qualidade de vida para todos os envolvidos. Segundo um relatório produzido pelo centro de inovação Distrito, o Brasil já conta, hoje, com 373 empresas voltadas para a área de recursos humanos. Do total, 85,2% surgiram há menos de 10 anos.
Durante o evento, algumas dessas HR Techs mostraram o que tem sido feito para aproximar e estreitar a relação entre colaborador e empresa, seja trabalhando para aumentar sua satisfação, cuidando ainda mais do seu bem-estar, aprimorando o seu desenvolvimento através do aprendizado ou com novas estratégias de desempenho.
Cuidado com a saúde e bem-estar
Em tempos de pandemia, o tema mais relevante é a saúde dos colaboradores. O questionamento feito é: qual é o papel da empresa no bem-estar físico e mental de seus colaboradores? Segundo Bruno Rodrigues, CEO da GoGood, especializada em tecnologia e bem-estar corporativo, o mundo vive uma transformação na gestão de pessoas, na qual a saúde corporativa é a inovação disruptiva no RH. “Este é um dos principais fatores que contribuem na melhora do desempenho e dos resultados”, explica.
Uma pesquisa da empresa detectou que, com a pandemia, houve um aumento da ansiedade e diminuição da felicidade entre os colaboradores, pessoas com mais síndrome de burnout e depressão. Isso causou perda de produtividade e engajamento. “Felicidade e saúde mental são os fatores primordiais para a produtividade dos colaboradores, e isso vem sendo impactado pela quarentena. Engajar as pessoas à distância e em um cenário de crise se torna ainda mais desafiador”, afirma Bruno.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), problemas com a saúde acontecem muito antes da chegada ao hospital. Cerca de 47% das pessoas são sedentárias, 25% tem algum transtorno mental e 77% se alimentam mal. “Isso, com a pandemia, tende a aumentar. Por isso é preciso investir em ações que estimulem o um cuidado ainda maior com o corpo e a mente antes que possíveis doenças se desenvolvam ”, destaca o CEO da GoGood.
Bruno reforça que investir no bem-estar não é uma novidade quando se considera o panorama mundial. Nos Estados Unidos, mais de 54% das empresas têm estratégias específicas para a saúde corporativa. A Johnson & Johnson é uma que tem projetos nesta área há mais de 30 anos. Já no Brasil este número não passa de 5%. “O resto do mundo já percebeu que é bem mais lucrativo prevenir do que gerenciar problemas futuros”, destaca.
Estudos da Willis Towers Watson revelam que o custo de saúde corporativa no Brasil vai aumentar 2,5 vezes até 2030. “Ou seja, ter somente o plano de saúde no pacote de benefícios oferecidos pela empresa não será mais o suficiente. Se a empresa não cuidar do bem-estar do colaborador terá prejuízos altos”, explica.
Investimento em aprendizado: motivação e engajamento
Uma vez que a saúde do colaborador está garantida, é a vez de olhar para o processo de aprendizado. Com o avanço da tecnologia e a “nova realidade” pós-pandemia, uma das vantagens mais competitivas das empresas será o aprendizado ágil dos colaboradores. Segundo Camilla Zerlotti, Business Development Manager na Enlizt; e Ana Elisa Althoff, especialista em experiência do usuário DOT Digital Group, o conhecimento é uma via de mão dupla. “Não só as empresas devem estimular e investir no aprimoramento de conhecimento de seus profissionais, mas estes também devem focar em como podem oferecer um valor diferenciado para seus empregadores, aproveitando e não competindo com a tecnologia. Diferente do passado, hoje o foco é no conceito de Lifelong Learning, no qual trabalhamos para aprender inúmeras habilidades e seguir diversas carreiras”, afirma Camila.
“Trabalhadores de todos os setores precisam descobrir como podem se adaptar às mudanças rápidas das condições de trabalho, e as empresas precisam aprender a associar esses trabalhadores a novos papéis e atividades”, reforça Ana Althoff. De acordo com a especialista da DOT, este conhecimento acumulado pela empresa, na forma de experiência e qualificação dos seus profissionais é que vão dar a vantagem competitiva no “novo normal”.
É consenso que todos esses investimentos vão gerar mais motivação, engajamento e, consequentemente, melhorar o desempenho e o resultado dos colaboradores. Segundo João Romão, CEO da Mobiliza, especializada em treinamento online, um dos fatores essenciais e que influenciam para que a aprendizagem gere transformação é se a pessoa tem a competência e as ferramentas necessárias para alcançar determinado objetivo. O outro, e ainda mais importante, é se a pessoa quer trilhar esse caminho. “Precisa haver um motivo para a ação e persistência, pois a aprendizagem não ocorre em um evento único. Requer recorrência e intensidade”, explica Romão.
Bruno Soares, CEO da Feedz, plataforma voltada para o engajamento de colaboradores, o desempenho nada mais é do que uma equação entre motivação versus habilidade, dividido pela interferência (ou tudo aquilo que não gera valor para o negócio). “Para ter um time engajado é preciso deixar pra trás processos antigos, como reuniões que poderiam ser e-mails, ou e-mails que poderiam ser um bate-papo via chat. É preciso que todos saibam e se encantem com o seu propósito, que saibam o porquê do que estão fazendo”, pontua.
Para Lázaro Malta, CEO da Ahgora, o evento trouxe um ponto principal de reflexão – é preciso olhar e ouvir o colaborador, suas necessidades, anseios, e investir no seu desenvolvimento. “O ‘novo normal’ requer que todos estejam em sintonia com seus objetivos e metas. Somente assim as engrenagens de qualquer empresa vão funcionar com a agilidade e rapidez que o momento necessita”, finaliza.