Marshall Van Alstyne, Guilherme Telles, Charlene LI e Walter Longo destacam novos modelos de negócios
Marshall Van Alstyne, um dos maiores especialistas do mundo em estratégia de plataforma e modelos de negócios em rede, abriu o HSM Summit Leadership & Innovation 2017 com a informação de que o mundo está sendo dominado por empresas com modelos de negócios de plataforma e que o foco é criar comunidades e não produtos ou serviços.
O executivo cita Netflix, Uber e Airbnb como exemplos de empresas bem-sucedidas que criaram uma interatividade, ou seja, um ecossistema que conversa entre si e que são aplicados em uma plataforma dinâmica, que possibilita a intervenção dos usuários. “Em qualquer mercado com efeitos de rede, o foco da atenção tem que acontecer de dentro para fora da empresa. É necessário ouvir os usuários para que a transformação aconteça”, comenta o especialista.
O modelo de negócio não pode mais ser engessado, a plataforma é um sistema que se adapta a vários nichos, sem fronteiras e limites, inclusive, os concorrentes podem acabar sendo complementadores da plataforma. Marshall menciona que a estratégia também é diferenciada, é necessário criar a interação do produto com o cliente.
Na visão do especialista, a companhia também tem que assumir o risco para o usuário. Como exemplo, ele cita as empresas de cartão de crédito, que transferiam todos os riscos para o cliente. Só depois que elas passaram a assumir o risco é que viram um crescimento na contratação do serviço.
Atualmente, das 30 maiores empresas mundiais, 13 possuem o modelo de negócio mencionado. “Não adianta os produtos serem excepcionais, pois sempre serão superados pelas plataformas. O mundo está mais dinâmico e as empresas de vários setores estão criando disrupções para ter um crescimento exponencial e diferenciado dos concorrentes”, ressalta.
Guilherme Telles, General Manager da Uber iniciou sua apresentação falando sobre o futuro da mobilidade. Segundo o executivo, a melhor solução é a tecnologia que coloca cada vez mais pessoas dentro de cada vez menos carros. “O carro hoje tornou-se o grande vilão dessa mobilidade, e a tecnologia nos ajuda a aproveitar os recursos que temos disponíveis. Fizemos um cálculo de que se você vive a menos de 27km do local de trabalho, vale mais a pena utilizar o Uber. Como exemplo, cito Chicago, onde oferecemos um bônus de US$ 500 para quem enviasse um comprovante de que tinha vendido o carro. Mais de 10 mil pessoas nos enviaram esse documento em poucos meses”.
Os mecanismos citados por Telles que ajudam a gerenciar toda a plataforma da empresa são: preço dinâmico, qualidade do serviço, rapidez no atendimento e confiança que o usuário possui. As pessoas precisam de alternativas confiáveis, porém acessíveis. Um exemplo foi a criação do Uber Sul, na região de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo, onde a corrida é 50% mais barato que o UberX. “As ruas na região são de terra e as pessoas estavam com dificuldades de chegar até o ponto do ônibus. Os motoristas que são da região cobrem o que chamamos de last mile”, comenta Telles.
Charlene Li, uma das 50 pessoas mais influentes do Vale do Silício, começa a tarde com palestra sobre como os líderes utilizam as novas tecnologias para se aproximar de seus clientes e colaboradores. Ela menciona que o verdadeiro líder é aquele que inspira seus seguidores e não o que controla, que obriga e que, atualmente as empresas não estão ouvindo seus clientes. Para ela, a mudança desse cenário só se dará quando a empresa sofrer uma disrupção nos seus modelos de negócios.
Charlene abordou alguns pontos importantes de como criar uma disrupção na empresa: 1) Criação de uma estratégia, onde é necessário olhar para o cliente quase com obsessão; 2) Para liderar essa mudança é necessário que o líder mergulhe cada vez mais no relacionamento com seus funcionários e clientes, que os ouça, que arrume formas de compartilhar seus conhecimento e que esteja aberto a receber informações; 3) Disrupção exige um movimento onde todos estejam engajados e com um mesmo propósito, principalmente o líder. Um líder engajado é alguém que utiliza estrategicamente ferramentas digitais, móveis e sociais para atingir metas estabelecidas relativas à liderança de pessoas e à gestão de organização; 4) Disrupção exige treinamento, mudança de valores da empresa, e engajamento de todos para atingir o mesmo objetivo, o de alcançar os resultados.
“Crescer é caos e faz parte da disrupção. É necessário sair da zona de conforto, enfrentar as dificuldades e o líder é imprescindível nesse direcionamento. Ele precisa ter confiança, que é adquirida com prática, experiência e principalmente com os erros”, comenta LI.
Finalizando as palestras da terça-feira (16), o atual Presidente-executivo do Grupo Abril, Walter Longo falou dos desafios que enfrentou assim que chegou ao grupo. Ele teve que definir um conjunto de crenças na empresa que guiou sua gestão. “Gestão é a capacidade de saber dividir o nosso tempo sabiamente em pendência e tendência. Temos a tendência de superestimar o que podemos fazer em um ano e subestimar o que poderemos fazer em dez”, comenta.
Longo mencionou ainda que é preciso entender que o mundo digital é uma adição e não uma substituição do impresso, um complementa o outro. Com essa visão, o executivo pensou em formas e novos produtos para revitalizar a companhia. Como exemplo ele cita o mobile view, onde o leitor pode interagir com o digital e o papel entre outros exemplos de produtos e também um dos novos negócios da Abril, que será lançado em breve, o Dynamic Big Data, que cruzará dados + fatos+ conteúdo. “Temos hoje um espaço infinito de mídia, para um conjunto finito de anunciantes, com um número finito de consumidores e um volume finito de recursos e de atenção. Esse é o dilema da esfinge que a Editora Abril tem de decifrar”, ressalta.
Para ele, o importante é que as empresas entendam que precisam virar uma plataforma. “Estamos na era das relações fugazes, num mundo efêmero e mudança é o único estado permanente que encontraremos daqui para frente. Nossa inspiração de hoje é o circo, que não muda só de lugar, mas de cidade e reinventa seus espetáculos em qualquer momento”, conclui.