É comum que ao longo da vida as pessoas muitas vezes tenham que abrir mão de seus sonhos por entrega ao mundo corporativo
“A primeira geração de mulheres executivas de primeiro nível está prestes a se aposentar. Mais vulneráveis que os homens no processo de envelhecimento, muitas temem o que farão após a carreira. Vamos mostrar que essa fase pode representar a expectativa de renascimento, autoconhecimento e novos significados para que construam uma nova história”. Assim Karin Parodi, da Career Center, explica a temática que escolheu abordar no I Fórum de Talentos Grisalhos, um evento Aging Free Fair / FGV para debater o presente e futuro do trabalho dos professionais seniors e sua inserção ou não, e de que maneira, nas empresas.
O Brasil possui a quinta maior população idosa do planeta – com projeção de grande crescimento nos próximos anos. Hoje, é de 14,3% a porcentagem de idosos em nossa pirâmide, número que deve subir para 20% até 2030.
E se considerarmos apenas as pessoas acima de 50 anos temos hoje 54 milhões de brasileiros nesta faixa. São 25% da população, mais do que uma Espanha.
Nos EUA 18.6% das pessoas acima de 65 anos participam da força de trabalho – índice esse que deve crescer para 22% em 2024, segundo Joseph Coughlin, diretor do AgeLab do MIT, autor do livro The Longevity Economy – Unlocking the World’s Fastest Growing, Most Misunderstood Market.
As bruscas mudanças na pirâmide etária brasileira e consequente necessidade de manter a empregabilidade dessa parcela da população por mais tempo, motivaram a Aging Free Fair e a FGV a organizarem o I Fórum de Talentos Grisalhos. O evento apresentará pesquisas relevantes sobre o universo do pré e pós aposentadoria dentro das companhias e promoverá importantes debates com renomados executivos da área de Recursos Humanos sobre diversidade etária e a legítima contribuição desses profissionais mais experientes em equipes multigeracionais.
Quebrando paradigmas
Gustavo Boog, estudioso, consultor e coach de segunda carreira afirma: “É preciso quebrar o paradigma de que porque estou idoso não sirvo para nada. Já está comprovado o aumento da longevidade. Pessoas com 60 anos de idade, podem ter mais 20, 30 anos ou mais de vida útil. Então a pergunta é: o que fazer? Resgatando sonhos e projetos do passado, sentindo-se útil, seja em uma atividade profissional ou voluntária. As possibilidades são inúmeras.” Estas alternativas serão abordadas no painel “Projeto de vida: sonhos e o desafio do tempo”, mediado por Gustavo.
É comum que ao longo da vida as pessoas muitas vezes tenham que abrir mão de seus sonhos de alma por entrega ao mundo corporativo. “Queremos mostrar que é possível fazer esse resgate. Teremos a participação, por exemplo, do Vicente Teixeira, ex-VP global de RH da Bunge e que hoje segue carreira de cantor e compositor. Será uma troca muito rica e inspiradora com certeza”, acrescenta Gustavo que, em breve, lançará o livro “Envelhecer de bem com a vida”, pela Qualitymark.
Karin Parodi também apresentará o modelo Wave, uma vencedora rede de trabalho formada basicamente por ex-executivos seniors, CEOs, presidentes e diretores, que trabalham de forma flexível em grandes e pequenos projetos, sob demanda, de acordos com suas expertises e por que não dizer, desejos.
A mesa mediada por Daniela Diniz, diretora de conteúdo do Great Place to Work, trará empresas que já possuem políticas bem estruturadas para contratação e retenção dos talentos grisalhos.
E aqui a aposentadoria ganha seu melhor contraponto. Edgar Werblowsky, criador do Fórum, é um apóstolo da vida significativa. Para ele a contribuição individual para a sociedade não pode e não deve parar aos 60. Diz ele: “Aposentar é jurássico. Este termo não nos serve mais. Não queremos ficar “no aposento”. O negócio agora é repactuar. Repactuar com a vida”.
Intergeracionalidade
Sócia na Acalântis Executive Search e associada ao Instituto Pandora de Conhecimento, Fran Winandy também participará do I Fórum de Talentos Grisalhos, uma realização Aging Free Fair com a FGV e que conta com o patrocínio da Brasilprev, falando sobre o importante tema do conflito geracional nas organizações.
Segundo ela, as empresas precisam aprender a se preparar para receber os profissionais mais experientes e não apenas contratá-los. “Vivemos hoje um cenário diferente onde você tem várias gerações convivendo juntas no mesmo ambiente de trabalho, muitas vezes em cargos pares, porém sendo tratados da mesma forma. Antes de fazer as contratações, é preciso realizar uma pesquisa sobre o número de funcionários, faixas etárias, expectativas, valores dessas pessoas, análise dos níveis de preconceito e se é necessário algum trabalho focado na diversidade etária, senão não irá dar certo a integração das gerações. Quando existe este cuidado, essa flexibilidade é muito rica e todos têm a ganhar”.
A discussão só começa e vai ganhar muitas vertentes. E cases. Um modelo singular é o da BMW na Alemanha, onde, numa de suas fábricas, Dingolfing, todos os trabalhadores são maduros, 50+.
Criado por Edgar Werblowsky, também curador da Aging Free Fair, o Fórum pretende essencialmente colocar a longevidade dos talentos grisalhos na agenda das empresas. Se por um lado as polêmicas envoltas à reforma da previdência estão pondo os cabelos do Brasil em pé, as oportunidades da inter-geracionalidade dos Cabeças Grisalhas com os Millenials pode trazer inúmeros benefícios às organizações. Entre eles a ampliação do olhar para a grande e universal sociedade onde as pessoas acima de 50 anos já perfazem 25% de todos os brasileiros. Olhar este que é um privilégio dos Talentos Grisalhos, que também ostentam um segundo chapéu: o de Mercado Grisalho. E é fato que é muito mais fácil para um grisalho entender as necessidades e desejos de sua tribo do que para um gerente de 25 anos.
O Fórum, que conta com apoios da ABRH-SP, GPTW e Câmara Alemã, é dirigido a executivos de RH e Pessoas das organizações e também às pessoas que estão se preparando para a grande transição profissional de suas vidas.
O evento acontecerá em 10/4 no teatro da FGV.
Informações e inscrições: www.forumtalentosgrisalhos.com.br