A busca pela equidade de gênero deveria ser uma bandeira de todos. Não se trata de colocar as mulheres à frente dos homens, mas de garantir que elas possam ter oportunidades iguais para alcançar visibilidade e liderança dentro das empresas. Fomentar o empoderamento feminino para que seja uma prática recorrente na sociedade é uma forma de promover a igualdade e evitar que as futuras gerações ainda vivam em um mundo de disparidades gritantes. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as mulheres trabalham cerca de três horas a mais do que os homens por semana – levando em conta os afazeres domésticos -, têm nível de formação mais alto, mas ganham, em média, 76,5% do rendimento dos homens.
É por isso que a pauta sobre ambiente igualitário requer especial atenção por parte das empresas. O departamento de Recursos Humanos é a porta de entrada dessa discussão, pois tem papel fundamental e estratégico na contratação de mulheres. No entanto, de nada adianta contratar para cumprir metas, se a empresa não der oportunidade de crescimento igual para todos.
Pesquisas para detectar o entrosamento das equipes e o nível de informação sobre assuntos ligados a gênero e inclusão, assim como palestras de conscientização direcionadas aos colaboradores são ações importantes para implementar mudanças culturais. É necessário abrir espaço para o diálogo e abordar temas sensíveis como preconceito, respeito às mulheres, assédio e violência. Além disso, a tarefa de transformar a empresa num ambiente inclusivo deve envolver toda a liderança, pois a mudança só acontece quando os líderes se engajam de forma genuína e as ações estão conectadas com o propósito e a estratégia da organização.
No dia a dia das empresas, as ações mais bem-sucedidas são aquelas que, mesmo simples, são planejadas a partir de dados concretos, executadas com responsabilidade e comprometidas com o propósito real de mudar uma realidade desafiadora: mulheres que ganham salários menores do que os homens, mesmo cumprindo as mesmas funções, situações de assédio moral e sexual, violência contra a mulher, relacionamentos abusivos, entre outros. E, quanto mais se discute sobre esses assuntos, compartilhando informações e mostrando alternativas e soluções, mais próximos chegamos de desconstruir essa cultura.
No ambiente de trabalho, é ainda fundamental que as mulheres tenham espaço para crescer profissionalmente. Só assim será possível aumentar a participação feminina em cargos de chefia e reter talentos na empresa. Trabalhar a cultura da organização para abrir espaço ao diálogo e ao apoio a essas mulheres é um comportamento que deve ser estabelecido e normalizado pois o grande desafio não é apenas contratá-las, mas sim conseguir mantê-las, e fazer com que essas mulheres se sintam confortáveis em continuar na empresa, percebendo que têm oportunidades para se desenvolverem em um ambiente onde são valorizadas.
O processo requer vontade de mudar, planejamento, investimento e o envolvimento de toda a empresa. Vencer preconceitos de décadas e pavimentar uma nova trajetória não é rápido, mas é importante começar a se envolver com o assunto. Este é um trabalho árduo que está apenas começando, mas precisa ser feito para que as próximas gerações colham os frutos.
As mudanças que começam nas empresas podem virar ações que estimulam mudanças em outras esferas, contribuindo para transformações na sociedade, impactando não somente a vida dessas mulheres no ambiente corporativo, mas também fora dele.
Gisele Cristina Martins Soares é formada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina com pós-graduação em Administração em Recursos Humanos pela FAAP e MBA em Recursos Humanos pela FIA. Atualmente, é Gerente de Recursos Humanos da Owens Illinois, líder mundial na fabricação de embalagens de vidro.